Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC9.11 - Planejamento, avaliação e estratégias de ampliação do acesso a vacinas e medicamentos

48761 - PANDEMIA POR COVID-19 E O RETROCESSO NO CALENDÁRIO VACINAL DE CRIANÇAS
RAYSSA NOGUEIRA RODRIGUES - UFSJ, GABRIELA LOURENÇA MARTINS NASCIMENTO - UFSJ, THAYS CRISTINA PEREIRA BARBOSA - UFSJ, LUIS HENRIQUE ARROYO - MS, ALINE MENDES VIMIEIRO - SES MG, ELIETE ALBANO DE AZEVEDO GUIMARÃES - UFSJ


Apresentação/Introdução
As políticas públicas de imunização são há anos reconhecidas como a melhor relação custo-benefício em diversos países. O ônus com hospitalização, morte e incapacidade decorrente de doenças evitáveis por vacinas é substancial. Estima-se que, a cada ano em todo o mundo, as vacinas previnam até 3 milhões de mortes1.
Particularmente no Brasil, resultados favoráveis no controle e erradicação de doenças imunopreveníveis foram alcançados ao longo dos anos. Inclusive, o Brasil possui um programa de imunização referência no mundo. O Programa Nacional de Imunização, criado em 1973, oferta hoje 45 imunobiológicos, cuja proteção contempla diferentes grupos populacionais, sendo as crianças o público principal2.
O impacto epidemiológico com elevado alcance social das imunizações, no entanto, vem sofrendo retrocessos. As dificuldades no acesso aos serviços de saúde3, as correntes ideológicas que se contrapõem às vacinações4, o desabastecimento das vacinas5 e mais recentemente, a pandemia por COVID-196 justificam esse cenário.
Particularmente sobre a COVID-19, as medidas de resposta de saúde pública se concentraram, dentre outras, no distanciamento social e nas políticas de quarentena. Essas estratégias tiveram alguns impactos negativos, como a interrupção nos serviços essenciais de saúde, sendo que entre os mais frequentemente afetados destaca-se a vacinação de rotina6.


Objetivos
Identificar clusters espaciais de abandono do esquema vacinal em crianças menores de um ano de idade durante a pandemia por COVID-19.

Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico. A estatística scan espacial foi utilizada para identificar agrupamentos espaciais e medir o risco relativo a partir do indicador abandono do esquema vacinal de rotina durante a pandemia por COVID-19. Esse indicador é calculado a partir da diferença entre o número da primeira e última doses. A população foi constituída por crianças menores de um ano de idade residentes no estado de Minas Gerais, Brasil. As vacinas analisadas foram: poliomielite, pentavalente, pneumocócica 10-valente e vacina oral de rotavírus humano (VORH). O número de doses aplicadas foi oriundo do Sistema de Avaliação do Programa de Imunizações (SAPI), extraído do DATASUS. Definiu-se como parâmetro máximo de detecção espacial o raio de 50% da população exposta. Cada aglomerado foi testado estatisticamente pelo teste da razão de verossimilhança, e a janela com máxima verossimilhança foi considerada como o cluster mais provável. Para a análise foi utilizado o software SaTScan 9.6.

Resultados e Discussão
A estatística scan espacial detectou a presença de clusters estatisticamente significativos para o abandono dessas quatro vacinas durante a pandemia por COVID-19, com elevadas estimativas dos riscos relativos. Destacam-se as macrorregiões do Vale do Aço e Oeste; Norte e Oeste; e Sudeste para as vacinas pentavalente, poliomielite e rotavírus, respectivamente. Além disso, chama a atenção a ausência de cluster na macrorregião Oeste para a vacina rotavírus, pois elevados riscos relativos foram identificados nesta macrorregião para as demais vacinas analisadas.
Os dados apontam que mesmo em países com programas de imunização efetivos2, a exemplo do Brasil, os avanços alcançados em anos anteriores podem ser facilmente perdidos. A pandemia por COVID-19 agravou o cenário do abandono vacinal que já vinha sendo registrado. Esse cenário pode ser justificado pelas medidas de resposta de saúde pública adotadas para mitigar a pandemia, como o distanciamento social e quarentena, além disso, o estrangulamento dos serviços de saúde, a falta de recursos humanos e uma atuação política que contrapôs às medidas protetivas coletivas.

Conclusões/Considerações finais
A pandemia por COVID-19 possivelmente exacerbou o cenário do abandono vacinal em crianças no estado de Minas Gerais, dado a presença de clusters com elevados riscos durante a pandemia em comparação aos anos anteriores. Assim, os resultados desse trabalho demonstram a importância de profissionais de saúde e gestores implementarem estratégias de busca ativa de crianças de forma equitativa.

Referências
1. World Health Organization (WHO). Immunization. 2019 Disponível em: https://www.who.int/news-room/facts-in-pictures/detail/immunization. Acesso em 24 de fev. 2024.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Imunização – Vacinação. 2024.
3. Duarte DC, Oliveira VC, Guimarães EAA et al. Vaccination access in Primary Care from the user’s perspective: senses and feelings about healthcare services. Esc Anna Nery. 2019; 23(1): e20180250.
4. Baumgaertner B, Carlisle JE, Justwan F. The influence of political ideology and trust on willingness to vaccinate. PLoS One. 2018; 13(1):e0191728.
5. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações. Nota Informativa n.17. 2017
6. Rodrigues RN, Nascimento GLM, Arroyo LH et al. Pandemia por COVID-19 e o abandono da vacinação em crianças: mapas da heterogeneidade espacial. Revista Latino-Americana. 2022;30:e3641.

Fonte(s) de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG (APQ-00638-21).


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