04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC9.14 - Fortalecimento das Políticas de Saúde Materno-Infantil: Desafios, Estratégias e Impactos na Atenção ao Pré-Natal e na Mortalidade Infantil no Brasil |
50513 - OFERTA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ÀS GESTANTES COM COVID-19: UM OLHAR SOBRE AS VULNERABILIDADES E INIQUIDADES EM SAÚDE ANTONIA TAINÁ BEZERRA CASTRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARIA ADELANE MONTEIRO DA SILVA - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, VERÔNICA DE AZEVEDO MAZZA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CIBELLY ALINNY SIQUEIRA LIMA FREITAS - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, NIELE DUARTE RIPARDO - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, TAINÁ DE JESUS ALVES PORTELA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, AMANDA SOUZA BARBOSA HOLANDA - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
Apresentação/Introdução A pandemia da Covid-19, causada pelo SARS-CoV-2, representa um dos maiores obstáculos sanitários na história da saúde pública em escala global. Esse cenário exigiu readequações nos fluxos de atendimentos para obter respostas rápidas e eficientes no enfrentamento da infecção (Silva;Corrêa;Uehara,2022). As gestantes foram consideradas grupos de risco, sendo construídos e atualizados documentos oficiais com base em evidências científicas para auxiliar a gestão na organização do cuidado no ciclo gravídico-puerperal nos diferentes níveis de atenção à saúde (Brasil,2021) .
Contudo, observa-se a heterogeneidade de municípios brasileiros nos gerenciamentos institucionais que atendem as gestantes na pandemia da Covid-19 (Silva; Gervásio; Cuenca, 2023). Alguns serviços de saúde obstétricos reduziram as consultas de pré-natal e restrigiram a presença do acompanhante no parto. É no contexto das dinâmicas de diferentes cidades e de seus territórios que as iniquidades se manifestam, especialmente por meio dos desafios no acesso à saúde (Darsie et al.,2022).
As situações programáticas geradas pelos serviços de saúde que envolvem práticas de cuidado, gestão e organização, quando não oferecidos adequadamente introduz o índividuo em situações de vulnerabilidade em saúde. Essa conjuntura prevê impactos no acesso à saúde e fortalece a ocorrência de iniquidades em saúde.
Objetivos Analisar as situações programáticas dos serviços de saúde oferecidos às gestantes com Covid-19, sob o enfoque nas vulnerabilidades e iniquidades em saúde.
Metodologia Estudo qualitativo, realizado no período de julho de 2022 a setembro de 2023, no município de Sobral,Ceará, com sete mulheres que foram infectadas pela Covid-19 na gestação e estiveram hospitalizadas no período de março de 2020 a março de 2022. Incluíram-se mulheres que residiam na sede do município, possuíam confirmação laboratorial da contaminação e gestantes internadas por outras circunstâncias, contudo foi detectado a infecção durante a internação. Excluíram-se mulheres que vieram a óbito; não possuíam teste para confirmar o diagnóstico da Covid-19; e possuíam informações incompletas sobre o endereço.
Identificaram-se as participantes do estudo por meio de um banco de dados de um estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com parecer nº 5.702.614, conforme os critérios de inclusão e exclusão supracitados. Em seguida, procedeu-se à seleção de uma mulher de cada Centro de Saúde da Família (CSF) para realizar as entrevistas. Para análise de dados empregou-se a Análise Temática de Bardin (2016). O estudo foi aprovado pelo CEP da Universidade Estadual Vale do Acaraú, com parecer nº 5.958.313, de acordo com a Resolução nº 466 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados e Discussão As depoentes caracterizam-se como pardas, ensino médio completo e renda familiar igual ou inferior a um salário mínimo. Quanto às situações programáticas, as entrevistadas revelaram constrangimentos no parto pois os profissionais de saúde estavam reclamando de gritos durante as contrações uterinas e a suspensão dos grupos de gestantes na pandemia, deixando a gestante em uma condição de vulnerabilidade em saúde. Os achados refletem para fragilidades no processo de trabalho e na organização de saúde no cuidado à gestante com Covid-19. O acesso à saúde de qualidade é direito fundamental de todo índividuo, porém julga-se a condição social como produtora de disparidades na saúde.
A crise sanitária afetou as mulheres no contexto obstétrico, com desproporção entre elas no que diz respeito à escolaridade e à renda familiar (Prasannan et al., 2021). A violência obstétrica representa um grave problema de saúde pública e atinge de forma desigual as mulheres, visto que as mulheres pardas e negras são as mais afetadas. Verifica-se que as desigualdades no acesso e no processo de cuidado estão relacionadas à estrutura dos serviços e qualidade da assistência ofertada (Cobo;Cruz; Dick, 2021).
A educação em saúde por meio do grupo de gestante permaneceu suspensa no período da pandemia, recomendando-se ferramentas tecnológicas para auxiliar no empoderamento e autocuidado das mulheres (Silva et al.,2024). A inacessibilidade digital constitui um dos desafios impostos pela pandemia que potencializou as iniquidades em saúde. A melhoria da qualidade da atenção à saúde implica na eliminação de iniquidades, tornando-se necessário considerar o acesso a meios econômicos, sociais, educacionais e informacionais para garantir a superação das desigualdades em saúde (Vieira;Monteiro;Silva, 2021).
Conclusões/Considerações finais Os achados permitiram direcionar olhares para as iniquidades em saúde na perspertiva das situações programáticas de gestantes com Covid-19. Constata-se que os profissionais de saúde devem ser os principais aliados na superação e identificação de práticas que resultam em iniquidades em saúde na gestação. É fundamental a formação de comissões intersetoriais com o intuito de proporcionar debates críticos e reflexivos de forma articulada e integrada entre gestores e profissionais de saúde para construir estratégias de cuidados em saúde pautados na proteção das gerações atuais e futuras.
Portanto, faz-se necessário a construção e implementação de políticas públicas com distribuição igual de recursos, que considerem especialmente as iniquidades em saúde. O atendimento integral também é capaz de minimizar as desigualdades. Acredita-se que esse é o primeiro passo para a transformação da justiça social e consolidação de um Sistema Único de Saúde com dignidade e respeito aos direitos humanos.
Referências BRASIL. Manual de recomendações para a assistência à gestante e puérpera frente à pandemia de covid-19. 2021
COBO, B; CRUZ, C; DICK, P.C. Desigualdades de gênero e raciais no acesso e uso dos serviços de atenção primária à saúde no Brasil. Revista Ciência & Saúde Coletiva. v.26, n.9, 2021.
PRASANNAN, L et al. Social determinants of health and coronavirus disease 2019 in pregnancy. Am J Obstet Gynecol MFM. v.3, n.4, 2021.
SILVA; B.R.G; CORRÊA, A.P.V; UEHARA, S.CS.A. Organização da atenção primária à saúde na pandemia de covid-19: revisão de escopo. Revista de Saúde Pública. 2022
SILVA, M.L.S; MONTEIRO, C.F.S; COSTA, A.P.C; JÚNIOR, F.J.G.S; Recomendações para educação em saúde de gestantes e puérperas no contexto da Covid-19. Physis: Revista de Saúde Coletiva. v.34, 2024.
VIEIRA, A.B.D; MONTEIRO, P.S; SILVA, A.L. Iniquidades sociais em tempos de pandemia de covid-19: uma reflexão. Revista Bioética. v.29,n.3, 2021.
|
|