54383 - CONHECIMENTOS, ATITUDES E PRÁTICAS EM HANSENÍASE: PERCEPÇÕES DE PESSOAS COM ATUAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE EM MUNICÍPIOS DO CEARÁ NICOLAS GUSTAVO SOUZA COSTA - UFC, JAQUELINE CARACAS BARBOSA - UFC, AYMÉE MEDEIROS DA ROCHA - UFC E NHR BRASIL, NAGILA NATHALY LIMA FERREIRA - UFC, ADRIANA DA SILVA DOS REIS - OPAS/OMS, RÔMULO DO NASCIMENTO ROCHA - UFC, CARMEM E. LEITÃO ARAÚJO - UFC, ALBERTO NOVAES RAMOS JÚNIOR - UFC
Apresentação/Introdução A hanseníase é uma doença negligenciada de natureza crônico-infecciosa, com eventos dermatoneurológicos (WHO, 2023). Incapacidade física e deformidade em consequência de sua evolução clínica, trazem vulnerabilidades de diferentes dimensões, com efeitos em limitação funcional, sofrimento psíquico e restrição à participação social (JESUS et al, 2023). Dessa forma, o diagnóstico precoce, a prevenção de incapacidade e a atenção longitudinal a pessoas acometidas devem mobilizar esforços para garantia de cuidado para além da cura microbiológica da infecção, sob coordenação estratégica da Atenção Primária à Saúde (APS) (SOUZA et al, 2018). Os comportamentos profissionais para manejo do processo de saúde-doença em hanseníase são permeados por conhecimentos, atitudes e práticas, não apenas implicados com questões biomédicas, mas também por crenças, construções afetivas e dimensões funcionais (MCEACHAN et al, 2016). Assim, a análise dos significados e das representações simbólicas que perpassam as dimensões das competências profissionais na APS permite diagnóstico do contexto de assistência à saúde em hanseníase.
Objetivos Analisar conhecimentos, atitudes e práticas em hanseníase de trabalhadores(as) da atenção primária à saúde de municípios do estado do Ceará.
Metodologia Trata-se de pesquisa qualitativa exploratória que integra o estudo “Conhecimentos, Atitudes, Práticas e Percepções relativos à hanseníase em contextos de hiperendemicidade no Brasil" realizado em Fortaleza e Sobral em 2019. De caráter multicêntrico internacional, o estudo envolve, além do Brasil, Indonésia e Índia, com abordagem quanti-qualitativa. Utilizou-se como unidades de observação 4 grupos focais com 21 profissionais de nível superior da APS e 30 agentes comunitários de saúde de ambos municípios O roteiro norteador continha perguntas relacionadas à causa, transmissão, cura e atuação profissional. A condução dos grupos focais foi mantida com vista à saturação teórica e para a qualidade da co-construção do material empírico pela relação entre pesquisadores(as) com os sujeitos da pesquisa. Após transcrição, realizou-se análise temática (BRAUN & CLARKE, 2006), considerando elementos dedutivos e indutivos, interconectados com categorias emergentes no discurso e reflexões propostas pela literatura. Esforços foram empreendidos para perceber os temas e as dimensões nas redes de significado. O estudo foi aprovado pela CONEP com parecer nº 3.248.591 e CAAE nº 486480218.9.0000.5054.
Resultados e Discussão O conhecimento sobre hanseníase se mostrou dependente de experiências clínicas prévias junto a pessoas acometidas. Prevalece a percepção de que a quantidade de casos identificados na área de cobertura das unidades está relacionada com o nível de conhecimento de profissionais de saúde para suspeita clínica: “quem procura, acha”. Além disso, as formações sobre a temática são percebidas como descontínuas, heterogêneas e insuficientes, muitas vezes restritas ao profissional da enfermagem e da medicina. Em contrapartida, são descritos, especialmente na cidade de Sobral, esforços políticos para fortalecimento da temática. Embora o cuidado a uma condição de importância para a saúde pública como a hanseníase esteja presumido nas responsabilidades técnico-sanitárias com o território, algumas falas propõem a sensibilidade individual e a abertura afetiva dos sujeitos como pré-requisitos necessários para atitudes quanto à doença. As diferentes categorias, com seus respectivos núcleos de saberes, atuam com papéis delineados, com limites por vezes tênues, na abordagem à doença. Profissionais de enfermagem tendem a assumir o acompanhamento longitudinal, enquanto a atuação médica foi descrita como reduzida ao diagnóstico e às avaliações sob demanda. Demais componentes da equipe multiprofissional foram pontuados como relevantes para atividades de prevenção e promoção da saúde, apesar de destacado a necessidade de potencializar seus conhecimentos sobre a doença para contribuir na suspeição diagnóstica. Ademais, agentes comunitários(as) de saúde contribuem para a inserção territorial das ações de diagnóstico e de prevenção de incapacidade física. São destacados ainda desafios na integração da rede de saúde, com assimetrias na relação da APS com os serviços especializados em dermatologia.
Conclusões/Considerações finais As experiências do cotidiano das unidades de APS associadas à hanseníase são atravessadas pelos níveis de conhecimento sobre a doença. Há núcleos de saberes descritos que se relacionam entre si para construir um campo comum de prática em hanseníase. Em contrapartida, prevalecem contrassensos na formação e na educação continuada que tendem a enfraquecer a responsabilização da equipe quanto ao cuidado longitudinal à pessoa acometida. Persistem, ademais, fragilidades na integração da rede de atenção à saúde. Dessa forma, a análise de conhecimentos, atitudes e práticas de trabalhadores(as) da APS contribui com um diagnóstico situacional quanto aos motivos de manutenção de parâmetros epidemiológicos de hiperendemicidade da hanseníase, em municípios como Fortaleza e Sobral.
Referências WHO. WHO Global leprosy (Hansen’s disease) update, 2022: New paradigm – control to elimination. Lepr Rev. 2023;94(4):262–3.
Jesus I, Montagner M, Montagner M, Alves S, Delduque M. Hanseníase e vulnerabilidade: uma revisão de escopo. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2023Jan;28(1):143–54.
Souza E, Boigny R, Ferreira A, Alencar C, Oliveira M, Ramos Jr. A. Vulnerabilidade programática no controle da hanseníase: padrões na perspectiva de gênero no Estado da Bahia, Brasil. Cad Saúde Pública [Internet]. 2018;34(1):e00196216.
McEachan R, Taylor N, Harrison R, Lawton R, Gardner P, Conner M. Meta-Analysis of the Reasoned Action Approach (RAA) to Understanding Health Behaviors. Ann Behav Med. 2016 Aug;50(4):592-612.
BRAUN, V.; CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006.
Fonte(s) de financiamento: FUNCAP - Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
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