Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.28 - Correlações entre trabalho e formação

49815 - PREVALÊNCIA DE ACIDENTES DE TRABALHO POR EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO EM TRABALHADORES DA SAÚDE DO BRASIL
EWERTON WILLIAM GOMES BRITO - UFRN, TATYANA MARIA SILVA DE SOUZA ROSENDO - UFRN, TATIANA DE MEDEIROS CARVALHO MENDES - UFRN, RENATA FONSECA SOUZA DE OLIVEIRA - UFRN, MARIA LUIZA BARBALHO DE ASSIS - UFRN, JANETE LIMA DE CASTRO - UFRN


Apresentação/Introdução
Acidentes e doenças relacionadas ao trabalho representam um grave problema de saúde pública mundial, afetando principalmente trabalhadores jovens em idade produtiva. Contudo, no Brasil e no cenário internacional, ainda há poucos estudos que abordem acidentes de trabalho entre os trabalhadores da saúde. Os acidentes de trabalho por exposição a material biológico, como sangue e fluidos orgânicos, caracterizam-se como os agravos mais frequentes e de maior gravidade ocorridos entre os trabalhadores da saúde, podendo levar à infecção, adoecimento e morte por vários patógenos importantes, tais como o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e das hepatites (B e C), da Covid-19 e o bacilo da tuberculose. O diagnóstico das causas de afastamentos do trabalho devido a acidentes e a doenças dos trabalhadores da saúde dos brasileiros é de suma importância para o planejamento e implementação de programas e políticas voltadas à saúde desse grupo.


Objetivos
Identificar a prevalência e a mortalidade devido a acidentes de trabalho por exposição à material biológico, segundo as categorias dos profissionais de saúde de nível médio (NM) e superior (NS), características sociodemográficas e do acidente.


Metodologia
Os resultados aqui apresentados compõem a pesquisa “Acidentes de trabalho e morbidade entre trabalhadores de saúde no Brasil e fatores associados”, desenvolvida pelo Observatório de Recursos Humanos da UFRN com financiamento do Ministério da Saúde. Trata-se de um estudo transversal, quantitativo e descritivo, realizado entre outubro de 2023 e março de 2024, por meio de dados secundários, relativos ao ano de 2022 para o Brasil, obtidos através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES). A prevalência e a mortalidade dos acidentes foram obtidas através do SINAN, com a mortalidade especificada pela variável "evolução do caso". O total de profissionais de saúde, por categoria, foi obtido através do CNES. A taxa de acidentes de trabalho foi calculada dividindo-se o número de casos pelo total de profissionais em cada categoria. As variáveis sociodemográficas foram: faixa etária, raça, sexo e situação no mercado de trabalho e as relativas ao acidente foram: evolução do caso, tipo de acidente, situação vacinal, entre outras. Realizou-se análise descritiva através de frequências absolutas e relativas.


Resultados e Discussão
Observou-se maior prevalência de acidentes de trabalho entre profissionais de NM (224,06 por 10.000) em comparação com os de NS (122,69 por 10.000). A maioria dos acidentes ocorreu entre profissionais de 20 a 39 anos. Predominaram as mulheres, com 88,09% dos acidentes no NM e 68,96% no NS. No NM, 47,39% dos acidentados eram negros, enquanto no NS, 59,20% eram brancos. Entre os profissionais de NS, os enfermeiros foram os mais afetados (37,89%), seguidos por médicos (35,17%) e odontólogos (14,71%), resultados semelhantes aos encontrados em estudo realizado no Rio Grande do Sul/Brasil (1). Entre os profissionais de NM, técnicos de enfermagem foram os mais acometidos (93,59%), corroborando outros estudos nacionais (2,3). Instrumentadores cirúrgicos apresentaram a maior taxa de prevalência (1.255,77 por 10.000), seguidos por técnicos de saúde bucal (807,01 por 10.000) e auxiliares de banco de sangue (492,96 por 10.000). Entre os trabalhadores de NS, os biomédicos tiveram a maior taxa de prevalência (283,14 por 10.000). Estes valores extremamente altos identificados entre estes últimos trabalhadores não estão relatados na literatura científica e sugere a necessidade de intervenções específicas para esses grupos. A maioria dos profissionais de NM (34,80%) e NS (35,14%) recebeu alta após comprovação sorológica negativa do paciente fonte. Altas sem conversão sorológica ocorreram em 19,29% dos casos no NM e 17,02% no NS. Infecções por hepatite B, C ou HIV foram registradas em 3,58% dos casos de NM e 4,76% dos de NS. Não se verificou registros de vacinação contra hepatite B, diferentemente do estudo em duas maternidades na Túnisia (4), onde 90,2% dos entrevistados foram vacinados. Óbitos ocorreram em 0,03% dos profissionais de NM e 0,16% dos de NS.


Conclusões/Considerações finais
O estudo mostrou que a maior prevalência ocorreu entre os trabalhadores de nível médio, especialmente entre técnicos de enfermagem, enquanto os enfermeiros lideram entre os de nível superior. Além disso, ao analisar as taxas de acidentes por profissão, outras ocupações, como biomédicos e instrumentadores cirúrgicos, emergem com alto risco, apesar de terem uma distribuição proporcionalmente menor. Embora a taxa de prevalência seja maior entre os profissionais de nível médio, a mortalidade é mais comum entre os de nível superior. Os resultados apontam para a necessidade de melhoria da coleta de dados para aprimorar as ações de vigilância epidemiológica e a prevenção desses acidentes, incluindo o registro de variáveis como situação vacinal, tipo de exposição e uso de equipamentos de proteção individual. Em resumo, o estudo aborda um problema crítico de saúde pública e oferece ferramentas importantes para a elaboração de políticas e ações de proteção aos trabalhadores da saúde no Brasil.


Referências
1. Bertelli C, Martins BR, Krug SBF, Petry AR, Fagundes PS. Occupational accidents involving biological material: demographic and occupational profile of affected workers. Rev Bras Med Trab. 2020;18(4):415-424.

2. Soares RZ, Schoen AS, Benelli KRG, Araújo MS, Neves M. Análise dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico notificados por profissionais da saúde. Rev Bras Med Trab. 2019;17(2):201-8.

3. Vieira KMR, Vieira Jr FU, Bittencourt ZZLC. Occupational accidents with biological material in a school hospital. Rev Bras Enferm [Internet]. 2019;72(3):737-43. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0630

4. Belgacem A, Neffati A, Atfi S, Hammemi N, Soussi S, Ghali H. Descriptive correlational study of knowledge, attitudes and practices related to blood exposure accidents among operating room nurses in the two university hospitals of Sousse. Tunis Med. 2023 Dec 5;101(12):891-898. PMID: 38477196.

Fonte(s) de financiamento: Pesquisa viabilizada pelo Termo de Execução Descentralizada (TED) 072/2019 assinado entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Ministério da Saúde.



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