Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC9.10 - Planejamento e avaliação de políticas e estratégias para gestão de doenças infecciosas

54320 - OFICINA DE IDENTIFICAÇÃO, CATEGORIZAÇÃO, HIERARQUIZAÇÃO E PRIORIZAÇÃO DOS PROBLEMAS RELACIONADOS À SÍFILIS CONGÊNITA EM FORTALEZA/CE
GILMARA MARIA BATISTA TAVARES DA SILVA - FIOCRUZ, LEA DIAS PIMENTEL GOMES VASCONCELOS - FIOCRUZ, EXPEDITA SINHARA SAMPAIO GARCIA - FIOCRUZ, REGILIANDERSON PEREIRA DOS SANTOS - SMS/CE, MICHELLE PONTES CARNEIRO - SMS/CE, ARINA ARAÚJO DA SILVA - FIOCRUZ, NÁDIA MARIA DE LUNA SILVA - SMS/CE


Contextualização
A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica causada pela bactéria treponema pallidum, transmitida predominantemente pela via sexual (sífilis adquirida) e verticalmente (sífilis congênita) pela placenta da mãe para o feto.
Embora com etiologia, diagnóstico e tratamento bem definidos, esta doença milenar cresce globalmente, principalmente nos países em desenvolvimento. O risco de resultados adversos para o feto é mínimo quando uma gestante com sífilis é testada e tratada adequadamente com penicilina benzatina (OPAS, 2019).
Freitas (2019) destaca que a detecção precoce e a administração de terapias adequadas são intervenções centrais para prevenir a SC. Apesar da expansão dos programas de rastreio da sífilis durante o pré-natal, muitos desafios limitam os esforços de diagnóstico e tratamento da sífilis materna em todo o mundo, o que fragiliza as soluções em potencial.
Segundo o último Boletim Epidemiológico de Sífilis (2023), o Brasil possui alta taxa de incidência de SC, alcançando 10,3 casos a cada 1000 Nascidos Vivos (NV) em 2023. Fortaleza aponta para uma epidemia de SC, tendo em vista atingir neste mesmo ano a taxa de 20,5 casos a cada 1000 NV. Cabe destacar que, conforme Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa aceitável para casos de SC seria de 0,5 casos por 1000 NV. A sífilis continua a ser um grande problema de saúde pública no Brasil e essencialmente em Fortaleza.

Descrição da Experiência
Para realização da oficina, participaram profissionais representantes da área da gestão e da assistência da Atenção Primária à Saúde (APS) de Fortaleza: uma gestora de Unidade Básica de Saúde (UBS); uma enfermeira da Estratégia Saúde da Família (ESF); uma médica da ESF; um agente comunitário de saúde (ACS); a Coordenadora Municipal de Saúde da Mulher; o Técnico Municipal de Vigilância Epidemiológica em IST e uma Coordenadora regional de Vigilância Epidemiológica. A oficina ocorreu em maio de 2024 durante um encontro de quatro horas. Inicialmente, foi apresentado aos participantes a série histórica da SC de Fortaleza, bem como outros indicadores epidemiológicos referentes ao agravo. Em seguida, foi solicitado ao grupo que pontuasse todos problemas relacionados a SC, estabelecendo uma respectiva evidência para cada um. Cada problema foi classificado conforme seu valor político, governabilidade, eficácia e custo de adiamento, além de descrever suas causas. Por fim, foi construída a Matriz GUT (Gravidade, Urgência e Tendência), calculando os problemas prioritários a serem trabalhados.

Objetivo e período de Realização
Identificar, categorizar, hierarquizar e priorizar os problemas relacionados à sífilis congênita de Fortaleza/CE; construir matrizes com listagem de problemas, utilizando critérios de seleção; listar as causas de problemas e, por fim, eleger as principais problemáticas a serem enfrentadas pela gestão do capital cearense.

Resultados
A Oficina disparou reflexão em cada participante acerca da epidemia de SC e resultou numa Matrix de identificação de problemas que em ordem decrescente de priorização foram as seguintes questões: 1) Baixo monitoramento dos casos de sífilis gestacional; 2) Baixa qualidade na condução diagnóstico/tratamento da Sífilis Gestacional pela ESF; 3) Dificuldade no diálogo acerca da sexualidade na sociedade; 4) Questão cultural com avanço do conservadorismo dificulta o tratamento das infecções sexualmente transmissíveis; 5) Fragilidade na corresponsabilidade paciente em seu Plano Terapêutico.
A ausência de um mecanismo forte e consolidado de controle dos casos de sífilis materna pode estar contribuindo diretamente para o aumento de casos progressivo de SC em Fortaleza. Isso associado à baixa qualidade no manejo clínico da doença pelos profissionais da ESF foram os pontos máximos da matriz GUT. Dessa forma, aponta-se para que a gestão possa providenciar meios de organização de processos de trabalho que venham a fortalecer a vigilância epidemiológica, além de investir em contínuos processos de educação permanente, contribuindo para que os profissionais ofereçam mais qualidade na assistência prestada.

Aprendizado e Análise Crítica
Diante das especificidades que perpassa a APS de Fortaleza no cuidado ao pré-natal, é necessário analisar as colocações observadas nesta Oficina e propor estratégias para controle da epidemia de sífilis congênita que, muitas vezes, ocasiona tragédias familiares e histórias de luto, além de retratar a baixa qualidade do pré-natal ofertado pela APS. Pensando nisso, esta Oficina vem propor um direcionamento de ações de gestão e assistência para apoiar a ESF em seus processos de trabalho e aprimoramento da qualidade do pré-natal. Sugere-se ainda a elaboração de um plano de ação de enfrentamento à sífilis congênita, tendo como eixos norteadores as questões oriundas desta Oficina.
Trata-se aqui a Vigilância à Saúde como agente para a transformação dos determinantes de saúde e doença, pautando-se no território e suas especificidades. Está centrada nos pilares: território, participação popular e intersetorialidade e incorpora o conceito de processo de trabalho em saúde. A vigilância intervém sobre problemas de saúde nas várias fases do processo saúde-doença; a ênfase em problemas que requerem atenção e acompanhamento; a operacionalização do conceito de risco; a articulação entre as ações promocionais, preventivas e curativas; a atuação intersetorial e as ações sobre o território (Bertolozzi, 2010).

Referências
Pan American Health Organization. Elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis in the Americas. Update 2016. Washington DC: PAHO; 2017 [citado 5 fev 2020]. Disponível em: http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/34072/9789275119556-eng.pdf

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico Sífilis 2023. Brasília: Ministério da Saúde, 2023.

Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.

FARIAS LS, Bertolozzi MR. A vigilância na Atenção Básica à Saúde: perspectivas para o alcance da Vigilância à Saúde Rev Esc Enferm USP 2010; 44(3):789-95 www.ee.usp.br/reeusp/

FREITAS CHSM, Forte FDS, Roncalli AG, Galvão MHR, Coelho AA, Dias SMF. Factors associated with prenatal care and HIV and syphilis testing during pregnancy in primary health care. RevSaude Publica. 2019;53:76


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