04/11/2024 - 17:20 - 18:50 RC9.8 - Desafios e Estratégias na Gestão Hospitalar no Brasil: Análise, Implementação e Avaliação |
48790 - POLÍTICA E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA ATENÇÃO ESPECIALIZADA DO SUS: PROJETO DE INTERVENÇÃO EM AMBULATÓRIOS DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO FEDERAL SAMIR RESENDE GUIMARÃES SOUZA - UFJF, LEANDRO DAVID WENCESLAU - UFJF, FÁBIO DA COSTA CARBOGIM - UFJF, ERICH VIDAL CARVALHO - HU-UFJF, SERGIO PAULO DOS SANTOS PINTO - HU-UFJF, PAULA REGINA FILGUEIRAS GAZOLA - HU-UFJF
Apresentação/Introdução Na democracia neoliberal, onde o Estado se articula com a sociedade através de contratos de livre iniciativa, sob o mínimo poder extroverso do primeiro, sérios problemas sociais ainda persistem na vida de milhões de pessoas ao redor do globo, independentes dos índices de crescimento econômico que as nações apresentem. Este fenômeno é diferente do que imaginaram os teóricos keynesianos e traz enormes desafios ao pensamento científico atual. Pobreza, miséria, exclusão violenta, doenças e mortes evitáveis, baixa escolarização, insegurança alimentar e desemprego estrutural estão entre esses problemas persistentes, agrupados por Jaccoud (2005) numa grande categoria denominada “Questão Social”.
O planejamento estratégico situacional (PES) é uma alternativa viável em políticas públicas (policies) ao planejamento estratégico corporativo e empresarial tradicional, pois, se esforça para construir um método de compreender como funciona o jogo social, dinâmico e complexo, onde está inserida a gestão do SUS e das práticas assistenciais. Através da metodologia PES este trabalho pesquisou problemáticas estruturais e propôs um plano de intervenção no ambulatório especializado de um Hospital Universitário Federal.
Objetivos Detectar macroproblemas de gestão na Unidade de Especialidades Clínicas do Hospital Universitário (HU-UFJF/Ebserh), implantando a metodologia do PES
Identificar o posicionamento estratégico do ambulatório especializado em cardiologia, a partir da leitura da realidade externa e do diagnóstico de situações internas – Análise SWOT;
Elaborar um plano de intervenção por meio da ferramenta 5W2H;
Monitorar o trabalho através da aderência à lista de contribuições da Ouvidoria e da Superintendência do Hospital.
Metodologia Pesquisa descritiva qualitativa aplicada no Ambulatório de Cardiologia sob a supervisão estratégica da Gerência de Atenção à Saúde. Suas etapas foram implementadas de acordo com o seguinte ciclo anual de momentos sistemáticos (explicativo, normativo, estratégico e operacional):
1) Seminário de Gestão (mar/22) para análise situacional do serviço, que resultou na construção de uma Matriz SWOT e modelagem de um Plano de Intervenção através da ferramenta 5W2H;
2) Execução de Calendário de aplicação das atividades entre mar/22 e fev/23, com as seis ações planificadas na ferramenta 5W2H;
3) Monitoramentos e Avaliações através do acompanhamento das metas e indicadores de desempenho (efetividade, acesso, eficiência, humanização, aceitabilidade, continuidade, adequação e segurança) contidos nos instrumentos de gestão da organização (PDE, Contrato SUS relatório mensal de não conformidades definidas pelo Setor de Qualidade. Foram apresentados relatórios semestrais à Gerência de Atenção à Saúde do HU.
4) Avaliação Final e Encerramento: seminário interno de encerramento com stakeholders e início de outro ciclo de planejamento para aperfeiçoamento da qualidade do serviço (mar/23).
Resultados e Discussão Carlos Matus (1993) formulou uma seminal crítica ao planejamento governamental tradicional e propôs um método que leva em conta a situação do ator que planeja e adiciona preocupações mais realistas e próximas ao contexto latino-americano. A explicação situacional traz uma metodologia de análise da realidade com enfoque multidisciplinar, apontado necessidade de captar a problemática social como resultante de entrelaçamento de setores e não pode ser reduzida a um mero processo de departamentalização analítica. O PES é uma das ferramentas metodológicas adotada para este trabalho, pois, é histórica e socialmente referenciada.
Além dos mapeamentos que o PES concebe, há de se incorporar no planejamento em saúde enfoques que desenvolvam reflexões sobre os componentes de uma gestão capaz de lidar com a pós-modernidade diversa e fragmentada, “modernidade líquida” na definição de Bauman (2001). A base para assentar este pensamento é a teoria do agir comunicativo de Habermas (1987). Esta incorporação resgata aspectos materiais críticos, racionalistas e interativos, principalmente no desenvolvimento e na aprendizagem organizacional, lidando com os fenômenos contemporâneos das linguagens, que exigem cada dia mais competências em argumentação, negociação, convencimento, disputas, cessões, numa perspectiva integralizadora, dentro de um jogo de avanços (consensos, cooperações) e recuos (disputas, conflitos).
Em setembro de 2023, cinco das seis ações estratégicas de gestão levantadas no 5W2H estavam 100% concuidas no Serviço de Cardiologia (Ações 1,2,3,4,5). Porém, a Ação 6 encontrava-se parcialmente cumprida, pois, envolvia dispêndio de recursos públicos que estão sujeitos aos tramites legais do regime jurídico licitatório.
Conclusões/Considerações finais A formulação e implementação de um plano estratégico para mapear e intervir na situação do Ambulatório de Cardiologia triplicou a produtividade de consultas especializadas e exames cardiológicos oferecidos pelo HU/UFJF à região de saúde de Juiz de Fora/MG, com salto de 500 para 1.500 procedimentos mensais, segundo o Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/DATASUS. 2023).
Porém, este novo processo metodológico, ao mesmo tempo em que traz ganhos, inclusive epistemológicos, coloca outros desafios que devem ser objeto de novos estudos, ou a continuação deste trabalho. Destarte um aprofundamento na detecção dos níveis de satisfação do usuário do Serviço, ou um plano gerencial para trazer maior aderência às metas que foram estabelecidas no novo Plano Diretor Estratégico do HU (2024-2027) e em outros instrumentos de gestão da empresa (Ebserh), como o Contrato SUS.
Referências BAHIA, L. (2005). O SUS e os desafios da universalização do direito à Saúde: tensões e padrões de convivência entre o público e o privado. In: LIMA, NT et al (org). Saúde e Democracia. Rio de Janeiro: FIOCRUZ
EBSERH (2019). Plano Diretor Participativo do HU-UFJF/EBSERH, www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sudeste/hu-ufjf, 18/05/24
PREFEITURA DE JUIZ DE FORA (2022), Convênio 08.2022.024 que insere o HU/UFJF na Rede de Atenção à Saúde do Município
JACCOUD, L (2005). Questão social e políticas sociais no Brasil contemporâneo. Brasília: IPEA
MATUS, C. (1993). Política, planificação e governo. 2. ed. Brasília: IPEA
PALUDO, A. (2024) Administração Pública. Rio de Janeiro, Juspodium, 11 ed
PIKETTY, T. (2014). O capital no século XXI. Ed. Intrinseca
RIVERA, F.J.U., ARTMANN, E. (2010) Planejamento e gestão em saúde: histórico e tendências com base numa visão comunicativa. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.15, n.5
Fonte(s) de financiamento: Recursos próprios do pesquisador.
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