Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC9.17 - Diálogos sobre a gestão de políticas de saúde do idoso, saúde mental e promoção da saúde

50427 - IMPLEMENTAÇÃO DAS CIDADES AMIGAS DO IDOSO: MODELO PARA ESTRATIFICAÇÃO DE CIDADES COM BASE EM INDICADORES CONTEXTUAIS
CLAUDIA FLEMMING COLUSSI - UFSC, JOSELI MACEDO - UNIVERSITY OF CALGARY, DANIELA ALBA NICKEL - UFSC


Apresentação/Introdução
Sabe-se que a população de 65 anos ou mais tem crescido mais rapidamente do que qualquer outro grupo etário, exigindo políticas públicas e investimentos de diversos setores para fornecer condições para um envelhecimento saudável e ativo. O projeto Cidades Amigas do Idoso, da Organização Mundial da Saúde, criou em 2006 um guia para as cidades implementarem medidas em 8 domínios estratégicos. Globalmente, as diferentes experiências de implementação têm sido investigadas. Entre os desafios, destacam-se iniciativas de pequena escala que dependem de esforços voluntários, falta de liderança, de apoio político, de recursos financeiros, e de sustentabilidade. O programa falha em incorporar a noção de direitos dos cidadãos, transferindo a responsabilidade política para governos locais, mobilizando organizações não governamentais para desenvolver ações locais, em vez de enfrentar os desafios que as macro políticas exigem. Fatores contextuais também podem influenciar a capacidade das cidades se tornarem amigas do idoso, e esses ainda são pouco abordados nos estudos. Uma experiência bem-sucedida de implementação em uma cidade pode não produzir os mesmos resultados em outra com um contexto distinto. A comparação e o compartilhamento de experiências entre cidades com contextos mais semelhantes podem estimular e orientar ações por meio de exemplos mais próximos de suas realidades.

Objetivos
Identificar municípios mais ou menos favoráveis para a implantação das Cidades Amigas do Idoso e estratificá-los em grupos de municípios de contextos semelhantes, de modo que possam compartilhar as experiências de implantação das Cidades Amigas do Idoso.

Metodologia
Estudo avaliativo quantitativo com o desenvolvimento e aplicação de um modelo para estratificação de municípios de acordo com o contexto para a implantação das Cidades Amigas do Idoso: Altamente desfavorável , Desfavorável, Ligeiramente favorável e Favorável. O modelo é composto por duas dimensões: Determinantes Estruturais e Determinantes Intermediários. As 29 variáveis inicialmente selecionadas de acordo com o referencial teórico foram submetidas a uma análise fatorial, sendo reduzidas a 18 variáveis. Os municípios avaliados foram municípios brasileiros classificados como "urbanos" (n=2202) pelo IBGE, e os dados foram coletados em agosto de 2023. Antes da agregação dos dados, foi necessária a normalização. O indicador composto final foi a média ponderada das duas dimensões, onde os Determinantes Estruturais assumiram peso 2. O ponto de corte para os estratos foi determinado pela distribuição quartílica dos valores dos municípios no indicador composto final. Os indicadores compostos finais obtidos para cada estrato foram comparados entre si pelo teste ANOVA unidirecional (p<0,05), precedido pela verificação da normalidade dos dados usando o teste de Kolmogorov-Smirnov.

Resultados e Discussão
As cidades urbanas brasileiras tinham, em média, 15% de sua população com 65 anos ou mais. O índice de Gini variou de 0,28 a 0,81. A proporção de indivíduos idosos que ganham até meio salário mínimo variou de 0,35% a 95,37%, enquanto a taxa de analfabetismo variou de 2 a 78%. A subdimensão dos Determinantes Estruturais exibiu uma média mais baixa em comparação com os Determinantes Intermediários, com uma diferença estatisticamente significativa (p< 0,05). Entre os Determinantes Intermediários, o indicador com a média mais alta foi Segurança, enquanto a média mais baixa foi Habitação. No âmbito dos determinantes estruturais, o indicador de Renda exibiu a média mais favorável, enquanto o indicador de Gênero exibiu a menos favorável. Em relação às macro-regiões, a região Norte, caracterizada pelas condições socioeconômicas mais adversas do país, está desprovida de cidades classificadas como Ligeiramente favoráveis ou Favoráveis. Em contraste, a região Sul possuía aproximadamente 90% de suas cidades classificadas sob essas duas categorias. Estudos têm demonstrado que uma maior proporção de residentes com 65 anos ou mais favorece a implantação das Cidades Amigas do Idoso, uma vez que a população jovem pode não priorizar as necessidades de saúde dos idosos. Observou-se que municípios menores exibiram uma proporção maior de resultados favoráveis e ligeiramente favoráveis, ainda que o modelo tenha medidas que favorecem municípios maiores, como a presença de equipamentos de diagnóstico por imagem e tomografia computadorizada. Os resultados deste estudo, nos quais os municípios se saíram melhor nos determinantes intermediários, reforçam que as políticas não são direcionadas para melhorar os determinantes estruturais.

Conclusões/Considerações finais
A estratificação de cidades com contextos semelhantes para a implementação de Cidades Amigas do Idoso pode facilitar a troca de experiências, particularmente a criação de guias que não sejam tão genéricos quanto os da OMS e que incluam exemplos práticos de programas e ações que contextualizem a proposta em um campo mais prático do que teórico. Além disso, os resultados da aplicação deste modelo permitem a identificação de fatores que requerem maior atenção dos tomadores de decisão. No contexto brasileiro, eles indicam a necessidade de políticas voltadas para a melhoria das condições de vida dos idosos, especialmente aquelas relacionadas à moradia.

Referências
World Health Organization (WHO). Global Age-Friendly Cities: A Guide, World Health Organization, Geneva, Switzerland, 2007.
World Health Organization (WHO). 10 priorities towards a decade of healthy ageing. Geneva, Switzerland: WHO, 2017.
Hong, A., Welch-Stockton, J., Kim, J. Y., Canham, S. L., Greer, V., &Sorweid, M. (2023). Age-Friendly Community Interventions for Health and Social Outcomes: A Scoping Review. International Journal of Environmental Research and Public Health, 20(3), 2554.
Joy M. Neoliberal rationality and the age friendly cities and communities program: Reflections on the Toronto case. Cities, London. 2021; 108(102982). doi:10.1016/j.cities.2020.102982

Fonte(s) de financiamento: CAPES-PRINT/UFSC


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