50386 - DIMENSÕES DO TRABALHO EM TRANSFORMAÇÃO NA PANDEMIA DE COVID-19: EXPERIÊNCIAS DOS TRABALHADORES DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO CELITA ALMEIDA ROSÁRIO - NIESP/CEE- FIOCRUZ, ESTER PAIVA SOUTO - NIESP/CEE- FIOCRUZ, PRISCILA CARDIA PETRA - PPGBIOS- FIOCRUZ, FLÁVIA MARIA MARTINS VIEIRA - UFPE/NIESP/CEE-FIOCRUZ, MARCIA VALÉRIA GUIMARÃES CARDOSO MOROSINI - LATEPS/ EPSJV- FIOCRUZ, ANGÉLICA FERREIRA FONSECA - LATEPS/ EPSJV- FIOCRUZ, GUSTAVO CORRÊA MATTA - NIESP/CEE-CIDACS FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A Atenção Primária em Saúde (APS) possui um papel relevante no enfrentamento às emergências em Saúde Pública, como a pandemia de COVID-19 por ser ordenadora do cuidado e principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a sobrecarga de trabalho das equipes, as dificuldades de acesso aos EPIs, os obstáculos para a efetivação dos direitos trabalhistas, a reorganização do espaço físico das unidades para o acolhimento e manejo dos casos de COVID-19, e a falta de coordenação e articulação entre os entes federativos no processo de vacinação intensificaram os desafios do trabalho na APS ¹. Além disso, questões subjetivas como estresse, medo, luto e cansaço dos trabalhadores também foram reconhecidas como dificuldades da APS em diferentes municípios no enfrentamento da COVID-19².
Objetivos Apresentar as percepções sobre a resposta à pandemia de COVID-19, tendo em vista o trabalho em saúde entre profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) no município do Rio de Janeiro (RJ), analisando a compreensão das condições e relações de trabalho e do processo de vacinação contra a COVID-19.
Metodologia Foram realizadas 16 entrevistas semiestruturadas de forma remota com profissionais que compõem a equipe mínima da ESF em duas unidades de Clínica da Família de duas áreas programáticas de saúde distintas no município do Rio de Janeiro entre janeiro e abril de 2022. O roteiro de entrevista foi composto por três blocos: identificação e perfil socioeconômico; percepção dos trabalhadores sobre as implicações da pandemia para o trabalho em saúde; e percepção da campanha de vacinação contra COVID-19. Utilizamos análise temática para a interpretação dos dados e identificamos cinco temas: transformações no processo de trabalho, transformações nas condições de trabalho, saúde do trabalhador, comunicação e orientações na APS e papel da APS na pandemia.
Resultados e Discussão A pandemia de COVID-19 transformou o processo de trabalho na APS no município do Rio de Janeiro, modificando funções essenciais das equipes e dos profissionais, as relações interpessoais, além da necessidade de modificações nas condições de trabalho, como a reorganização do espaço físico, aquisição de materiais de EPI e uso de tecnologias para a manutenção do cuidado em saúde da população alinhado ao princípio da integralidade. Foi marcante o processo de adoecimento físico e psíquico dos profissionais da APS como consequência da sobrecarga de trabalho e de sentimentos como insegurança, incerteza, luto, ansiedade e medo. A comunicação, orientações sobre a pandemia e vacinação foram percebidas como incipientes até a troca de gestão municipal. Os profissionais buscaram sanar dúvidas e se atualizar entre seus pares, revelando que, apesar dos fenômenos de infodemia e disseminação de notícias falsas em redes sociais, os profissionais de saúde ainda são considerados fontes confiáveis de informação e conhecimento³. Para os entrevistados, a APS possui um papel fundamental para o enfrentamento de emergências em saúde pública e teve uma boa capacidade de resposta, mesmo diante da precariedade que atinge seus trabalhadores4.
Conclusões/Considerações finais A análise das percepções dos profissionais sobre a repercussão da pandemia de COVID-19 no trabalho da APS contribui para dar visibilidade às estratégias adotadas nas práticas dos serviços de saúde e a identificação de desigualdades estruturais que agudizam a experiência de precarização dos trabalhadores. A APS e os profissionais possuem um papel fundamental para o enfrentamento de emergências em Saúde Pública e a identificação das transformações e dos desafios contribuem para o fortalecimento deste nível de atenção, para a organização dos serviços e o reconhecimento do seu papel estratégico como um dos pilares da estrutura organizativa do SUS.
Referências 1. FERNANDEZ, Michelle. V.; PINTO, Hêider. A. Estratégia intergovernamental de atuação dos estados brasileiros: o Consórcio Nordeste e as políticas de saúde no enfrentamento à Covid-19. Saúde em Redes, v. 6, n. 2Sup, p. 211–225, 27 jul. 2020.
2. MACHADO, Maria Helena, et al. Condições de trabalho e biossegurança dos profissionais de saúde e trabalhadores invisíveis da saúde no contexto da COVID-19 no Brasil. Ciênc saúde coletiva [Internet]. 2023 Oct;28(10):2809–22.
3. NOBRE, Roberta.; GUERRA, Lúcia. D. S.; CARNUT, Leonardo. Hesitação e recusa vacinal em países com sistemas universais de saúde: uma revisão integrativa sobre seus efeitos. Saúde em Debate, v. 46, n. spe1, p. 303–321, 2022.
4. MOROSINI, Márcia Valéria G.C; CHINELLI, Filippina; CARNEIRO, Carla C.G. Coronavírus e crise sociossanitária: a radicalização da precarização do trabalho no SUS. Crise e pandemia: quando a exceção é regra geral. Rio de Janeiro: EPSJV, p. 93-111, 2020.
Fonte(s) de financiamento: Esta pesquisa faz parte de um projeto amplo financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) intitulado “A COVID-19 no Brasil: análise e resposta aos impactos sociais da pandemia entre profissionais de saúde e população em isolamento” aprovado em março de 2021 pelo CEP/CONEP.
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