Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC9.13 - Análise de Custo, Efetividade e Desempenho na Gestão de Doenças Crônicas e Oncológicas no Brasil

49771 - CÂNCER DE GLÂNDULAS SALIVARES ANTES E DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL
VITÓRIA FERREIRA LEITE - UFMG, DÉBORA ROSANA ALVES BRAGA SILVA MONTAGNOLI - UFMG, YASMIM SILVA GODOY - UFMG, MAURO HENRIQUE NOGUEIRA GUIMARÃES ABREU - UFMG, RENATA CASTRO MARTINS - UFMG


Apresentação/Introdução
O câncer de glândula salivar (CGS) apresenta uma incidência estimada de 1,2 a 1,3 casos por 100 mil indivíduos. Embora raro, representa cerca de 3% de todos os cânceres que acometem a região da cabeça e pescoço [1]. Em 2020, 53.583 novos casos e 22.778 óbitos de CGS foram identificados em todo o mundo. Fatores ambientais, tais como exposição a radiações ionizantes e compostos de níquel, bem como hábitos de tabagismo, consumo de álcool e dieta insatisfatória têm conexão com o desenvolvimento dessas neoplasias malignas [2]. O CGS, geralmente, apresenta crescimento lento com ausência de sintomas que podem levar a atrasos na identificação, resultando em diagnósticos já em estágios avançados da doença, piores prognósticos, necessidade de terapias mais complexas e menores taxas de sobrevida [3]. No contexto da pandemia da COVID-19, restrições adotadas para conter a propagação da doença tiveram repercussões no funcionamento dos sistemas de saúde e influenciaram negativamente a detecção e diagnóstico precoces de diferentes tipos de câncer [4]. É possível que atrasos no diagnóstico e tratamento de casos de CGS tenham ocorrido na pandemia. Dada sua baixa incidência, existem lacunas sobre dados exclusivos de CGS, tornando-se essencial realizar estudos que abordem os registros de CGS nesse período no Brasil.

Objetivos
Analisar os registros de CGS em relação ao estadiamento e tempo para início do tratamento, no período de 2019 a 2022, antes e durante pandemia da COVID-19.

Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico, longitudinal, descritivo e analítico utilizando dados secundários do Painel-Oncologia do DATASUS. Essa plataforma é uma ferramenta de gestão para monitorar o cumprimento da Lei Nº 12.732, a qual define o prazo máximo para o início do tratamento de até 60 dias após diagnóstico confirmado de câncer no SUS. Foram considerados os registros de neoplasias malignas de parótida e de outras glândulas salivares maiores e não especificadas (códigos C07 e C08 da classificação CID-10), de estadiamento e do tempo para início do tratamento (TT) de 2019 a 2022 no Brasil. Dados faltantes ou classificados como “ignorados” foram excluídos. Os estágios iniciais foram classificados como a soma dos registros 0, I e II e os estágios avançados pela soma dos registros de III e IV. O TT foi classificado em <30 dias, 31-60 dias e >60 dias. Os dados coletados foram organizados em planilha utilizando-se o Microsoft Excel 365. Foram calculadas as frequências absolutas e relativas para cada variável, e a diferença percentual dos registros de CGS, estadiamento e TT compreendendo períodos entre os anos 2019 e 2020, 2020 e 2021, 2021 e 2022.

Resultados e Discussão
Em 2019, foram registrados 2.043 casos de CGS. Em 2020, houve redução de 17,77% (1.680), aumento de 6,49% (1.789) em 2021 e de 14,81% em 2022 (2.054). Em 2020, observou-se uma redução dos estágios iniciais (14,64%) e aumento dos avançados (8,83%) em relação a 2019. Em 2021, estágios iniciais aumentaram (18,93%) e estágios avançados reduziram (11,35%). Em 2022, estágios avançados aumentaram (22,19%) e os iniciais reduziram (2%). Houve redução dos registros TT<30 dias (21,02%) em 2020, seguido de aumento de 12,60% em 2021. Em 2022, houve aumento de todos os TT, sendo TT>60 dias (19,07%) mais evidente. As variações apontadas no primeiro ano da pandemia com redução dos registros de CGS, aumento de estágios avançados e redução de TT<30 dias podem ser explicadas pela sobrecarga do sistema público de saúde voltados aos casos de COVID-19, gerando contenção de profissionais e vagas hospitalares para diagnóstico e tratamento de outras doenças em tempo hábil, como o câncer [5]. Já em 2021, o leve aumento de registros de CGS, em estágios iniciais e TT<30 dias denota os efeitos positivos da imunização contra COVID-19 que viabilizou o diagnóstico e terapias oncológicas [4]. Em 2022, apesar de ser considerado o último ano de crise sanitária, demonstrou situação preocupante. O aumento de registros de CGS, em estágios mais avançados, destacando TT>60 dias, sugere um sub diagnóstico nas fases iniciais da pandemia, contribuindo para o represamento de casos e aumento de estágios mais avançados nesse período [4]. Ademais, o aumento do TT>60 dias pode ser interpretado como consequência do incremento de estágios avançados, que frequentemente, demandam abordagens de tratamento mais complexas, exigindo maior quantidade de exames e cuidados prévios ao início do tratamento [3].

Conclusões/Considerações finais
Houve diferenças percentuais dos registros de CGS, estadiamento e TT entre os períodos anterior e durante a pandemia no Brasil. Essas discrepâncias devem ser seriamente consideradas, uma vez que o CGS é tipo de câncer raro e potencialmente agressivo, a depender da histologia, com altas taxas de recorrência. Além disso, qualquer atraso no diagnóstico e/ou tratamento do câncer aumenta substancialmente o risco de progressão dos tumores, transformando condições inicialmente curáveis e com impactos negativos relativamente contornáveis na qualidade de vida do paciente, em casos incuráveis, com uma expectativa de vida significativamente reduzida. Portanto, torna-se necessário, reavaliar e planejar estratégias para superar os desafios pós-pandemia, aprimorando ações de detecção precoce do CGS no Brasil, diagnóstico e tratamento, bem como suporte e reabilitação necessários para atender pacientes diagnosticados com este tipo de neoplasia, especialmente em estágios mais avançados.

Referências
1-Speight PM, Barrett AW. Salivary gland tumours: diagnostic challenges and an update on the latest WHO classification. Diagn Histopathol. 2020;26(4):147–58.
2-Leopard D. et al. Twenty-seven years of primary salivary gland carcinoma in Wales: an analysis of histological subtype and associated risk factors. J Laryngol Otol.2022;136(2):167-72.
3-Nakaguro M. et al. Salivary duct carcinoma: Updates in histology, cytology, molecular biology, and treatment. Cancer Cytopathol.2020;128(10):693-703.
4-Moura EC. et al. Covid-19: temporal evolution and immunization in the three epidemiological waves, Brazil, 2020-2022. Rev Saude Publica. 2022;56:105.
5-Palamim CVC, Marson FAL. COVID-19 - The Availability of ICU Beds in Brazil during the Onset of Pandemic. Ann Glob Health. 2020;86(1):100.

Fonte(s) de financiamento: CAPES, PIBIC/CNPq.


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