04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC9.13 - Análise de Custo, Efetividade e Desempenho na Gestão de Doenças Crônicas e Oncológicas no Brasil |
50552 - GASTOS POR DIABETES MELLITUS EM UMA OPERADORA DE AUTOGESTÃO EM SAÚDE BRASILEIRA: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO. FLÁVIA AMARAL FREITAS - CASSI, DENILSON FURTADO OLIVEIRA - CASSI, DANYELLE MONTEIRO CAVALCANTE - CASSI, RAYLAYNE FERREIRA BESSA BERNARDO - CASSI, FRANK NEY SOUSA LIMA - CASSI
Apresentação/Introdução A Diabetes Mellitus (DM) é uma das maiores ameaças à saúde e a condição crônica que mais cresce nos países em desenvolvimento. O Brasil é o sexto país com a maior incidência no mundo. Além do claro prejuízo à saúde, a DM causa grande impacto financeiro na economia das famílias, nos sistemas de saúde público e privado, no sistema previdenciário e na produtividade do país. A evolução da doença e o controle glicêmico inadequado podem resultar no aparecimento de danos críticos ao coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos, sendo a principal causa de cegueira, insuficiência renal, amputação não traumática de membros inferiores e problemas nos nervos periféricos, como dores severas e úlceras nos pés. Tais complicações contribuem significativamente para o alto custo do cuidado e estimá-lo pode ser útil para a tomada de decisão, pois quantifica monetariamente o impacto da doença e é um complemento às informações epidemiológicas tradicionais. A saúde suplementar compõe o mix público-privado, peculiar do sistema de saúde brasileiro. As operadoras classificadas como autogestão não têm fins lucrativos e operam serviços de assistência à saúde exclusivamente para empregados ou aposentados de empresas, sindicatos, associações ou assemelhadas, e seus dependentes. Compreender a condição de saúde dos beneficiários com DM e subsidiar estratégias que possam mitigar os seus impactos é fundamental.
Objetivos Descrever os gastos diretos com o cuidado de saúde do participante diabético de uma autogestão de saúde de abrangência nacional, com aproximadamente 590 mil beneficiários, entre os anos de 2016 e 2021.
Metodologia Foi realizado um estudo exploratório, descritivo, conduzido por meio de metodologia de estimação top-down dos custos diretos com a DM adaptada ao subsistema de saúde suplementar na perspectiva da operadora de saúde. Os gastos com as complicações foram levantados considerando os eventos ambulatoriais e as internações hospitalares pagas, a partir de dados de utilização dos participantes na rede credenciada, por meio do sistema de informações de faturamento da operadora, entre os anos 2016 e 2021. Isto permitiu a recuperação dos valores pagos pelos eventos relacionados a cinco grandes grupos: oftalmológicos, cardíacos, renais, cerebrovasculares e vasculares periféricos.
Para a análise dos gastos gerais de uma parte dos participantes diabéticos com o Programa de Assistência Farmacêutica (PAF) da operadora, foram selecionados todos os medicamentos e materiais autorizados e pagos com os CID das famílias E10 e suas subclassificações - Diabetes mellitus insulino-dependente; E11e suas subclassificações - Diabetes mellitus não-insulino-dependente e E14 e suas subclassificações - Diabetes mellitus não especificado.
Resultados e Discussão A prevalência ajustada do DM no período foi de 7,19%. O estudo revelou que dos 43.630 beneficiários diabéticos, 26% apresentavam complicações, com uma incidência média de 7,45 complicações por ano. As complicações oftalmológicas apresentaram maior ocorrência (55%), seguidas pelas cardíacas (31%), renais (7%), vasculares periféricas (6%) e cerebrovasculares (1%). Os gastos com as complicações relacionadas ao DM do beneficiário diabético foram crescentes e alcançaram o montante de R$ 522.373.412,00, nos cinco anos de análise. Os gastos com reembolso de medicamentos e materiais para o controle do DM, para os 4.961 participantes incluídos no PAF, somaram R$ 22.165.508,20, no mesmo período. O total apurado ficou em R$ 544.538.920,20, com custo médio anual de R$ 108.907.784,04.
As evidências acerca do impacto econômico das doenças crônicas nos países de baixa e média renda precisam ser mais bem estudadas, especialmente no cenário nacional. Os estudos geralmente levam em conta apenas um dos componentes da atenção aos diabéticos como acesso a medicamentos ou apenas internações e, em sua maioria, é utilizada a perspectiva do Sistema Único de Saúde como pagador, o que dificulta a comparação dos valores com a saúde suplementar para além das questões mercadológicas, uma vez que a unidade de análise desses estudos concentram-se no número de internações ou de autorizações para procedimentos ambulatoriais e não no indivíduo, o que compromete o cálculo dos valores per capita. E, por considerar apenas o reembolso do componente federal de custeio do SUS, os valores podem estar subestimados. Mesmo assim, o Brasil ocupa a terceira posição entre os países com os maiores gastos em saúde relacionados ao controle do diabetes, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, respectivamente.
Conclusões/Considerações finais Os altos custos necessários para o controle da DM e tratamento das complicações agudas e crônicas confirmam a doença como um desafio para saúde coletiva. Todavia, tais complicações são potencialmente preveníveis por meio do monitoramento rigoroso no âmbito da Atenção Primária à Saúde, o que valida a pertinência de estudar meios para mitigar o impacto que a doença traz. Por valer-se apenas de dados secundários, não foi analisado o risco que as demais condições de saúde e os fatores de risco individuais possam ter contribuído para a ocorrência dos eventos. Sem a intenção de esgotar a complexidade do tema, este estudo é inovador pela proposta de descrever os gastos atribuídos ao DM, na saúde suplementar, considerando os gastos relacionados às complicações e medicamentos. Estudos desta natureza devem ser incentivados em âmbito nacional para permitir a comparação não somente dos gastos, mas, principalmente, dos desfechos sanitários do cuidado, na busca por um atenção mais efetiva.
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Fonte(s) de financiamento: CAIXA DE ASSISTÊNCIA AOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL - CASSI
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