53816 - DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA FORMAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL EM HANSENÍASE: RELATO DE EXPERIÊNCIA MIRELE COELHO ARAUJO - UFC, ANTONIO LUCAS DELERINO - UFC, ALBERTO NOVAES RAMOS JÚNIOR - UFC
Contextualização Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma Doença Tropical Negligenciada (DTN), a hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica e de evolução lenta que acomete principalmente os nervos periféricos e superficiais da pele, causadora de incapacidades físicas permanentes, tendo como agente etiológico o Mycobacterium leprae (BRASIL, 2017). A sua transmissão ocorre de um indivíduo acometido pela doença, com alta carga bacilar, sem tratamento, por meio das vias aéreas superiores (BRASIL, 2022), sendo necessário o contato próximo e prolongado com a pessoa suscetível, de qualquer sexo ou idade (BRASIL, 2017). O diagnóstico é predominantemente clínico, sendo de responsabilidade da Atenção Primária à Saúde (APS), salvo casos complexos (BRASIL, 2022). Neste sentido, a enfermagem possui papel relevante na intervenção nos processos de saúde-doença prevalentes a nível nacional, desenvolvendo suas atividades com excelência e em contínuo aprendizado (BRASIL, 2001). Com base nisso, é importante que o(a) enfermeiro(a) mantenha-se em processos formativos constantes acerca da hanseníase, para que o processo do cuidado seja estruturado de maneira mais adequada e efetiva, minimizando as repercussões causadas pela doença.
Descrição da Experiência Trata-se de um relato de experiência sobre o processo de formação acadêmica e profissional de enfermeiros no tocante à temática da hanseníase. A experiência aconteceu no município de Fortaleza, Ceará, de 2019 a 2023. Ocorreu durante a graduação, com base em aulas teóricas realizadas em sala de aula e aulas práticas realizadas em um centro de referência para doenças dermatológicas, e na atuação profissional como graduados e como assistente de pesquisa em um estudo multicêntrico internacional sobre hanseníase, de 2020 a 2023.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência de profissionais de enfermagem sobre os desafios e potencialidades da formação acadêmica e profissional em hanseníase durante e após a graduação, no período de 2019 a 2023.
Resultados Durante a graduação, apenas duas disciplinas abordaram a temática da hanseníase perfazendo um total de duas aulas teóricas (carga horária de 16 horas) e 12 (doze) horas de aula prática em um centro de referência para doenças dermatológicas. Durante as aulas teóricas, percebemos que a hanseníase possui um conteúdo denso e que demanda tempo para que possamos entender seus impactos nas pessoas acometidas e na comunidade. Além disso, as aulas práticas dependiam da demanda da unidade, muitas vezes não sendo possível experienciar o processo de diagnóstico de casos novos. Ademais, já durante a atuação enquanto enfermeiros e um de nós enquanto assistente de pesquisa, o processo de formação em hanseníase era contínuo, com aulas ministradas por profissionais de referência acerca do tema; visitas domiciliares, que tornaram possível vivenciar a complexidade do diagnóstico; e educação permanente com profissionais de saúde, que incluíam enfermeiros(as) dos serviços de APS de Fortaleza. Entretanto, observamos que, apesar de ser uma das doenças mais prevalentes, existiam profissionais que não tinham conhecimentos sobre questões clínicas essenciais como a forma de transmissão e diagnóstico.
Aprendizado e Análise Crítica Durante o período de graduação, a formação em hanseníase apresentou deficiências, possivelmente devido à escassez de aulas teórico-práticas sobre o tema. Essa lacuna pode contribuir para que enfermeiros(as) se sintam inseguros e pouco preparados para lidar com casos de hanseníase nos serviços de saúde. Por outro lado, durante a prática profissional como assistente de pesquisa, a formação em hanseníase foi mais satisfatória, possivelmente porque o estudo é focado exclusivamente nessa área. É crucial que as ações de formação em hanseníase, tanto durante quanto após a graduação, sejam efetivas, visto que as ações de controle da doença fazem parte das competências do profissional de enfermagem e, quando bem executadas, torna-se fundamental para prevenir danos mais graves relacionados à doença. O(a) enfermeiro(a) desempenha um papel essencial na equipe de saúde, atuando como elo entre a pessoa afetada e os serviços de saúde. Esse vínculo de confiança é crucial para melhorar a adesão ao tratamento e garantir cuidados abrangentes e contínuos para uma condição crônica desafiadora como a hanseníase. Portanto, é fundamental que o enfermeiro esteja atualizado sobre o assunto e estabeleça um bom relacionamento com a equipe multiprofissional, possibilitando a longitudinalidade do cuidado e melhorando a qualidade de vida da população afetada pela hanseníase.
Referências Brasil. Guia prático sobre a hanseníase [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
Brasil. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Hanseníase [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES 3/2001. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de novembro de 2001. Seção 1, p. 37.
|