Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.28 - Correlações entre trabalho e formação

51047 - A IMPLEMENTAÇÃO DO SERVIÇO DE CUIDADOS PALIATIVOS EM UMA UTI: UMA ANÁLISE SOCIO CLÍNICA INSTITUCIONAL
CARLA ANDREIA DAMASCENO FONSECA - UFF, JANAINA LUIZA DOS SANTOS - UFF, SAMARA MESSIAS DE AMORIM - INCA, ANA CLEMENTINA VIEIRA DE ALMEIDA - UFF, LÚCIA CARDOSO MOURÃO - UFF, DANIELA VOGEL DE SOUZA - UFF


Contextualização
Os cuidados paliativos (CP) iniciaram-se com Cicely Saunders em 1967, através de uma nova maneira de cuidar de pessoas em fase terminal da vida. Com o passar dos anos a definição dos CP ampliou-se, tendo como a mais recente a Portaria do Ministério da Saúde de maio de 2024 em que institui a Politica Nacional de Cuidados Paliativos como cuidados integrais dirigidos a indivíduos de diversas faixas etárias que enfrentam sofrimentos relacionados a enfermidades/síndromes graves ameaçadoras da vida. Seu objetivo é proporcionar qualidade de vida as pessoas, seus familiares e cuidadores. São aplicados em toda trajetória da doença e em todos os níveis de assistência à saúde, visando à integralidade, universalidade e equidade no cuidado. Nas últimas décadas a pirâmide etária do país mudou aumentando a expectativa de vida. As inovações tecnológicas influenciam no prolongamento da vida e a morte passa a ser um processo longo, doloroso, adiado, principalmente em CTI. Os CP implementados nesse ambiente com equipe multidisciplinar especializada é de grande valia, pois mitiga possíveis ocorrências de distanásias. Nesse contexto refletimos sobre a implantação e implementação da prática desenvolvida na UTI em um Hospital Público no Município de Campos dos Goytacazes onde a primeira autora atua como enfermeira, acerca do atendimento em CP pela equipe.

Descrição da Experiência
Em outubro de 2023, de forma isolada, um médico paliativista iniciou o atendimento a pacientes internados no referido setor através de solicitação via parecer, após avaliação, o mesmo solicita exames quando necessário, avalia o histórico do doente e após realizar o diagnóstico de doença incurável, elege a prática da paliatividade ou não, à equipe. Porém, nenhuma equipe foi treinada para tal prática, a avaliação não é integral e nem tão pouco multiprofissional, quiçá interprofissional, perpetuando um cuidado biomédico e não na integralidade da atenção ao ser humano como preconiza os CP, fazendo com que a equipe se sinta insegura e com receio de terem suas condutas confundidas com eutanásia. Por iniciativa da primeira autora deste estudo foram propostas rodas de conversas semanais com toda a equipe para avaliar as dificuldades enfrentadas com essas novas atribuições no seu processo de trabalho e elencar os encaminhamentos necessários para que os cuidados paliativos fossem colocados em prática de forma a garantir a dignidade das pessoas no final das suas vidas.

Objetivo e período de Realização
Através dos conceitos da Análise Institucional em sua abordagem sócio clínica institucional como favorecedores de um novo olhar da equipe sobre o cuidado e tratamento em CP é realizada uma análise coletiva através de debates e reflexões sobre a assistência em CP prestados no CTI adulto. A periodicidade dessa reflexão se dá desde outubro de 2023 até os dias atuais em encontros semanais com um total de 43 profissionais envolvidos.

Resultados
Ao longo dos encontros semanais, durante os plantões, com frequência os profissionais de enfermagem, medicina, serviço social, psicologia, fisioterapia, nutrição e odontologia que prestam atendimento no CTI, expuseram muitas dúvidas de como conduzir o atendimento aos pacientes em CP. A maioria deles relatou que não houve esta abordagem durante suas formações, permanecendo como padrão a formação com cunho curativo. Os profissionais principalmente médicos não se sentiam preparados para decidir quando parar de investir na cura e deixar o curso natural da doença de acordo com os limites do corpo. Declararam ainda que os consideram pouco efetivos e que não tinham habilidades para estabelecer um vínculo com a pessoa alvo do cuidado e seus familiares. Elencaram como prioritário um aprofundamento sobre essa dimensão dos cuidados em saúde e propuseram ações de educação permanente em saúde para a qualificação dos cuidados proporcionados no setor. Há uma necessidade da quebra do paradigma curar, para cuidar sem sofrimento até a morte

Aprendizado e Análise Crítica
O referencial teórico-metodológico da Análise Institucional proporciona aos sujeitos refletir sobre as suas práticas, transformando-as para conhecê-las. A aproximação com os conceitos da socio clínica institucional possibilitou à enfermeira a criação de um dispositivo de análise da prática profissional sem desconsiderar a reflexão coletiva das suas implicações na assistência em cuidados paliativos. Os grupos quando são constituídos e operam sobretudo com a horizontalização das hierarquias tendem a construir processos de produção mais adequados ao coletivo. Os cuidados em saúde devem ser compreendidos como algo que está além dos procedimentos oferecidos às pessoas nas instâncias da rede de assistência à saúde. Eles são intrínsecos também aos profissionais que se constituem na sua prática. Essa é uma temática que põe em discussão o instituído na área de saúde, sobretudo os engessamentos na missão da equipe em cuidar e que necessita de intervenções da educação permanente em saúde para que os movimentos instituintes que preconizam o cuidado integral em saúde sejam considerados.


Referências
Análise Institucional e Saúde Coletiva: uma articulação em processo. In: L’ABBATE; MOURÃO & PEZZATO (orgs) Análise Institucional e a Saúde Coletiva no Brasil. São Paulo, Hucitec, 2013.
LAPASSADE, G. Grupos, organizações e instituições. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977.
PORTARIA GM/MS Nº 3.681, DE 7 DE MAIO DE 2024. Disponível em: https://www.conass.org.br/conass-informa-n-87-2024-publicada-a-portaria-gm-n-3681-que-institui-a-politica-nacional-de-cuidados-paliativos-no-ambito-do-sus-por-meio-da-alteracao-da-portaria-de-consolidacao-gm-ms-n/
Radbruch L, et al. Redefining Palliative Care - A New Consensus-Based Definition. J Pain Symptom Manage. 2020 Oct;60(4):754-764
SANTOS, JL dos et al. PERCEPÇÃO DOS MÉDICOS DE UMA SALA DE EMERGÊNCIA SOBRE A ASSISTÊNCIA AO PACIENTE FORA DE POSSIBILIDADE DE CURA. DOI 10.22533/at.ed.65921090211 In TOLEDO, L V. GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS DE SAÚDE E ENFERMAGEM – Ponta Grossa PR: Atena, 2021.

Fonte(s) de financiamento: Recursos Próprios


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