04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC9.13 - Análise de Custo, Efetividade e Desempenho na Gestão de Doenças Crônicas e Oncológicas no Brasil |
52347 - DIFERENÇAS REGIONAIS DA SOBREVIDA LÍQUIDA EM 5 ANOS DE MULHERES TRATADAS POR CÂNCER DE MAMA E COLO DO ÚTERO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DO BRASIL JOHAN ALEJANDRO VEGA CASTAñEDA - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA, DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL, FACULDADE DE MEDICINA, UFMG., HUGO ANDRÉ DA ROCHA - DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL, FACULDADE DE MEDICINA, UFMG., MARIANGELA LEAL CHERCHIGLIA - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA, DEPARTAMENTO DE MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL, FACULDADE DE MEDICINA, UFMG.
Apresentação/Introdução O câncer de mama e o câncer de colo de útero são a principal causa de mortalidade por câncer em mulheres em 110 e 36 países, respectivamente. A incidência do primeiro é maior nos países desenvolvidos, enquanto o segundo é mais comum nos países com vulnerabilidade socioeconômica 1. Especificamente no Brasil, existem importantes desigualdades regionais na incidência e mortalidade destes tipos de câncer 2.
A disponibilidade de evidências atualizadas e de qualidade sobre o câncer, como as análises da sobrevida, ajudam a orientar as políticas públicas para o controle do câncer e constituem indicadores importantes para avaliar a efetividade dos sistemas de saúde na assistência das mulheres que padecem desta doença 3. Um exemplo deste tipo de estudos, foi o CONCORD-3, que estimou a sobrevida líquida em 5 anos para 18 tipos de câncer em 71 países, e apresentou informação valiosa para a construção de estratégias para o controle do câncer globalmente 4.
Este estudo encontrou que a sobrevida do câncer de mama no Brasil foi de 76,9%, superior à maioria dos países da América Latina, e de 63,2% para o câncer do colo do útero, semelhante ao dos países vizinhos 4. Estudos subnacionais têm sido conduzidos na Europa, avaliando a relação entre variáveis socioeconómicas ou clínicas com a sobrevida do câncer 5, mas este tipo de estudos são escassos nas Américas e especificamente no Brasil.
Objetivos Os objetivos do presente estudo são:
a) estimar a sobrevida líquida em 5 anos de mulheres tratadas para câncer de mama e do colo do útero no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2002 e 2015.
b) analisar as diferenças da sobrevida entre as diferentes regiões do Brasil.
c) proporcionar evidências que apoiem o desenvolvimento de políticas de saúde para diminuir as diferenças regionais da sobrevida das mulheres com câncer no Brasil.
Metodologia O estudo segue um desenho de coorte não concorrente, utilizando dados secundários extraídos da Base Nacional de Saúde Centrada no Indivíduo, uma base de dados populacional construída com o método de pareamento determinístico-probabilístico de dados do sistema de informação de mortalidade (SIM), do sistema de informação ambulatorial (SIA) e do sistema de informação hospitalar (SIH), permitindo acompanhar a trajetória dos pacientes com doenças como o câncer pelo sistema de saúde. As tábuas de mortalidade dos estados e regiões foram disponibilizadas pelo IBGE e posteriormente expandidas e completadas com o método de Heligman & Pollard. Foram incluídas mulheres com idade acima de 17 anos, com diagnóstico de câncer de mama ou do colo do útero, tratadas no SUS entre 2002 e 2015, sendo excluídas aquelas que receberam tratamento cirúrgico exclusivo ou nas quais a data de diagnóstico é a mesma data de óbito. O estimador de Pohar-Perme foi utilizado para calcular a sobrevida líquida em 5 anos para as pacientes de acordo com a região e estado de residência e o estádio no momento do diagnóstico para cada tipo de câncer.
Resultados e Discussão Foram identificadas 285.829 pacientes, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. 217.734 com câncer de mama e 68.095 com câncer do colo do útero. As mulheres em tratamento para câncer de mama, apresentavam idade média de 56 anos, cor de pele branca (65%), a maioria residia na região Sudeste (49%), e somente 3,4% na região Norte. No Brasil, o estádio II no momento do diagnóstico foi o mais frequente, mas as regiões Sul e Sudeste apresentaram uma maior proporção de casos em estádio IV (9,8% e 9,5%, respectivamente). As mulheres tratadas de câncer do colo do útero tinham idade média de 53 anos, 50% com cor de pele branca e 42% se declararam pardas. 36% residiam na região Sudeste e 11% na região Norte. O estádio III foi o mais frequente no Brasil, com proporções maiores de casos em estádio IV no Sul (14%), Sudeste (11%) e Centro-Oeste.
A estimativa da sobrevida líquida em 5 anos no Brasil foi de 83,4% para câncer de mama, superior à reportada pelo estudo CONCORD-3 (76,9%) no país 4. A região com maior sobrevida foi o Nordeste com 86,6%, e a menor foi o Sudeste com 82,2%. No caso do câncer do colo do útero a sobrevida foi de 64,6%, semelhante à reportada pelo CONCORD-3 (63,2%). A região com maior sobrevida foi o Norte (72,2%) e a menor sobrevida foi no Centro-Oeste (59,8%).
De acordo com os resultados existe uma diferença de quase 20 pontos percentuais entre a sobrevida dos dois tipos de câncer, mostrando que as mulheres com câncer de colo de útero morrem mais rápido. As regiões onde foi maior a proporção de casos diagnosticados em estádio avançado apresentaram menores sobrevidas, destacando a importância do diagnóstico precoce para melhorar a sobrevida dessas mulheres.
Conclusões/Considerações finais De acordo com os nossos achados, as mulheres com câncer de colo de útero tem uma sobrevida mais baixa no Brasil, em relação com a sobrevida das mulheres com câncer de mama. Apesar das diferentes características dos dois tipos de câncer, o câncer de colo de útero é suscetível de diversas estratégias de prevenção, incluindo a vacinação contra o vírus do papiloma humano, que precisam ser fortalecidas para reduzir o impacto desta doença.
No nível regional, existe uma relação importante entre o diagnóstico em estádio avançado e uma menor sobrevida líquida das pacientes, sendo mais evidente nas regiões onde existe uma maior concentração de serviços de saúde oncológicos habilitados, apontando a possibilidade da existência de dificuldades na articulação destes serviços com a atenção primária nessas regiões. Estudos adicionais sobre esta relação ajudariam a compreender com mais detalhe este problema.
Referências 1. Sung, H. et al. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin 71, 209–249 (2021).
2. Santos, M. de O. et al. Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil, 2023-2025. Revista Brasileira de Cancerologia 69, (2023).
3. Coleman, M. P. Cancer survival: Global surveillance will stimulate health policy and improve equity. The Lancet 383, 564–573 (2014).
4. Allemani, C. et al. Global surveillance of trends in cancer survival 2000-14 (CONCORD-3): analysis of individual records for 37 513 025 patients diagnosed with one of 18 cancers from 322 population-based registries in 71 countries. Lancet 391, 1023–1075 (2018).
5. Coleman, M. P. et al. Trends and socioeconomic inequalities in cancer survival in England and Wales up to 2001. Br J Cancer 90, 1367–1373 (2004).
Fonte(s) de financiamento: Vega-Castañeda, Johan A. é bolsista de pós-graduação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brasil.
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