53027 - “TRABALHADORES INVISÍVEIS”: CONDIÇÕES DE TRABALHO E SITUAÇÃO DE SAÚDE DE UMA GARI DE VARRIÇÃO RAFAEL BEZERRA DUARTE - UECE, BRUNA OLIVEIRA LIMA - UNIVS, KERMA MÁRCIA DE FREITAS - ESTÁCIO-IDOMED, JOÃO PAULO XAVIER SILVA - UNIVS, LEIDY DAYANE PAIVA DE ABREU - UECE, MIRNA NEYARA ALEXANDRE DE SÁ BARRETO MARINHO - UPE, LUCENIR MENDES FURTADO MEDEIROS - UNIVS, ARETHA FEITOSA DE ARAÚJO - CECAPE, OLGA MARIA DE ALENCAR - UFT, MARIA ROCINEIDE FERREIRA DA SILVA - MS/UECE
Apresentação/Introdução Considera-se como um trabalhador(a) gari àquele(a) cuja função é limpar, varrer e recolher o lixo acumulado nas vias e demais logradouros das cidades. Além de trabalhar na carga e descarga de caminhões de lixo, na limpeza e coleta das instalações da empresa, dentre outras ações conexas à limpeza das cidades. Esses(as) trabalhadores(as) estão expostos(as) a riscos ambientais e vulneráveis ao adoecimento. Destaca-se que possuem uma jornada de trabalho árdua e estão expostos à riscos ocupacionais devido à grande exposição a resíduos tóxicos, materiais e objetos perfurocortantes, lixos contaminados, entre outros, além de sobrecarga psíquica que pode ser desenvolvida durante seu trabalho. Ressalta-se também que trata-se de uma categoria desvalorizada, apresentando como destaque a baixa remuneração, insuficiência de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e a ausência de formações inerentes ao serviço. Nesse sentido, a descrição de “trabalhadores(as) invisíveis” demonstra a desvalorização dessa classe, uma vez que esse público faz parte de um grupo populacional vulnerável, relacionada diretamente às iniquidades no trabalho e na saúde. Assim, foi realizado um estudo junto a uma gari de varrição do município de Icó, Ceará, para melhor entender suas condições de trabalho e situação de saúde.
Objetivos Analisar as experiências de uma gari a partir de aspectos inerentes ao seu cotidiano de trabalho e de saúde ocupacional.
Metodologia Trata-se de um estudo de caso, descritivo de natureza qualitativa, junto a uma gari de varrição do município de Icó, que fica localizado na região Centro-Sul do Estado do Ceará, nordeste do Brasil. O estudo foi realizado entre abril e maio de 2023. Ressalta-se que a gari trabalha para Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura municipal, que por meio de uma empresa terceirizada é responsável por realizar a coleta de lixo urbano e serviços de limpeza do município. Foi realizada uma entrevista semiestruturada junto a gari, gravada na íntegra, orientada por um roteiro de questões norteadoras, que seguiu os objetivos propostos pelo estudo. Foram coletados os dados sociodemográficos e informações sobre trabalho e estado de saúde e analisados com base na literatura científica, uma vez que a análise de dados foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo proposto por Bardin, a qual segue três fases (1- Pré-análise; 2- Exploração do material; 3- Tratamento dos resultados - inferência e interpretação). O estudo está conforme Resolução 466 de 2012, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio, por meio do parecer de nº 6.009.464.
Resultados e Discussão Gari do sexo feminino, 54 anos, solteira, católica, ensino fundamental completo, renda de meio salário. Constatou-se por meio de observação e da entrevista que trata-se de um trabalho árduo, com diversos riscos. “Meu trabalho? Como assim (...) o trabalho barrendo? É “A gente se acostuma! (...) a pessoa trabalhando, a gente se acostuma, passando horas nas ruas, no sol, tirando terra das pistas”. A literatura aponta que se trata de um trabalho considerado insalubre devido ao contato direto com o lixo, favorecendo o adoecimento ou seu agravamento. Quando questionada se tinha conhecimento dos riscos ocupacionais, a gari respondeu: “Sei! Mais, é o jeito a gente trabalhar, não tem outro ganho. Tem que trabalhar mesmo correndo os riscos”. Dentre os riscos a que estão expostos(as) destacam-se: físicos (intempéries climáticas), químicos (poeiras, fumaças,) biológicos (bactérias, vírus), ergonômicos (posturas inadequadas, esforço físico), e acidentes (atropelamento, quedas). Já em relação às condições de trabalho, percebeu-se que a trabalhadora teve receio da exposição e com isso, perder o seu vínculo, relatando: “É bom, tudo é adequado”. Porém, no momento da entrevista, encontrava-se sem as botas de proteção. Sobre a ocorrência de acidentes no trabalho, a mesma apontou que já sofreu: “Já, só que num foi agora não, faz tempo... eu vinha barrendo e um carro barruou... Foi coisa leve, foi um trisco, mais aí fiquei com um problema na coluna”. E quando questionada sobre os cuidados com a saúde, a gari revelou que não se cuida: “Nada, não me cuido”. Tal relato é preocupante, pois a gari pode estar com outros problemas de saúde instalados, necessitando de cuidados.
Conclusões/Considerações finais A partir do caso estudado, entende-se que esta categoria de trabalhadores ainda é invisibilizada, marginalizada no que tange a direitos, exposta a riscos ocupacionais cotidianamente pela não utilização dos EPI. Para tanto, faz-se necessário um olhar diferenciado aos(as) trabalhadores(as) “garis”. A presença de riscos e insalubridade traz consequências à saúde destes, com necessidade de intervenções e de políticas públicas que alcancem este público. Logo, práticas de promoção e educação em saúde, além da formação em serviço são essenciais à produção do cuidado em saúde. Trata-se, portanto, de ações que devem ser viabilizadas pelo poder público a fim de evitar acidentes e adoecimento relacionados ao trabalho, galgando à promoção de bem-estar, saúde e qualidade de vida.
Referências ALBUQUERQUE, F. M. P.; COLPO, J.; GESSI, N. L.; ZIMERMANN, C. E.; C MARA, C. G.; LYRA, M. D. G. D. D. C. O dia-a-dia de quem limpa a sujeira da Sociedade: Orgulho ou vergonha? Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 7, n. 11, p. 107973–107992, 2021. DOI: 10.34117/bjdv7n11-430. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/40101. Acesso em: 10 jun. 2024.
Fonte(s) de financiamento: Sem fontes de financiamento.
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