Roda de Conversa

04/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC9.3 - Metodologias e Experiências no Planejamento e Avaliação na Atenção Primária à Saúde

52334 - “SÃO TANTOS PROBLEMAS DE SAÚDE, O QUE FAZER?”: EXPERIÊNCIA DE PLANEJAMENTO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
FRANCISCA CLÁUDIA MONTEIRO ALMEIDA - UECE, KERLEY MENEZES SILVA PRATA - UECE, CARLOS GARCIA FILHO - UECE, JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE


Contextualização
Na sua essência, a atenção primária à saúde (APS) cuida das pessoas inseridas em seus territórios, e dessa forma, para enfrentar os problemas de saúde, há de se considerar a interação com o meio em que vivem, em busca de atenção integral e de qualidade. Espera-se que a APS atue de forma sistemática sobre os determinantes de saúde (incluindo características e comportamentos sociais, econômicos, ambientais, bem como das pessoas), por meio de políticas públicas e ações baseadas em evidências (OPAS, 2024). Destaca-se que a coexistência de diferentes problemas e o desequilíbrio entre as necessidades em saúde e os recursos disponíveis, demandam a escolha daqueles que necessitam de intervenção prioritária, ou seja, uma tomada de decisão estratégica. A matriz GUT (gravidade x urgência x tendência) se aplica a esse contexto de decisão. Ela foi proposta por Charles H. Kepner e Benjamim B. Tregoe na década de 80 como uma das ferramentas de gestão da qualidade usada na definição de prioridades na solução de problemas considerando a gravidade (intensidade dos danos que o problema pode causar se não atuar sobre ele), a urgência (tempo para o surgimento dos danos) e a tendência (desenvolvimento que o problema terá na ausência da ação) (NAPOLEÃO, 2019).

Descrição da Experiência
Trata-se de um relato de experiência de uma oficina realizada como atividade de dispersão da disciplina do Programa de Pós-graduação em Saúde da Família (PPGSF), da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF), na Nucleadora Universidade Estadual do Ceará. A oficina ocorreu numa Unidade de Atenção Primária em Saúde (UAPS) do município de Fortaleza. Contou com a participação de 16 profissionais, entre médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde (ACS) e o gestor da UAPS. A atividade foi organizada em quatro etapas a saber: 1 - Identificação dos Problemas e suas evidências, onde os participantes realizaram uma tempestade de ideias listando os problemas percebidos e, após serem eliminadas as repetições, o produto da discussão coletiva foi consolidado num quadro; 2- Hierarquização dos problemas considerando alguns critérios (valor político, governabilidade, eficácia e custo de adiamento); 3- Listagem das Causas e Agrupamento dos Problemas Segundo sua Natureza; 4- Elaboração da Matriz GUT – Priorização dos Problemas.

Objetivo e período de Realização
Relatar a experiência da realização de uma oficina de planejamento em uma Unidade de Atenção Primária do município de Fortaleza, considerando-se a realidade do território da comunidade.
A experiência ocorreu em abril de 2024.


Resultados
Dentre as prioridades de problemas: 1-Prevalência de violência urbana e uso de drogas; 2-gestantes faltosas aos exames, com risco social, usuárias de drogas, com sífilis e diabetes; 3-crianças faltosas à puericultura. 4-dificuldade em acompanhar casos de tuberculose; 5-problemas com mesma pontuação: baixa cobertura Papanicolaou, agravos de saúde mental e baixo nº de consultas de adolescentes.
É fato o crescimento da violência urbana e efeitos deletérios nas comunidades, como barreira no acesso aos serviços de saúde e ao próprio território. Pesquisa sobre os efeitos da violência urbana na saúde mental e no processo de trabalho do ACS no Brasil, aponta que regiões mais vulneráveis são mais afetadas, com redução nos serviços de saúde oferecidos, sobretudo aos idosos (VIEIRA-MEYER, et al., 2023). Dados do Ministério da Saúde indicam aumento na taxa de detecção de sífilis em gestantes, de 5,7 para 21,5, e na incidência de sífilis congênita (por mil nascidos vivos), de 4,0 para 9,0. Esse aumento está ligado a fatores como acesso a testagem rápida, desinformação, menor uso de preservativo, redução da utilização da penicilina benzatina na APS e desabastecimento do fármaco (FIOCRUZ, 2022).


Aprendizado e Análise Crítica
O olhar para o território, possibilita evidenciar os problemas de maneira sistematizada, considerando os seus efeitos na comunidade, a governabilidade e os desafios do enfrentamento, promove uma reflexão crítica e melhoria dos processos de trabalho na APS. Além disso, reforça a potencialidade dos sujeitos envolvidos e do trabalho em equipe na produção do cuidado em saúde. A oficina proporcionou a integração entre os diversos profissionais da UAPS e a gerência em torno de um evento importante na avaliação e planejamento de ações em resposta aos problemas locais de saúde. Ao utilizar a matriz GUT, os participantes perceberam a necessidade de se organizar e priorizar os problemas em respostas às demandas de saúde da comunidade. A pergunta sobre a multiplicidade dos problemas na APS nos aponta respostas urgentes e necessidade de priorização. Nesse contexto, os resultados, sinalizam a relevância do planejamento como ferramenta que potencializa o reconhecimento da realidade social, tal como confere direcionalidade à gestão do cuidado. Ademais, ao identificar os problemas de saúde da população, também indica a complexidade das demandas, requisitando elaboração de intervenções, as quais podem demandar a realização de pesquisa com vistas à melhor compreensão e solução, a exemplo da sífilis congênita, como um problema de elevada magnitude e com tendência negativa.

Referências
NAPOLEÃO, B.M. Matriz GUT (Matriz de Priorização). 2019. Disponível em: .
OPAS. Atenção primária à saúde. Disponível em: .
Agência Fiocruz de Notícias. Disponível em: .
VIEIRA-MEYER, A. P. G. F. et al. Saúde mental de agentes comunitários de saúde no contexto da COVID-19. Ciência & Saúde Coletiva, v. 28, n. 8, p. 2363-2376, 2023.


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