Roda de Conversa

04/11/2024 - 17:20 - 18:50
RC9.13 - Análise de Custo, Efetividade e Desempenho na Gestão de Doenças Crônicas e Oncológicas no Brasil

49517 - PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO E USO DE SALA CIRÚRGICA EM CENTRO CIRÚRGICO ONCOLÓGICO
DAVI MESSIAS CONRADO DA SILVA - IESC/UFRJ, BIANCA BORGES DA SILVA LEANDRO - EPSJV/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
O acompanhamento da eficiência e efetividade dos serviços de saúde é de extrema importância para um sistema de saúde. Notadamente no Brasil, onde os princípios norteadores estão pautados legalmente na universalidade, integralidade e equidade, isto fica mais significativo, tendo em vista a histórica disputa acirrada pelos recursos destinados ao SUS, desde a origem de seu financiamento.

Apesar de amplamente discutido de forma epidemiológica, a quantidade de estudos voltados para a avaliação do desempenho dos serviços de saúde oncológicos não acompanha a mesma predominância de debates, promovendo uma desigualdade entre a formulação de boas práticas e o seu efetivo controle para melhoria contínua do sistema. Este trabalho contempla, em sua formulação, os dados de produção das cirurgias oncológicas realizadas e canceladas do Hospital do Câncer I (HC I), hospital-referência para cirurgia oncológica do Instituto Nacional do Câncer (INCA). O INCA é o órgão auxiliar do Ministério da Saúde no desenvolvimento e coordenação das ações integradas para a prevenção e o controle do câncer no Brasil.

Torna-se estratégico desenvolver estudos voltados à linha de cuidado do câncer, em especial, ao componente da alta complexidade, qualificando a execução de políticas públicas na perspectiva de estruturar modelos alinhados ao monitoramento e a avaliação em saúde no contexto do SUS.


Objetivos
Este estudo apresenta um modelo de programação cirúrgica oncológica com vistas a redução na ociosidade das salas cirúrgicas e a redução da fila de espera pela cirurgia, enquanto um procedimento de alta complexidade, dessa forma, aprimorando a linha de cuidado ao câncer no SUS.

Além disso, propõem métricas de mensuração de produtividade e gestão econômico-financeira do setor com vistas à multiplicação de boas práticas em oncologia, essenciais para o processo de planejamento em saúde.


Metodologia
Este estudo quantitativo está pautado no caráter exploratório e na análise estatística descritiva de dados cirúrgicos de 2023 oriundos do software de gestão hospitalar do HC I (Absolute) da ALERT Life Computing S.A.
O registro da produção cirúrgica do HC I ocorre no sistema Absolute. Esta tarefa é realizada por um assistente administrativo parcialmente dedicado a esta atividade. A inserção dos dados é realizada diariamente após a conferência e conciliação do registro físico dos seguintes documentos do dia anterior: (1) mapa cirúrgico, (2) registro das cirurgias realizadas e (3) fichas das cirurgias canceladas com o motivo de suspensão assinadas pelo médico responsável. Em caso de inconsistência, o profissional é orientado a pedir apoio da chefia da equipe assistencial para que o registro físico esteja fidedigno com o informatizado do hospital.
Após negociação intra-institucional, ficou acordado junto ao Serviço de Tecnologia da Informação (DTI/INCA) a extração mensal de dados do Absolute através de 04 consultas específicas com o escopo a seguir: (01) cirurgias realizadas e canceladas, (02) cronologia das cirurgias realizadas, (03) profissionais por cirurgia e (04) insumos utilizados.

Resultados e Discussão
A análise dos dados do HC I em 2023 revelou discrepância significativa entre o tempo programado e realizado de salas cirúrgicas. O descompasso entre esta expectativa e realidade causou implicações diretas na eficiência operacional do centro cirúrgico, gerando ociosidade, a princípio, evitável.

No período analisado, observou-se que a maioria das cirurgias não seguiu o tempo programado. Em muitos casos, o tempo realizado foi substancialmente menor ou maior que o previsto. Por exemplo, algumas cirurgias programadas para 2 horas foram concluídas em apenas 1 hora ou menos; outras, previstas para 3 horas, estenderam-se por 4 horas ou mais. Esse padrão de inconsistência resultou em tempo ocioso nas salas, que poderia ter sido utilizado para outras cirurgias, ou em atrasos, que impactaram a programação subsequente.

Esta discrepância nos tempos pode ser atribuída a vários fatores: complexidade cirúrgica, variabilidade na condição dos pacientes, experiência do cirurgião responsável, imprevistos durante os procedimentos, e outros. Além disso, questões estruturais como carência de leitos vagos e recursos humanos escassos agravaram o problema.

Essa assimetria reduz a eficiência e afeta a qualidade, pois prolonga o tempo de espera para procedimentos cirúrgicos. Para mitigar esses impactos, é necessário um esforço na revisão dos processos de agendamento e uma maior flexibilidade na alocação de recursos. Melhoria na comunicação entre as equipes e o uso dos dados históricos para ajustar os tempos previstos de cirurgia podem ser um passo importante para reduzir a variabilidade observada. Em última instância, uma gestão mais voltada ao melhor aproveitamento dos horários de sala cirúrgica contribuiria para a otimização dos recursos hospitalares e melhoria do atendimento aos pacientes.


Conclusões/Considerações finais
A análise das discrepâncias entre o tempo programado e realizado nas salas cirúrgicas do HC I indica a necessidade de se otimizar os processos de agendamento. A variabilidade observada impacta negativamente a eficiência operacional, gerando períodos de ociosidade e atrasos que prejudicam a qualidade do atendimento aos pacientes e a oferta do serviço.

Poderia auxiliar a implementação de medidas que promovam maior precisão no planejamento cirúrgico, como a utilização de dados cirúrgicos e o agendamento através de solução com intervenção humana pontual (integração de sistemas que analisam dados históricos, prevendo com maior precisão a duração dos procedimentos e a alocação eficiente de recursos).

Contudo, fatores fora da governabilidade institucional, como leitos cirúrgicos insuficientes e carência numérica de profissionais especializados, devem ser também considerados. Tal escassez impacta na capacidade produtiva do Centro Cirúrgico como um todo e no planejamento e avaliação do serviço.

Referências
DONABEDIAN, A. The criteria and standards of quality. Michigan: Health Administration Press, 1980a. (Explorations in Quality Assessment and Monitoring, v. II).

DONABEDIAN, A. The definition of quality and approaches to its assessment. Michigan: Health Administration Press, 1980b. (Explorations in Quality Assessment and Monitoring, v. I).

DONABEDIAN, A. The seven pillars of quality. Archives of Pathology and Laboratory Medicine, Chicago, v. 114, n. 11, p. 1115-1118, 1990.

FRANCISCHINI, A. S. N.; FRANCISCHINI, P. G. Indicadores de desempenho: dos objetivos à ação - Métodos para elaborar KPIs e obter resultados. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.

MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011.

RESENDE, Leonardo; MAZZO, Alessandra; CLAUDIA, Ana; et al. Avaliação de indicadores de qualidade na gestão do centro cirúrgico de um hospital terciário. Medicina (Ribeirao Preto, Online), p. -, 2022. Disponível em: . Acesso em: 29 maio 2024.

Fonte(s) de financiamento: Não há fontes de financiamento


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