54287 - AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE DE MÉDICOS E ENFERMEIROS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA DURANTE ISOLAMENTO SOCIAL RÍGIDO NA PANDEMIA DE COVID-19 FRANCISCA KARUSA CARVALHO BARBOSA - SECRETARIA DE SAÚDE DE FORTALEZA, CARLOS GARCIA FILHO - UNIFOR, LUIZA JANE EYRE DE SOUZA VIEIRA - UNIFOR, JOSE MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE
Apresentação/Introdução Com o surgimento do novo coronavírus (SARS-Cov-2), originado na cidade de Wuhan na China em dezembro de 2019, casos de COVID-19 surgiram em praticamente todos os países, constituindo-se um dos maiores desafios da atualidade no campo da saúde pública, impactando, do ponto de vista global e local, nas dinâmicas epidemiológicas, sociais, políticas, econômicas e culturais, demandando do setor saúde a adoção de estratégias rápidas de reorganização da rede de saúde para o enfrentamento dos seus múltiplos impactos (SartI et al., 2020; Giovanella et al., 2021).
O curso e a gravidade da pandemia fizeram com que muitos governos adotassem intervenções de grande intensidade, como estratégias de isolamento social rígido, a fim de conter a infecção de novos indivíduos e reduzir a sobrecarga social da doença e sua mortalidade. As praticas de saúde na Atenção Básica necessitaram ser reestruturadas para atender grande número de usuários com sintomas gripais, sendo decretada a suspensão de algumas ações das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), a fim de evitar aglomerações e incentivar o isolamento social, comprometendo o vínculo presencial que a equipe tem com a comunidade, especialmente nas visitas domiciliares (Maciel et al, 2020).
Objetivos Nesta pesquisa, propõe-se avaliar as praticas de saúde de médicos e enfermeiros da ESF de Fortaleza-CE no cenário de isolamento social rígido na pandemia de COVID-19; Analisar as mudanças implementadas no processo de trabalho desses profissionais; e Verificar se houve demanda para as práticas suspensas pelos decretos municipais.
Metodologia Pesquisa avaliativa, transversal, quantitativa inserida no cenário da Atenção Básica no município de Fortaleza. Em Outubro de 2021, haviam 475 equipes compostas por 448 médicos e 474 enfermeiros, distribuídos nos 116 postos de saúde. A amostra correspondeu a 50% dos profissionais que atuaram nos períodos de isolamento social rígido nos anos de 2020 e 2021. Nível de significância foi 5%, erro amostral relativo foi 17,8% e erro amostral absoluto de 8,9%. O cálculo de população Finita foi de 107 profissionais. Utilizou-se questionário eletrônico de autopreenchimento, hospedado em plataforma online. O link foi enviado para contatos por aplicativos de mensagens utilizando a técnica bola de neve, de Agosto a Outubro de 2022, totalizando 121 participantes. Os dados foram tabulados no Excel, processados e analisados por meio do SPSS, confrontando as práticas de saúde recomendadas, com as realizadas, e com a literatura e os estudos sobre a temática na busca de reflexões sobre o que precisa ser feito para o fortalecimento da atenção básica no contexto emergencial.
Resultados e Discussão 63,6% não consideraram a opinião do usuário no processo de reorganização da agenda, 60,3% não realizaram reunião de equipe, 86,8% realizaram renovação de receita sem a marcação de consulta, 92,6% relataram não possuir agendamento para resultados de exames eletivos, 89,3% não realizaram consulta puerperal, 96,7% não realizaram ações de vigilância alimentar e nutricional, 91,7% afirmaram não realizar monitoramento de índices de aleitamento materno e complementar. 64,5% não realizaram a vigilância do contatos intradomiciliares de tuberculose e 79,3% não realizaram vigilância dos contatos intradomiciliares de hanseníase. 87,3% não realizaram visita domiciliar de acordo com avaliações de risco e vulnerabilidade. Verifica-se também que 84,3% não identificaram e nem mobilizaram parceiros e recursos na comunidade para potencializar ações intersetoriais. O acolhimento na Demanda Espontânea foi o mais referido pelos participantes com 90,9%. Dentre as consultas programadas/agendadas, 93% responderam pré-natal, 33,9% hipertensos e 32,2% diabéticos. Apenas 5,8% realizaram busca ativa de câncer de mama e câncer de colo uterino 7,4%. Mesmo com a maioria das práticas de saúde suspensas, a maior procura foi do exame de citopatologia de colo uterino/detecção precoce do câncer de mama com 63,6%, seguido pela visita domiciliar com 57%, consulta hiperdia com 55,4%, puericultura/atendimento a criança com 54,5%, consulta em saúde mental com 49,6%, planejamento familiar com 43,8%. Mesmo em isolamento social rígido, o cuidado não pode ser negado, pois favorece a fragilização do vínculo com os profissionais, contribui para que pessoas vinculadas ao serviço deixem de buscá-lo, centralizando o cuidado no uso de medicamentos e represamento das necessidades de atenção (Frota et al, 2022).
Conclusões/Considerações finais Nos períodos de isolamento social rígido, as agendas dos profissionais foram reorganizadas ampliando o acesso à demanda espontânea. A suspensão dos atendimentos por períodos prorrogados configuraram barreiras de acesso. Verificou-se uma distância entre as recomendações e as necessidades reais dos usuários em relação as ações de promoção, proteção e controle de riscos e soluções das vulnerabilidades provocadas ou acentuadas neste contexto, pois a reorganização não contemplou os impactos da COVID-19 em sua amplitude, havendo a procura para todas as práticas de saúde suspensas, heterogeneidade nas ações em relação ao que foi recomendado, além da pouca realização de ações de promoção da saúde. O planejamento das ações deve ser incentivado, construído coletivamente e atualizado conforme situação epidemiológica, para que sejam ofertadas práticas de saúde aos mais vulneráveis, aumentando a eficiência e a oportunidade de atuação diante do cenário da pandemia.
Referências GIOVANELLA, L. et al Es la Atención Primaria de Salud integral parte de la respuesta a la pandemia de Covid-19 en Latinoamérica? Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 19, p. 1-28, e00310142, 2021.
SARTI, Thiago D. et al Qual o papel da Atenção Primária à Saúde diante da pandemia provocada pela Covid-19? Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 29, n. 2, p. 1-5, 2020.
MACIEL, F. B. M. et al. Agente Comunitário de Saúde: reflexões sobre o processo de trabalho em saúde em tempos de pandemia de COVID-19. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2020, v. 25, p. 4185-4195, 2020.
FROTA, A. C. et al. Vínculo longitudinal da Estratégia Saúde da Família na linha de frente da pandemia da Covid-19. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 46, p. 131-151, 2022.
Fonte(s) de financiamento: própria
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