51400 - A TERRITORIALIZAÇÃO COMO AÇÃO DE PLANEJAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA QUEM? KERLEY MENEZES SILVA PRATA - UECE, SABRINA FERREIRA DA SILVA - UECE, SUIANE RODRIGUES VIANA - UFC, JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE
Contextualização Em meados de 1990 colocava-se a questão de como fazer o planejamento da terrritorialização na Atenção Primária do Sistema Único de Saúde (SUS). Entendeu-se que toda a estrutura e o próprio modelo do assistencialismo à saúde não dependem apenas de como são distribuídos os serviços, mas também como são organizadas suas ações no território, principalmente as ações de prevenção e promoção. Diante disso, é necessário que haja um vínculo entre a população, a gestão e os serviços de saúde e não somente uma delimitação e organização no território. Portanto, a territorialização da saúde, ganhou força a partir da implementação dos Distritos Sanitários, sendo fortalecida depois, quando incorporada aos programas Agentes Comunitário de Saúde (ACS) e Saúde da Família (PSF) e posteriormente passou a fazer parte das políticas Estratégia da Saúde da Família (ESF) e das Redes de Atenção à Saúde (RAS) (FARIA, 2020). A ESF, tem como diretriz a territorialização, que vem com a proposta de implantar ações de planejamento, melhorando assim o processo de trabalho da equipe de saúde da família diante a situação encontrada naquele determinado território, levando em consideração os determinantes e condicionantes sociais no processo saúde doença. A realização do mapeamento do território consegue localizar famílias e eventos que se encontram em situação de risco e ou vulnerabilidade (TETTEMAN et al., 2016)
Descrição da Experiência Trata-se de um relato de experiência sobre o processo de Territorialização em uma Unidade de Atenção Primária a Saúde. O movimento de (re)Territorialização aconteceu em 8 dias previamente agendado com os Agentes Comunitários de Saúde. O local das reuniões foi no posto de saúde e na casa da Associação dos ACS. No momento inicial os 10 ACS apresentaram as respectivas microáreas. No segundo momento, para elaboração do mapa do território foram utilizados cartolinas, canetas e lápis de cores. A organização das microáreas por legenda de cores e a contagem de pessoas acompanhadas por quarteirão foi uma estratégia realizada para a divisão do território. Embora a equipe 1 tenha 6 ACS e com cerca de 4000 pessoas, ainda há áreas descobertas. A segunda equipe com 4 ACS, possui uma extensa área descoberta. Embora, com duas equipes ainda é necessário ampliar a estrutura do serviço e cadastrar as pessoas residentes na área para que justifique a ampliação de mais equipes. O terceiro momento foi de visitas ao território, de aproximação com as dificuldades de compreender os limites entre as microáreas, de redistribuição de pessoas acompanhadas, de algumas trocas de ruas e adequações de número de pessoas por ACS. Ao final da compreensão da dimensão territorial, foi apresentado em reunião as duas equipes com os seus respectivos profissionais.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência do processo de Territorialização como uma ação de planejamento em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde de um município da região metropolitana de Fortaleza, realizado de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024.
Resultados O movimento de Territorialização possibilitou revisitar mapas para atualização de residências, equipamentos sociais e permitiu a redistribuição de ruas para cada agente de saúde. Uma das dificuldades enfrentadas na redivisão das microáreas é a dificuldade de entrar em áreas de vulnerabilidade social dominadas pela violência. Reconhecer o território com as suas potências e fragilidades nos ajudam na compreensão do deslocamento da comunidade até as suas consultas. As barreiras geográficas impostas pela falta de saneamento básico, lixo e esgoto a céu aberto, fazem o contraste nas ruas mais próximas do posto com boas condições sanitárias. A territorialização está para além da adscrição da clientela no pedaço de chão, pois ela está no vínculo das relações de afeto que os ACS alimentam quando acompanham as pessoas nos seus diferentes ciclos de vida. Foram momentos de escuta sobre necessidades e demandas do território e momento de divisão e reconhecimento das duas equipes de saúde. Após 20 anos de inauguração do posto, o serviço ganhou mais uma ESF, embora não seja o suficiente, foi possível ampliar os atendimentos e diminuir a demanda reprimida.
Aprendizado e Análise Crítica O movimento de Territorialização trouxe a organização de ruas com as numerações de cada ACS para cada equipe de saúde. Sendo necessário que a gestão participe dessa prática para que se aproxime do contexto do vivido, pois afinal: As políticas públicas são feitas para quem? Que modelo de gestão prioriza as demandas (des)organizadas por uma triagem que se confunde com o acolhimento em detrimento das necessidades e demandas do território? Como ficarão as gêneses dos vínculos firmados entre os ACS e o serviço, haja vista de que os usuários podem ser atendidos por qualquer equipe de saúde? Os usuários não conseguem identificar quem é o seu médico e enfermeiro de equipe e somando-se a isso, não sabem a que terapêutica seguir para controle de suas comorbidades. Seja pela rotatividade de profissionais como pela falha na longitudinalidade do cuidado, os usuários comparecem nos dias de demanda espontânea, não comparecendo em dias agendados previamente para dar seguimento aos cuidados de saúde. Dessa forma, é relevante reconhecer o movimento de Territorialização para organizar processos de trabalhos, a partir do planejamento em saúde. As agendas das equipes foram baseadas no contexto de saúde do Território embora sofram as tensões da demanda espontânea.
Referências FARIA, Rivaldo Mauro de. A territorialização da atenção básica à saúde do sistema único de saúde do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 4521-4530, 2020.
TETEMANN, Edialy Cancian; TRUGILHO, Silvia Moreira; SOGAME, Luciana
Carrupt Machado. Universalidade e Territorialização no SUS: contradições e tensões inerentes/Universality and Territorialization in SUS: contradictions and tensions inherent. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 15, n. 2, p. 356-369, 2016.
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