Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.27 - Desafios para formação profissional na Saúde

50490 - DESAFIOS DA FORMAÇÃO DO NUTRICIONISTA NA ÁREA DA SAÚDE COLETIVA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS NO SETOR PÚBLICO E PRIVADO NA CIDADE DE SALVADOR-BAHIA
FRANCIELE NASCIMENTO DOS SANTOS - UFBA, SANDRA MARIA CHAVES DOS SANTOS - UFBA, VALTERLINDA ALVES DE OLIVEIRA QUEIROZ - UFBA


Contextualização
A saúde coletiva (SC) está inserida na formação dos profissionais de saúde em diversas dimensões. Isto porque configura-se como área de atuação multidisciplinar que busca compreender os determinantes sociais de saúde, relacionando a estrutura da sociedade com as ações de atenção à saúde por meio de práticas que são tanto técnicas, quanto sociais (PAIM, 2006).
Em relação ao campo da Alimentação e Nutrição (AN), de acordo com a Resolução Nº 600, de 25 de fevereiro de 2018, do Conselho Nacional de Nutricionistas, a Nutrição em SC apresenta como subáreas as políticas e programas institucionais, a atenção básica e a vigilância em saúde. De acordo com Bossi e Prado (2011), a integração entre AN e SC, pode-se considerar metaforicamente como uma “mútua fertilização”, na qual a AN desenvolve seus objetos a partir dos saberes da SC, bem como contribui para desenvolvimento desta.
Ademais, considerando a Resolução Nº 704, de 20 de outubro de 2022, do Conselho Nacional de Saúde, a formação do(a) nutricionista deve estar alicerçada nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, as instituições de ensino precisam inserir-se nas comunidades e nas redes de atenção à saúde. Esta inserção serve como arcabouço para fomentar debates e ações na área de AN para além de uma abordagem meramente prescritiva, permitindo assim, ampliar os horizontes a partir da práxis da SC (PRADO et al,2011).

Descrição da Experiência
Este relato é fruto da experiência docente da autora no curso de graduação em nutrição em duas instituições distintas, sendo uma instituição pública e outra privada. Vale destacar que a experiência de ensino na instituição pública é decorrente da formação do doutorado, no âmbito da atividade Prática de Ensino, obrigatória. Ambas as instituições localizam-se em Salvador, Bahia.
Na instituição privada, a disciplina é nomeada Saúde Coletiva e Comunitária (SCC) e tem o objetivo de contribuir para a compreensão dos determinantes sociais, políticos e econômicos das formas de organização da prestação de serviços públicos e privados de saúde em diferentes eixos de atenção à saúde coletiva e comunitária. Esta disciplina é ofertada no terceiro período do curso, com a carga horária total de 60 horas, sendo 40 horas teóricas e 20 horas de atividades de extensão.
Na instituição pública a disciplina é intitulada Administração da Saúde Pública em Serviços de Nutrição, é oferecida aos estudantes no quinto período do curso de graduação e possui carga horária de 45 horas, sendo exclusivamente teórica. Esta disciplina tem como objetivo introduzir os discentes ao campo da SC com base na compreensão dos determinantes sociais, políticos e econômicos da saúde, além de reconhecer a SC como um campo de ação da AN e de inserção do nutricionista.

Objetivo e período de Realização
O objetivo deste relato de experiência é suscitar reflexões acerca dos desafios e enfrentamentos encontrados na prática docente para a formação do nutricionista no âmbito da saúde coletiva, sobretudo em instituições com público, administração e funcionamento distintos (público e privado).
Os resultados estão pautados na atuação docente em sala de aula, sendo o período de fevereiro a maio de 2024 de atuação concomitante entre as duas instituições e o ano de 2023 somente na instituição pública.


Resultados
O curso de nutrição na instituição privada é recente (2 anos) e a matriz curricular apresenta disciplinas da área de SC desde o 2º semestre da graduação. Sendo a disciplina SCC disponibilizada no 3º semestre.
Na instituição pública (curso criado nos anos 50), a matriz curricular em vigor foi reformulada parcialmente no primeiro semestre de 2013. Na formação atual os alunos só têm acesso a componentes da área da SC a partir do 4º semestre. Porém, a disciplina em foco nesta experiência é ofertada a partir do 5º semestre.
Em relação às atividades práticas, na matriz curricular da instituição particular consta uma carga horária específica, incluída nas disciplinas da área, com caráter extensionista. Na instituição pública esta disciplina introdutória à formação na área da SC é exclusivamente teórica.
Além disso, na instituição pública há um intervalo longínquo entre a disciplina introdutória e a disciplina que a sucede em relação ao conteúdo (Nutrição em Saúde Pública, ofertada no 8º semestre). Portanto, há uma lacuna neste itinerário formativo, o que difere da instituição privada, na qual a disciplina Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição é ofertada no 4º período.

Aprendizado e Análise Crítica
A inserção tardia da SC na grade curricular da instituição pública apresenta-se como um importante desafio a ser enfrentado, visto que provoca um distanciamento dos discentes desta área do conhecimento. Pois, o primeiro contato com o campo acontece em meados do curso. Dessa forma, os docentes utilizam estratégias diversas para mitigar os efeitos dessa inserção tardia, como incluir atividades práticas na disciplina que seria exclusivamente teórica.
Outro ponto importante para a reflexão dos desafios é, justamente, essa integração entre teoria e prática nos serviços de saúde. De acordo com Freire (2016), a formação da humanidade, em geral, perpassa por reflexões sobre ações em determinados espaços que visam à transformação da realidade, isto é, a práxis é fundamental no processo de formação, sobretudo porque vai além da prática social, contempla também práticas econômicas, políticas, ideológicas e teóricas. Ou seja, o ensino precisa ser dinâmico e dialógico. Embora os campos de prática também sejam de difícil acesso.
É preciso pensar, refletir e dialogar sobre estes ajustes curriculares, para que haja o estímulo da integração ensino-serviço, sobretudo em instituições públicas, a fim de fortalecer a área da SC e defender os princípios do SUS no campo da Nutrição. Pois, faz-se necessário ampliar os horizontes da alimentação e nutrição a partir da intersecção com a SC (PRADO,2011).

Referências
CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Resolução CFN Nº 600/2018. Brasília, 2018. Disponível em: Acesso em: 17 de maio de 2024
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 60. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução Nº 704, de 20 de Outubro de 2022. Disponível em: Acesso em: 17 de maio de 2024.
PAIM, J. S. Desafios para a saúde coletiva no século XXI. Salvador: EDUFBA, 2006.
PRADO, S.D, et al. Alimentação e nutrição como campo científico autônomo no Brasil: conceitos, domínios e projetos políticos. Revista de Nutrição, 2011.
BOSSI, M.L.M. PRADO, S.D.Food and Nutrition in Public Health: constitution, contours and scientific status. Ciênc. saúde coletiva, 2011.

Fonte(s) de financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)


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