06/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC9.17 - Diálogos sobre a gestão de políticas de saúde do idoso, saúde mental e promoção da saúde |
51424 - CONSTRUÇÃO DE AGENDA DE SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMARIA: CONTRIBUIÇÃO DA OFICINA DE ANÁLISE DE SITUAÇÃO DO TERRITÓRIO KERLEY MENEZES SILVA PRATA - UECE, AMANDA ROBERTA FONSÊCA DO NASCIMENTO - UECE, LETÍCIA MAIA VASCONCELOS - SMS CAUCAIA, RAÍSSA MARIA SARAIVA LEÃO CÂMARA TELES - SMS CAUCAIA, FRANCISCA CLÁUDIA MONTEIRO ALMEIDA - UECE, ANA CRISTINA SILVA DE MIRANDA - UECE, KARLA AGUIAR CABRAL CUNHA - UECE, LEVY SOMBRA DE OLIVEIRA BARCELOS - UECE, FRANCISCO DIONES ARAÚJO RODRIGUES - UECE, JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE
Contextualização Tendo em vista o impacto e a prevalência dos Transtornos Mentais Comuns na Atenção Primária de Saúde, a lacuna entre a demanda e a oferta de serviços de atenção à saúde têm recebido pouca atenção por parte das políticas públicas, e, consequentemente, do sistema de saúde. Ademais, a integração entre saúde mental e atenção primária de saúde (APS) explicita desafios operacionais, que, se ajustados, podem reduzir custos e otimizar a atenção à saúde mental na rede de atenção à saúde (MAKYAMA et al.,2023). Costa (2006) aponta que a definição de ‘‘problema de Saúde Pública’’ é ampla, mas está relacionada a elementos como: anos potenciais de vida perdido, dor, desconforto, impacto na família, impacto na sociedade e potencial epidêmico. Diante de uma miríade de problemas de saúde, em um território dinâmico, a seleção do problema prioritário de saúde pode ser estabelecida mediante auxílio da matriz GUT. O objetivo desta ferramenta gerencial consiste em priorizar as ações de maneira assertiva, levando em consideração a Gravidade, a Urgência e a Tendência do fenômeno, critérios a partir dos quais provêm a sigla “GUT” (KEPNER e TREGOE, 1981).
Descrição da Experiência Trata-se de um relato de experiência sobre uma Oficina de identificação de Problemas prioritários em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde localizada na região metropolitana de Fortaleza. A UAPS tem duas equipes de saúde da família,10 agentes comunitários de saúde, uma equipe de saúde bucal. A área de abrangência do serviço compõe cerca de 12.000 habitantes segundo a Territorialização realizada em 2017. Participaram do momento 16 participantes (médicas, enfermeiras, técnica de enfermagem, técnica de saúde bucal, agentes comunitários de saúde). A oficina foi uma proposta de atividade de dispersão da disciplina introdutória do doutorado profissional em saúde da família. Após apresentação da matriz GUT, o grupo foi dividido em duas salas com 6 participantes coordenados por uma médica de saúde da família.
Objetivo e período de Realização Identificar prioridades de problemas a partir da Matriz GUT e refletir sobre propostas de intervenção na realidade do território. O encontro foi realizado no corredor central do serviço de saúde em maio de 2024.
Resultados Os resultados foram apresentados por equipe e foram elencados 5 problemas nessa sequência: Vulnerabilidade Social (60% da área de abrangência da UAPS), Saúde Mental (alta prevalência de casos de Ansiedade e Depressão), as Comorbidades (Hipertensão de Diabetes), Transtorno do Espectro do Autismo e a Saúde da mulher. Estes dados corroboram o que havia sido encontrado antes na literatura, no que se refere aos múltiplos fatores sociais, psicológicos e biológicos que determinam o nível de saúde mental das pessoas, dentre eles indicadores de pobreza, incluindo baixos níveis de escolaridade (ZANARDO, VENTURA e CONSULE, 2021). Outrossim, no Brasil, o acesso ao tratamento é muito baixo e os mais vulneráveis têm menor probabilidade de receber atendimento para depressão. O enfrentamento dessa importante iniquidade em saúde requer uma série de ações e políticas públicas voltadas à superação de barreiras ao acesso à atenção em saúde mental (LOPES et al., 2016). A construção da matriz GUT permitiu discutir sobre os determinantes sociais, o contexto, a realidade e das condições de vida da comunidade, assim como pensar a diferença sobre necessidades e demandas de saúde.
Aprendizado e Análise Crítica A governança gerencial de coletivos, a partir da co-construção de prioridades assume como pressuposto a construção da democracia organizacional e representa espaços onde os diagnósticos são construídos, as prioridades são estabelecidas e os desenhos dos planos de ação são elaborados, mediante a identificação e hierarquização de problemas (CUNHA e CAMPOS, 2010). Por meio da experiência relatada, percebe-se o delineamento da co-gestão, método de gestão do trabalho que aumenta a capacidade de análise e intervenção dos coletivos. A Oficina possibilitou validar na agenda do serviço que cada equipe tivesse um dia na semana com o horário protegido tanto no período da manhã como no período da tarde para atendimentos as pessoas em sofrimento psíquico, garantindo assim, o direito do sujeito que sofre de ser atendido no território onde reside. Esse fator possui relevância na garantia da integralidade do cuidado, na longitudinalidade e diminui as iniquidades sociais. Desse modo, a impotência revelada pela não governabilidade de resolver o problema da vulnerabilidade social possibilitou o olhar mais sensível acerca da reorganização do serviço com o fito de inserir a consulta de saúde mental nas agendas para além da renovação de receita.
Referências COSTA, J. S. D. DA.; VICTORA, C. G.. O que é "um problema de saúde pública"? Revista Brasileira de Epidemiologia, v.9, n. 1, p. 144–146, mar. 2006.
CUNHA,G.T.; CAMPOS, G.W.S.Método Paidéia para co-gestão de coletivos organizados para o trabalho.ORG&DEMO,Marília,v.11,n.1,p.31-46,jan./jun., 2010.
KEPNER, C. H.; TREGOE, Benjamin B. O administrador racional. São Paulo: Atlas, 1981.
LOPES, C. S. et al. Inequities in access to depression treatment: results of the Brazilian National Health Survey – PNS.International Journal for Equity in Health, [S. l.], v. 15, p. 154-161, Nov. 2016.
MAKIYAMA. M.Práticas de saúde mental na atenção básica sob a ótica dos profissionais gestores. Revista Baiana de Enfermagem, [S. l.], v. 37, 2023.
ZANARDO, A. B. R.; VENTURA, C. A.A.; CONSULE R. DE. C. Vulnerabilidade social e transtornos mentais.Textos & Contextos. Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 1-31, jan.-dez. 2021.
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