04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC9.8 - Desafios e Estratégias na Gestão Hospitalar no Brasil: Análise, Implementação e Avaliação |
50579 - QUAL O TRATAMENTO PARA ANEMIA FERROPRIVA COM MELHOR CUSTO-MINIMIZAÇÃO EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE MATERNO-INFANTIL DE RECIFE? RENAN CAMILO BRAGA - UPE-FCM, BIANCA PIMENTEL DE ANDRADE BARBOSA RABELLO - UPE-FCM, LORENA COSTA CORRÊA - UPE-CISAM, FÁBIO HENRIQUE CAVALCANTI DE OLIVEIRA - UPE-FCM
Apresentação/Introdução A anemia é um problema de saúde pública mundial que atinge mais de 3 bilhões de pessoas. Segundo a OMS, 20 a 30% da população brasileira é anêmica, o que coloca esta condição como uma prioridade a ser debelada. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), 29,4% das mulheres são acometidas por anemia (40% na região Nordeste). Nos casos de anemia ferropriva em mulheres com mioma, a suplementação de ferro endovenoso (EV), provou ser uma melhor opção de tratamento em comparação ao ferro de via oral (VO). Hospitais especializados em ginecologia e obstetrícia, como o Centro Universitário Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), tendem a possuir um público com alta incidência de anemia ferropriva, que recebem tratamento ambulatorial rotineiro. Os compostos à base de ferro empregados nesta terapia, no CISAM, são o sacarato de hidróxido férrico (SHF) EV e, por vezes, a carboximaltose férrica (CMF) EV. Ambas medicações possuem escopo científico suficiente para serem utilizadas nos hospitais nacionais, no entanto, é preciso que seja desenvolvida também uma análise orçamentária dos custos envolvidos. A despeito do histórico subfinanciamento do SUS, este estudo tem como foco aprofundar a discussão sobre a gestão da saúde pública, em regiões com orçamentos limitados, abordando a economia da saúde como estratégia de resposta.
Objetivos Caracterizar os valores de custo associado ao tratamento de anemia carencial ferropriva por SHF e CMF para modelagem dos cálculos de ATS - Avaliação de Tecnologias em Saúde por custo-minimização em uma unidade materno-infantil de referência.
Metodologia Trata-se de estudo tipo coorte retrospectivo de custo-minimização, realizado em um centro especializado em ginecologia e obstetrícia no nordeste do Brasil. Foram avaliados 834 prontuários de pacientes que haviam utilizado algum tipo de ferro EV no período de 13/09/2022 a 25/04/2024, sendo essa amostra por conveniência. As pacientes foram submetidas ao tratamento de anemia ferropriva com CMF ou SHF. A escolha da avaliação econômica do tipo custo-minimização decorre da equivalência terapêutica das duas medicações, tornando, portanto, o elemento principal da análise qual dessas implicará em menor custo para o serviço. O custo frasco-ampola de aquisição da CMF e do SHF, segundo os dados orçamentários oficiais do hospital foram R$504,88 e R$9,42 respectivamente. Através das diretrizes de avaliação econômica foi possível quantificar e avaliar custos diretos relacionados à terapia com ambas as medicações. Foram computados custo frasco-ampola, infusão, consulta ambulatorial, diária de internação de clínica médica e acompanhamento, conforme custos reais da instituição e bancos de dados nacionais. Este estudo detém aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, CAAE número 69943623.7.0000.5191.
Resultados e Discussão Foram avaliados 834 pacientes submetidos ao uso de ferro EV, 644 usaram SHF e 190 CMF. Fazendo uma análise de dose máxima de 1000mg/dia para CMF e 1000mg/dia para SHF, as terapêuticas diferem-se em número de infusões, apenas uma para CMF e cinco para SHF, com intervalo de no mínimo quarenta e oito horas entre essas. No período estudado, foram adquiridos 380 frascos/ampolas de CMF e 6.449 de SHF. Segundo relatório do CISAM, foram gastos R$191.856,73 na aquisição de CMF (R$504,88/unidade) e R$60.809,52 na de SHF (R$9,42/unidade). O custo referente à realização do procedimento EV tem como base um proxis, caracterizando um “custo infusão” equivalente a R$158,24. Os valores da consulta ambulatorial, R$265,00 e diária de internação em unidade de clínica médica, R$364,35, foram estipulados com base em boletim do Programa Nacional de Gestão de Custos (PNGC). Nas duas propostas terapêuticas, perpassa-se por uma única consulta ambulatorial, o que os torna, quanto a valor aproximado, pouco relevante na análise, mas contemplados. Outro custo calculado equivalente em ambos os casos foi o custo acompanhamento, R$59,40, com base na tabela SIGTAP. As pacientes fazendo uso de SHF passaram, no mínimo, cinco dias internadas, resultando em custos de diárias da unidade de clínica médica cinco vezes maiores do que no tratamento com CMF.
Conclusões/Considerações finais O tratamento da anemia ferropriva com SHF, apesar de ter valor unitário/dose menor em comparação com a CMF, quando realizado estudo econômico utilizando custos diretos adicionais como o número de infusões e dias de internação, mostrou-se cerca de 63% mais custoso. A utilização da CMF gera, portanto, redução de custos, permitindo que haja melhor alocação dos recursos financeiros públicos em áreas mais essenciais da saúde coletiva. Somado a isso, um menor tempo de internação, juntamente de menor realização de procedimentos invasivos como a infusão diminui os riscos de infecções oportunistas e complicações. Em um ambiente de recursos limitados, à exemplo do CISAM, um hospital especializado em ginecologia e obstetrícia público no nordeste do Brasil, estudos econômicos como o de custo-minimização são essenciais para garantir a ampliação do acesso à saúde, prezando pela universalização do Sistema Único de Saúde.
Referências MAGALHÃES El da S et al. Prevalência de anemia e determinantes da concentração de hemoglobina em gestantes. Cad Saúde Coletiva. 2018.
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CONITEC. Carboximaltose férrica para o tratamento de pacientes adultos com anemia por deficiência de ferro e intolerância ou contraindicação aos sais orais de ferro. 2023.
VICENTE AB et al. Análise de custo-minimização da carboximaltose férrica (e.v.) em comparação com sacarato de ferro (e.v.) no tratamento da anemia ferropriva na perspectiva da saúde suplementar. J. bras. econ. saúde, 2014.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes metodológicas: Diretriz de Avaliação Econômica, 2014.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretriz Metodológica: estudos de microcusteio aplicados a avaliações econômicas em saúde, 2021.
Fonte(s) de financiamento: Faculdade de Ciências Médicas - Universidade de Pernambuco; GEPISC - Grupo de Estudo, Pesquisa e Intervenção em Saúde Coletiva
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