Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC9.11 - Planejamento, avaliação e estratégias de ampliação do acesso a vacinas e medicamentos

48880 - A SUBVACINAÇÃO CONTRA COVID-19 EM ADULTOS DE UM MUNICÍPIO PERNAMBUCANO
VICK BRITO OLIVEIRA - FIOCRUZ-PE, ADRIANA FALANGOLA BENJAMIN BEZERRA - UFPE, SYDIA ROSANA DE ARAÚJO OLIVEIRA - FIOCRUZ-PE


Apresentação/Introdução
Há evidências da queda dos números da cobertura vacinal em diversos países, acompanhado do debate dobre a hesitação vacinal. Recentemente, a pandemia da covid-19 ampliou a discussão e desenhou novos cenários no campo da vacinação, intensificando o desafio da hesitação vacinal em relação à infância e, especificamente, a hesitação frente a vacina da covid-19 para população geral. Neste contexto, o debate ganha outros contornos, como críticas às diversas perspectivas sobre o termo hesitação vacinal e a dificuldade das pesquisas em quantificar essa expansão, sem destacar a contextualização do acesso à vacina ou a discussão da priorização da vacinação frente às outras demandas de vida das pessoas. A partir dessa perspectiva, o termo under-vaccinated apresentou-se como possibilidade para a compreensão da queda da cobertura vacinal. Destaca-se que o termo representa grupos subvacinados, ou seja, pessoas com esquema vacinal incompleto ou não vacinados. Desse modo, compreender aspectos que interferem na subvacinação colabora com os estudos no campo da hesitação vacinal, visto que a hesitação vacinal se desenha no movimento entre a aceitação e a recusa à vacina. Em Pernambuco, por exemplo, a cobertura vacinal da dose de reforço da covid-19 para a população elegível expressa a baixa procura e a expansão da população subvacinada.

Objetivos
Identificar e discutir os elementos que influenciam na subvacinação contra covid-19 em adultos vacinados, ao menos com uma dose da vacina, e a relação com a hesitação vacinal, em um município pernambucano.

Metodologia
A pesquisa utilizou a Teoria Ator-Rede, especificamente a Cartografia das Controvérsias, como perspectiva téorico-metodológica. A entrevista não-estruturada foi utilizada como instrumento para a coleta de dados em adultos subvacinados contra a covid-19. A partir de uma questão disparadora, as pessoas entrevistadas foram convidadas para contar a experiência da vacinação contra a covid-19, especialmente no acesso à vacina e na decisão de manter o esquema vacinal. Trinta e seis pessoas foram entrevistadas, abordadas nas salas de espera das unidades de saúde. Para a escolha dos serviços optou-se por unidades com o maior fluxo de vacinação, todas as regiões de saúde do município foram contempladas. Considerou-se o esquema vacinal disponível até dezembro de 2023. As entrevistas aconteceram nos meses de janeiro e fevereiro de 2024. Os dados foram gravados, transcritos e analisados, a partir da perspectiva teórico-metodológica sinalizada e apresentados considerando os seguintes aspectos: o perfil das pessoas entrevistadas, os agrupamentos temáticos identificados e as controvérsias mapeadas nas relações entre os agrupamentos. Todos os procedimentos éticos foram contemplados na pesquisa.

Resultados e Discussão
Identificou-se três grupos de entrevistados, ao considerar o acesso à primeira dose: a) confiantes na vacina; b) hesitantes, com dúvidas sobre a decisão de se vacinar, e; c) vacinados por exigência, apesar da descrença. Apesar do número de pessoas confiantes no início da vacinação ser maior, cerca de 58,33% relataram a não intenção de seguir com a vacinação. Com foco no contexto dos relatos, aspectos teórico-metodológico subsidiaram os destaques dos trechos das entrevistas para os agrupamentos temáticos, com o intuito de mapear as controvérsias presentes. Assim, seis agrupamentos foram organizados: i) as experiências pessoais e coletivas de confiança e desconfiança na vacina da covid-19; ii) o medo como elemento da hesitação e recusa à vacina; iii) a vacinação como ação coletiva versus a vacinação como ação individual; iv) o acesso à vacina e a manutenção do esquema vacinal; v) vacina e ideologia política; vi) vacina, informação e desinformação. A partir dos agrupamentos temáticos, controvérsias foram mapeadas considerando às interseções entre eles. Três controvérsias surgiram, a primeira controvérsia referiu-se ao conflito confiança e desconfiança na vacina da covid-19, visto que confiar na vacina não foi suficiente para pessoas que iniciaram a vacina da covid-19 prosseguirem com a intenção da manutenção do esquema vacinal; a segunda controvérsia referiu-se à confusa compreensão entre as notícias falsas e os boatos, neste estudo, percebidos como atores diferentes, que impactaram e transitaram de modo distinto no campo da hesitação e recusa vacinal, mesmo contendo conteúdos similares; e a terceira controvérsia referiu-se à existência de barreiras de acesso, mesmo diante da necessidade da ampliação da cobertura vacinal.

Conclusões/Considerações finais
A discussão dos dados aponta elementos importantes no cenário da subvacinação em adultos. Primeiramente destaca a dinamicidade da decisão em manter a vacinação, em que aspectos sobre a hesitação vacinal estão presentes, especialmente no campo da informação sobre a vacina e vacinação, a disseminação de notícias falsas e o foco na experiência com a vacina. Aspectos como a individualização do ato de se vacinar, impactou na manutenção do esquema vacinal, desse modo, houve uma frágil compreensão sobre a dinâmica coletiva da vacinação, ambas dinâmicas atreladas às questões ideológicas. Diante dessas compreensões, desenha-se o desafio dos gestores em garantir acesso à vacina, assim como criar estratégias de manutenção do interesse na vacinação em consonância com as experiencias pessoais e coletivas, visto que a dimensão da experiência de si ou de terceiros se mostrou um importante “ator” na manutenção do esquema vacinal.

Referências
BEDFORD, Helen; ATTWELL, Katie; DANCHIN, Margie; et al. Vaccine hesitancy, refusal and access barriers: The need for clarity in terminology. Vaccine, v. 36, n. 44, p. 6556–6558, 2018.
MACDONALD, Noni E.; SAGE WORKING GROUP ON VACCINE HESITANCY. Vaccine hesitancy: Definition, scope and determinants. Vaccine, v. 33, n. 34, p. 4161–4164, 2015.
PERNAMBUCO. Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco. Covid-19 Acompanhamento Vacinal -Pernambuco [Internet]. [acessado em 15 de maio de 24]. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNmI1NDcyYTUtYTlhMS00ZWFlLWE4MTYtOGQzM2RkMzgyOTAxIiwidCI6ImQ1ZTU0MGZmLTkzNzAtNGNhMi04YmVmLWQwMzcyMWQxM2MwNSJ9&pageName=ReportSectiondc8ac2b66d0753222000.
VENTURINI, T. Diving in Magma: how to explore controversies with actor-network theory. Public Understanding of Science, v. 19, n. 3, p. 258-273, 2010. Disponível em: . Acesso em 7 de setembro de 2022.


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