49183 - VIGILÂNCIA DE INFECÇÕES RECENTES PELO HIV-1: ESTUDO QUANTITATIVO APOIADO PELO A HORA É AGORA EM CAMPO GRANDE, CURITIBA E FLORIANÓPOLIS VANDA LÚCIA COTA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), RAQUEL BARBOSA MIRANDA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ), MARIELE KRUPPA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CURITIBA, LIZA REGINA BUENO ROSSO - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CURITIBA, ANDREIA SILVA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CAMPO GRANDE, GIORDANA FACCIN - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE CAMPO GRANDE, RONALDO ZONTA - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FLORINÓPOLIS, PRISCILA VALVERDE - SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE DE FLORINÓPOLIS, RENATA RUDOLF - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, MARLY MARQUES DA CRUZ - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA (ENSP/FIOCRUZ)
Apresentação/Introdução O monitoramento em tempo real da epidemiologia das infecções recentes por HIV permite ajustes na resposta da saúde pública em subpopulações e locais com alto potencial de transmissão. Desde os anos 90, testes laboratoriais para infecção recente do HIV-1 têm sido utilizados para estimar a incidência de HIV e avaliar o impacto de intervenções preventivas em larga escala1. No entanto, a interpretação desses testes é desafiada por fatores como respostas imunitárias variáveis, desempenho do teste em diferentes subtipos do vírus, populações com baixa carga viral, uso de terapia antirretroviral e doença avançada por HIV. Esforços têm sido feitos para melhorar a precisão dos testes através de algoritmos de testes de infecções recentes (ATIR), que incorporam o resultado do Teste Rápido de Infecção Recente (TRIR) com outros marcadores de infecção crônica, como baixa carga viral e evidência de tratamento2.
No Brasil, um projeto piloto com teste rápido de recência foi iniciado em dezembro de 2021 em unidades de testagem para o HIV, apoiadas pelo A Hora é Agora, em Campo Grande, Curitiba e Florianópolis. Este projeto visa estabelecer um sistema de vigilância de infecções recentes entre pessoas recém-diagnosticadas, fornecendo dados sobre a proporção de infecções recentes e características sociodemográficas, comportamentais e geográficas dos indivíduos, para orientar intervenções de prevenção.
Objetivos Monitorar tendências na proporção de infecções recentes detectadas pelo TRIR e confirmadas pelo ATIR entre pessoas recém-diagnosticadas com HIV e analisá-las de acordo com variáveis demográficas e de risco para orientar intervenções de prevenção direcionadas e eficazes.
Metodologia Um teste rápido para infecção recente foi realizado em amostras de sangue de pessoas recém-diagnosticadas com HIV em serviços de testagem de rotina. Participantes positivos para o HIV foram convidados a realizar o exame de carga viral rápido na unidade. Se o teste de recência indicasse infecção recente, o resultado da carga viral seria usado para confirmar o algoritmo (ATIR). Os resultados foram vinculados a informações demográficas, comportamentais e de acesso a serviços.
Todos os participantes leram e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O TRIR está disponível apenas para uso em pesquisa, e o protocolo foi aprovado pelos comitês de ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, CONEP (parecer 4.326.496 de 7 de outubro de 2020), pelo Comitê Científico dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e pelos comitês locais de Campo Grande, Curitiba e Florianópolis. O projeto foi realizado entre dezembro de 2021 e setembro de 2023.
Resultados e Discussão Entre os participantes, 75% realizaram os testes TRIR, sendo 25% classificados como infecções recentes, 75% como infecções de longo prazo e três resultados inconclusivos. Todos os usuários com resultados recentes realizaram o exame de carga viral. 88% deles foram confirmados como recentes pelo ATIR e 12% como de longo prazo. Os resultados deste estudo estão semelhantes com o estudo realizado por Yufenyuy et al. que obteve uma concordância de 91,7% com o ATIR, demonstrando a precisão desses testes para detecção de infecções recentes3. McDougal et al. destacaram a importância dos testes rápidos de infecção recente para programas de vigilância, especialmente em contextos de recursos limitados4.
Em termos de perfil demográfico, 70% das pessoas que realizaram o TRIR se identificaram como homens que fazem sexo com homens (HSH), dos quais 27% tiveram resultados indicando infecção recente, com 91% desses confirmados pelo ATIR. Proporcionalmente, a realização do TRIR entre HSH foi maior em Curitiba (75%), seguida por Campo Grande (72%) e Florianópolis (63%). Estudo publicado por Torres et al. enfatizou a necessidade de intervenções direcionadas para minorias sexuais e de gênero, destacando a alta incidência de infecções recentes entre esses grupos5.
Cerca de 62% das mulheres e 64% dos homens realizaram o teste TRIR. A porcentagem de infecções recentes pelo ATIR foi semelhante, sendo 13% para mulheres e 16% para homens. A maioria das pessoas que fizeram o TRIR estava na faixa etária de 25 a 29 anos (28%), seguida por 20 a 24 anos (22%). Entre as infecções recentes, 76% eram HSH, 5% mulheres trans e 3% mulheres trabalhadoras do sexo. A distribuição etária das infecções recentes mostrou que 30% delas estavam na faixa de 25 a 29 anos, seguidos por 26% na faixa de 20 a 24 anos.
Conclusões/Considerações finais Os dados de vigilância deste estudo orientam os municípios no rastreamento de redes ativas de transmissão do HIV e no planejamento de estratégias de prevenção. A alta proporção de infecções recentes entre HSH destaca a necessidade de intensificar intervenções a esta população, especialmente em áreas urbanas com maior incidência. A utilização ATIR mostrou-se eficaz na confirmação de casos recentes, melhorando a precisão diagnóstica e o direcionamento adequado das medidas de saúde pública. A alta taxa de confirmação pelo ATIR reforça a eficácia do uso combinado de TRIR e carga viral para identificar infecções recentes. As disparidades entre cidades sugerem a necessidade de estratégias locais específicas. As informações geradas por este projeto são cruciais para aprimorar as estratégias de prevenção e controle do HIV, adaptando-se às necessidades específicas das populações mais afetadas e fortalecendo o sistema de saúde público brasileiro no combate à epidemia de HIV/AIDS.
Referências 1. Janssen RS, et al. New testing strategy to detect early HIV-1 infection for use in incidence estimates and for clinical and prevention purposes. JAMA. 1998;280(1):42-8.
2. Kassanjee R, et al. Viral load criteria and threshold optimization to improve HIV incidence assay characteristics. AIDS. 2016 Sep 24;30(15):2361-71.
3. Yufenyuy EL, et al. Performance evaluation of the Asante Rapid Recency Assay for verification of HIV diagnosis and detection of recent HIV-1 infections: Implications for epidemic control. PLOS Glob Public Health. 2023;3(8):e0002287.
4. McDougal JS, , et al. Surveillance for HIV-1 incidence using tests for recent infection in resource-constrained countries. AIDS. 2005;19 Suppl 2:S25-S30.
5. Torres TS, et al. Recent HIV infection and annualized HIV incidence rates among sexual and gender minorities in Brazil and Peru (ImPrEP seroincidence study): a cross-sectional, multicenter study. Lancet Reg Health Am. 2023;28:100642.
Fonte(s) de financiamento: Este estudo é uma colaboração entre a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as Secretarias Municipais de Saúde de Campo Grande, Curitiba e Florianópolis, o Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia da Universidade Federal de Santa Catarina e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), financiado pelo Plano de Emergência do Presidente dos EUA para Alívio da AIDS (PEPFAR).
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