53330 - O DESAFIO DA PRODUÇÃO COMPARTILHADA DE CONHECIMENTOS E PRÁTICAS EMANCIPADORAS NA GESTÃO DE PROCESSOS EDUCACIONAIS NA SAÚDE. CARLA PONTES DE ALBUQUERQUE - UNIRIO, BEATRIZ ALVES WENDERROSCKY - UNIRIO, CLAUDIA RODRIGUES DOS REIS - UNIRIO, GEOVANNA DE MELO DA SILVA DE SOUSA - UNIRIO, LARISSA CARVALHO PESSANHA - UNIRIO, MIGUEL MARTINS - UNIRIO, KATERINE LUIZA FRANCISCO GOMES - UNIRIO, KELIOMAR LUIZA FRANCISCO GOMES - UNIRIO, NILCEA FRANCISCO GOMES - UNIRIO, VICTÓRIA GABRIELA DELGADO NUNES E SOUSA MORAIS - UNIRIO
Contextualização Na perspectiva de Comunidade de Aprendizagem, termo cunhado pelo educador José Pacheco e com inspiração da educação popular freiriana, constituiu se nos últimos dez anos, com maior densidade a partir da pandemia de Covid 19, o Coletivo Sumaúma de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O mesmo envolve estudantes e docentes dos cursos da saúde, artes, ciências humanas e sociais, no fortalecimento da integração ensino, serviços e comunidades, enfatizando processos comunicacionais mais horizontais frente às diversidades existentes nos territórios de vida, em defesa de direitos e equidade.
Sumaúma é uma árvore majestosa amazônica, testemunha em ABYA AYLA, de tempos anteriores à colonização europeia. Seu tronco ao ser percutido comunica novas e ancestrais mensagens. A escolha de seu nome intenciona aprender com sua resistência e reexistência, invocando a força de suas raízes desbravadoras, que por baixo da superfície, apoiam outras árvores em momentos de fragilidade.
Reunindo projetos de ensino, extensão, pesquisa, dentre outros e efetivando redes intra e extramuros, este coletivo busca problematizar a hegemonia da racionalidade biomédica nos processos formativo, de gestão, trabalho e cuidado na saúde, oportunizando experiências participativas que tragam interdisciplinaridade, intersetorialidade, interprofissionalidade e interculturalidade.
Descrição da Experiência O Coletivo Sumaúma tem atuado principalmente com populações vulnerabilizadas, na elaboração de cartografias sobre os desafios do cuidado recíproco comunitário e ambiental. Cartografar, significa ir ao encontro das realidades das vidas nos territórios, aprender com estas sobre as estratégias comunitárias de construção de redes vivas de cuidado, onde as políticas públicas são insuficientes. Os/as participantes experienciam lidar com as diversidades presentes para além das perspectivas colonizadoras euro norte americana centradas e identificam a necessidade da superação de modelos higienistas e prescritivos, tão recorrentes nos processos educativo e assistencial. Com o MST tem realizado anualmente a Jornada Universitária da Reforma Agrária Popular; com a Comissão Estadual de Direitos Indígenas do Rio de Janeiro tem elaborado jornadas de educação permanente para profissionais de saúde que atuam em territórios indígenas; com a Coordenação de Ações de Saúde para Populações em Situação de Vulnerabilidade da Secretaria Estadual de Saúde tem dialogado com comunidades quilombolas sobre suas questões de saúde; no território da Gamboa, zona portuária carioca, que passa por processo de gentrificação, se soma aos movimentos que lutam pela resistência histórica do bairro e com a Casa das Pretas, tem contribuído nos espaços de ativismo e formação contra o racismo e a violência de gênero.
Objetivo e período de Realização - Proporcionar oportunidades de formação, cuidado, gestão e trabalho na saúde nas quais haja construção compartilhada de saberes e prática, científicas e populares, na luta por direitos e equidade.
Ao longo de uma década de existência, o Coletivo Sumaúma tem atualizado seus integrantes (os/as estudantes concluem a graduação) e os territórios onde atua (atualmente, os citados acima).
Resultados Um fruto significativo tem sido ampliar porosidades nos muros universitários, no trazer o mundo da vida, a diversidades populacionais para dentro e levar a respectiva comunidade acadêmica para fora, fertilizando encontros de saberes. Assim como também acontecem algumas vezes, rupturas das amarras disciplinares na própria academia, compondo ações voltadas para a qualidade de vida nos territórios, integrando estudantes e docentes de diferentes áreas e não só da saúde.
Resignificar a integração ensino-serviço, retomando a proposta da educação permanente, na qual todos/as são aprendizes e também educadores/as se faz necessário.
Em similar sentido, emergem situações onde é necessário romper com barreiras entre os serviços de saúde e os grupos populacionais assistidos, especialmente no que tange a atenção básica, que vem cada vez mais se afastando dos seus territórios, não obstante o declínio da pandemia.
Nas travessias, em que acontece diálogo intercultural, é preciso enfrentar com muito zelo, as assimetrias comunicacionais na difícil arte de compor horizontalidades, seja na formação, no cuidado, no trabalho e na gestão da saúde
Aprendizado e Análise Crítica A tecelagem de comunidades de aprendizagem acolhe a rebeldia de deslocamentos/linhas de fugas perante um modelo formativo na saúde que já há muito se mostra inadequado para o cuidado na contemporaneidade. Esse processo formativo no coletivo que valoriza as singularidades de cada integrante, aberto ao que emerge nos encontros nos territórios, para além dos muros universitários, tem revelado um potente caminhar com suas rugosidades e deslizares (aprendizagens com Sumaúma).
No entanto, há de se considerar a contra hegemonia da proposição, o enfrentamento de uma cultura colonizadora e colonizada acadêmica, a pouca familiaridade dos profissionais de saúde que atuam nas redes de serviços, no que tange a diálogos interculturais mais horizontais e o desafio da construção de vínculo e confiança com os territórios envolvidos.
Referências ALBUQUERQUE, C.P.DE; FLEURI, R.M. Lições da pandemia: aprender com outras epistemologias o cuidado coletivo com reciprocidade. Revista de Educação Popular, 13 jul.2020.
ALBUQUERQUE, C.P. Educação Popular e decolonialidade: resistências, reexistências e potências para um cuidado inclusivo na saúde e projetos coletivos para o “Bem viver”. Interface (Botucatu). 2021
CECCIM, R.B. & FEUERWERKER, L.C.M. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. Physis. v. 14, 2004.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessárias à Prática Educativa. São Paulo, Brasil: Paz e Terra, 1997.
FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Medicina Social. In: FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1997.
MERHY, E. e colaboradores O pesquisador in-mundo e o processo de pesquisar outras formas de investigação em saúde. Lugar Comum n 39, 2013.
PACHECO, J Aprender em Comunidade. Rio de Janeiro: SM, 2014.
.
Fonte(s) de financiamento: Dos projetos envolvidos, bolsas estudantis fornecidas pela universidade.
|