04/11/2024 - 17:20 - 18:30 RC9.5 - Política Nacional de Saúde Bucal: gestão, monitoramento e avaliação dos serviços |
51074 - USO DOS SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS AO LONGO DE 22 ANOS: RESULTADOS DE UMA COORTE DE SAÚDE BUCAL NO MUNICÍPIO DE SOBRAL, CEARÁ ADRIANO DE AGUIAR FILGUEIRA - UFC, ÍCARO SANTIGO DE AQUINO - UFC, MARIANA FAÇANHA NANTUA BESERRA - UFC, GUSTAVO BRITO BEZERRA SIQUEIRA - UFC, MARIANA RAMALHO FARIAS - UFC, ANA KARINE MACEDO TEIXEIRA - UFC
Apresentação/Introdução A implementação da Política Nacional de Saúde Bucal ampliou o número de equipes de saúde bucal na atenção primária, além de estruturar uma Rede de Atenção à Saúde Bucal no país, ofertando uma atenção integral aos cuidados orais a toda a população brasileira, independente do ciclo de vida e/ou condição de saúde (Brasil, 2018).
Apesar da ampliação do acesso e do uso dos serviços de saúde bucal desde 2004 até os dias atuais, a utilização dos serviços odontológicos no país ainda é maior entre pessoas com melhores condições socioeconômicas como escolaridade e renda, sendo perceptível também a desigualdades regionais, onde Norte e Nordeste do país representam as regiões com piores indicadores de uso destes serviços (Fagundes et al., 2021; Palmeira et al., 2022).
Estudos longitudinais, como a Coorte de Saúde Bucal de Sobral, são essenciais para o acompanhamento e a compreensão da evolução do acesso e uso dos serviços odontológicos ao longo do tempo, bem como nas trajetórias de vidas das pessoas. Compreender a frequência de utilização, os tipos de serviços mais utilizados e os motivos que levam a procura dos serviços são essenciais para se planejar e executar políticas no campo da saúde bucal.
Objetivos O objetivo deste estudo é apresentar a evolução da utilização de serviços de saúde bucal por residentes do município de Sobral, Ceará, em um período de acompanhamento de 22 anos.
Metodologia Trata-se de um estudo de coorte realizada desde o ano 2000 no município de Sobral, Ceará, e que, atualmente, conta com quatro momentos de coleta de dados: 2000, 2006, 2012 e 2022.
O estudo iniciou em 2000 com uma amostra de 1021 crianças de 5 a 9 anos de idade, sendo a última onda realizada em 2022, quando foram localizados e examinados 290 participantes, que no momento da pesquisa apresentavam idades entre 27 e 31 anos.
Todos os participantes responderam uma entrevista estruturada e tiveram a cavidade oral examinada para diversas condições de saúde bucal, baseada nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para levantamentos epidemiológicos em saúde bucal.
Para o presente estudo, foram consideradas apenas as respostas nas quatro ondas referentes a utilização dos serviços de saúde bucal como ida ao dentista em algum momento da vida, tempo de ida da última consulta, o tipo de serviço utilizado e o motivo que levou a última ida ao dentista.
Realizou-se uma análise descritiva dos dados, através do cálculo percentual, considerando as quatros ondas de forma transversal.
Resultados e Discussão Como resultados, pode-se observar que houve um aumento do percentual de participantes que utilizaram pelo menos uma vez algum serviço odontológico ao longo de 22 anos, saindo de 50,9% em 2000 e chegando a quase 99% na última onda do estudo.
Como os principais problemas de saúde bucal como a cárie e a doenças periodontal precisam de um tempo para acontecer, espera-se que ao longo do tempo esses problemas se tornem mais frequente, forçando a procura por serviços de saúde bucal. O SB Brasil 2010 apontou que 18,1% das crianças com 12 anos de idade nunca foram ao dentista; enquanto, em adultos, esse número caí para 7,1% (Brasil, 2012).
O uso dos serviços de saúde bucal nos últimos doze meses apresentou flutuações ao longo dos anos, sendo mais frequente a ida no ciclo de vida da infância, onde 65,3% dos participantes usaram o serviço de saúde bucal no último ano, reduzindo na adolescência para 44,3% e aumentando na vida adulta para 50,2% e 53,8% nos anos de 2012 e 2022 respectivamente.
Quanto ao tipo do serviço odontológico, o uso do público reduziu ao longo do tempo. Em 2000, 85,4% utilizaram o serviço público no último atendimento, enquanto em 2022, esse número caiu para 43%. O motivo da ida ao dentista também sofreu alterações com o tempo, enquanto 44,3% das crianças buscavam para prevenção, apenas 23,8% os adultos procuraram o dentista pelo mesmo motivo.
Em 2000, muitos serviços eram ofertados dentro do ambiente escolar, reflexos do modelo de atenção da Odontologia Sanitária, facilitando o acesso de escolares aos serviços. Com a ampliação das equipes de saúde da família com saúde bucal, grande parte dos programas ofertados na saúde são voltados para a saúde materno-infantil, o que acaba por dificultar o acesso ao público adolescente e adulto (Filgueira et al., 2020).
Conclusões/Considerações finais Pode-se concluir que, apesar do aumento do acesso aos serviços de saúde bucal em 22 anos, houve uma redução do uso do serviço público ao longo da vida. A utilização dos serviços públicos ainda é dificultada para a população adulta, o que faz com que procurem muitas vezes o serviço privado, provavelmente, pela escassez de programas voltados a esse público, especialmente com ações preventivas. Esse público também acaba por adentrar no mercado de trabalho, onde o horário de funcionamento das unidades de saúde é mais uma barreira de acesso aos serviços públicos de saúde, fazendo com que a procura pelo profissional da Odontologia aconteça principalmente para motivos de tratamento, quando o paciente identifica o processo de adoecimento por sinais e/ou sintomas.
É necessário pensar em estratégias que facilitem o acompanhamento longitudinal do público adulto com ações de promoção e prevenção de doenças bucais, visto as barreiras que podem surgir para esse público.
Referências BRASIL, Ministério da Saúde. A Saúde Bucal no Sistema Único de Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília, 2018.
BRASIL, Ministério da Saúde. SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília, 2012.
FAGUNDES, M.L.B. et al. Desigualdades socioeconômicas no uso dos serviços odontológicos no Brasil: uma análise da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. Rev. Bras. Epidemiol, 24 (suppl 2), 2021.
FILGUEIRA, A.A.F. et al. Fatores contextuais associados ao uso dos serviços odontológicos públicos e privados por jovens do município de Sobral, Ceará. SANARE – Revista de Políticas Públicas, 19 (1), 2020.
PALMEIRA, N.C. et al. Análise do acesso a serviços de saúde no Brasil segundo perfil demográfico: Pesquisa Nacional de Saúde 2019. Epidemiol. Serv. Saúde, 31 (3), 2022.
Fonte(s) de financiamento: Funcap - Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PPSUS).
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