05/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC9.15 - Governança e Coordenação do SUS: Estratégias de Monitoramento, Avaliação e Gestão na Rede de Atenção à Saúde |
53922 - DESIGUALDADE NO ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE ENTRE PESSOAS COM COVID-19 NO PARÁ MELISSA BARBOSA MARTINS - UFPA, AMANDA LOYSE DA COSTA MIRANDA - UFPA, RENATA KARINA REIS - USP, VANESSA LADYANNE DA SILVA COSTA - UFPA, MAURICIO DAS NEVES PEREIRA - UFPA, ARTHUR DA SILVA COSTA PEDROZA - UFPA, LORRANE SANTOS SILVA - UNIFAMAZ, VINÍCIUS DA SILVA FREITAS - UNAMA, DANILO OLIVEIRA MARTINS - UEPA, GLENDA ROBERTA OLIVEIRA NAIFF FERREIRA - UFPA
Apresentação/Introdução A pandemia de COVID-19 transformou a dinâmica dos sistemas de saúde globais, e revelou fragilidades e desafios preexistentes, no Brasil não foi diferente, a crise sanitária trouxe à tona a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e o acesso aos serviços de saúde. Contudo, por sua grande extensão territorial, percebeu-se que regiões mais vulneráveis, como áreas rurais e periféricas, foram as mais impactadas, evidenciando desigualdades históricas no acesso aos cuidados em saúde (Werneck, 2022).
A sobrecarga dos hospitais, a falta de insumos e equipamentos, e a necessidade de isolamento social acentuaram as dificuldades no atendimento, visto isso, surgiram diversas iniciativas, como a expansão da telemedicina, o fortalecimento das unidades básicas de saúde e a mobilização de recursos para áreas mais afetadas (Malta et al., 2021; Freire et al., 2023).
No estado do Pará, assim como em outros estados do norte do Brasil, o acesso aos serviços de saúde durante esse período crítico evidenciou profundas desigualdades e deficiências estruturais. A geografia vastamente dispersa, combinada com a fragilidade das redes de transporte e comunicação, foi um dos fatores que impactou negativamente na entrega de cuidados a saúde essenciais, evidenciando assim as dificuldades enfrentadas pela população, principalmente nas áreas rurais e ribeirinhas (Lima et al., 2021).
Objetivos Analisar o tipo de acesso aos serviços de saúde para diagnóstico e tratamento para COVID-19 no estado do Pará.
Metodologia Trata-se de um estudo observacional, transversal, analítico, de método quantitativo, por meio de questionário online realizado no período de maio a agosto de 2023. As pessoas eram elegíveis para participar se fossem residentes atuais do Pará, com 18 anos ou mais, com diagnóstico autorreferido de COVID-19 por meio de testes rápidos ou laboratoriais. O critério de exclusão incluiu pessoas que não tinham acesso à internet ou dispositivos eletrônicos para responder ao questionário.
Para a coleta de dados, foi utilizada uma versão adaptada do questionário “Plataforma Clínica Global COVID-19: Formulário de Relato de Caso para Condições Pós-COVID-19” da Organização Mundial da Saúde. O questionário (estruturado) foi adaptado e traduzido por pesquisadores de três universidades federais de diferentes regiões do Brasil para tornar a linguagem clara e acessível à população em geral. Os participantes preencheram uma pesquisa eletrônica usando o software Research Electronic Data Capture (REDCap)®, incluindo o questionário adaptado “Plataforma Clínica Global COVID-19: Formulário de Relato de Caso para Condição Pós-COVID-19”. Participaram da pesquisa 839 indivíduos.
Resultados e Discussão Dos 839 participantes, 258 (30,75%) referiram ter tratado a COVID-19 sozinhos sem avaliação de um profissional de saúde, 150 (17,88%) buscaram e receberam atendimento na atenção primária à saúde, 30 (3,58%) buscaram atendimento no serviço secundário, 96 (11,44%) buscaram atendimento direto na atenção terciária; 218 (25,98%) referiram terem sido tratado em casa, tendo suporte de profissionais da saúde por telefone ou internet; e 87 (10,37%) referiram terem acessado os serviços do setor privado.
Os dados revelam uma diversidade significativa nas abordagens de acesso em busca do tratamento da COVID-19 entre os participantes. A maior parte (30,75%) tratou-se sem avaliação médica presencial, indicando uma possível falta de acesso ou confiança nos serviços de saúde, ou uma percepção de que a doença poderia ser gerenciada autonomamente.
Demais participantes (25,98%) recebeu tratamento domiciliar com suporte remoto de profissionais de saúde, demonstrando a adaptação dos serviços de saúde durante a pandemia, utilizando tecnologias de comunicação para fornecer cuidados e monitoramento, este modelo pode ser particularmente eficaz para casos leves e moderados, reduzindo a carga sobre os serviços de saúde presenciais e minimizando o risco de transmissão do vírus.
A procura por atendimento na atenção primária (17,88%) destaca a importância desse nível de cuidado, sendo o principal ponto de entrada do SUS. A menor procura por serviços secundários (3,58%) e terciários (11,44%) evidencia busca pela necessidade de cuidados de alta complexidade, nos casos mais graves. Por fim, 10,37% dos participantes recorreram ao setor privado, indicando diferenças socioeconômicas da região e evidenciando a percepção de maior qualidade ou menor tempo de espera.
Conclusões/Considerações finais O estudo apresentado reflete a complexidade e a diversidade das respostas individuais e do sistema de saúde à pandemia de COVID-19, a alta porcentagem de indivíduos que optaram por se tratar sozinhos ou com suporte remoto sublinha a importância de campanhas de informação pública sobre a doença e sobre como e quando procurar atendimento médico. Visto isso, ressalta-se a necessidade de fortalecer a infraestrutura do SUS para oferecer cuidados acessíveis e de qualidade em todos os níveis, garantindo que todos tenham acesso ao atendimento adequado conforme suas necessidades.
Referências Werneck, Guilherme Loureiro. A pandemia de COVID-19: desafios na avaliação do impacto de problemas complexos e multidimensionais na saúde de populações. Cadernos de Saúde Pública, v. 38, p. PT045322, 2022.
Freire, Mariana Prado et al. Telemedicina no acesso à saúde durante a pandemia de covid-19: uma revisão de escopo. Revista de Saúde Pública, v. 57, p. 4s, 2023.
Malta, Deborah Carvalho et al. Uso dos serviços de saúde e adesão ao distanciamento social por adultos com doenças crônicas na pandemia de COVID-19, Brasil, 2020. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, n. 07, p. 2833-2842, 2021.
Lima, Juliana Gagno et al. O processo de trabalho dos agentes comunitários de saúde: contribuições para o cuidado em territórios rurais remotos na Amazônia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00247820, 2021.
Fonte(s) de financiamento: O presente estudo foi realizado com apoio da seleção Emergencial IV nº 12/2021 do Programa de Pós-Graduação de Desenvolvimento – Impactos da Pandemia pertencente à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós- graduação da Universidade Federal do Pará, Programa de Apoio à Produção Qualificada -2024 (PAPQ-2024).
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