49668 - ALGUNS DESAFIOS E APRENDIZADOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE INOVAÇÕES NA FORMAÇÃO PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE
MARIA DE FÁTIMA LOBATO TAVARES - ENSP FIOCRUZ, ROSA MARIA DA ROCHA - ENSP FIOCRUZ, CLÁUDIA MÁRCIA SANTOS BARROS - ENSP FIOCRUZ, CARLOS GABRIEL AVELAR BUSTAMANTE SÁ - SMS RJ
Contextualização
A trajetória de implementação (percorrida entre 2007-2024) do Curso de Especialização em Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social (CEPSDS) se remete às circunstâncias de amplo debate e construção coletiva engendradas no contexto do Projeto “Ensp em Movimento: construindo um programa orientado por competência” (iniciado em 2002), que representou uma iniciativa político-estratégica relevante na perspectiva do aperfeiçoamento constante da capacidade institucional de propor e implementar mudanças que caracterizem processos inovadores de ensino profissional pari passu à consolidação de um programa de formação sintonizado com as prioridades do SUS e metodologicamente adequado à diversidade de suas demandas e necessidades. Como resultado desse processo estruturado de problematização e pactuação com diversos atores-chave de variadas instituições, em torno da reflexão sobre as competências fundamentais para a formação orientada à promoção da saúde (PS), foi construído um Programa de Formação Lato Sensu de Promoção da Saúde e Desenvolvimento Social, de caráter interdisciplinar e multiprofissional, do qual o CEPSDS é parte integrante e seu produto mais longevo.
Descrição da Experiência
A compreensão da PS como estratégia capaz de desenvolver reorientação das práticas supõe uma noção de educação para a saúde dialógica e emancipatória, em articulação ao entendimento do cuidado como relação. Assim, a proposta político-pedagógica do CEPSDS estrutura-se sobre 2 eixos: a formação de formadores (que busca desenvolver a capacidade de reflexão crítica, a criatividade e o autoaperfeiçoamento) e o ensino para a competência (remetido ao desenvolvimento da capacidade de articular e mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes, colocando-os em ação para resolver problemas e enfrentar imprevisibilidades em situações concretas de trabalho e em um determinado contexto cultural). Adotam-se metodologias ativas que utilizam a problematização e a cooperação como estratégias de ensino e aprendizagem. Os aprendizados gerados em dinâmica de ação-reflexão-pesquisa-ação em torno de situações-problema e relatos de prática são sistematizados em portfólios individuais e coletivos, bem como se traduzem nos projetos de pesquisa e desenvolvimento (TCCs), adotando-se a metodologia do marco lógico, que cada discente elabora ao longo do curso e defende como requisito de conclusão. Tal dinâmica é viabilizada pela mediação e acompanhamento dos professores tutores, formados mediante oficina pedagógica inicial e dispositivo de educação permanente operado ao longo do curso.
Objetivo e período de Realização
Desenvolver ensino para reflexão sobre conceitos e práticas de PS, tendo por base o conceito ampliado de saúde e a ação sobre os determinantes sociais da saúde (DSS); formar trabalhadores da saúde e de áreas correlatas sob novas perspectivas de ação, incluindo empowerment da comunidade, com foco na equidade, na ética, e nos direitos à saúde. A primeira turma do CEPSDS teve início em 2007 e em 2023/2024, realizou-se a sua 13ª edição.
Resultados
Formação de mais de quatrocentos profissionais dos diversos campos de conhecimentos e práticas, atuantes em diferentes setores da sociedade. Nas 2 últimas turmas, a opção pelo ensino remoto viabilizou o alcance de alunos oriundos das várias regiões, nas capitais e no interior. A formação de formadores abrange também os professores tutores. Os portfólios e as apresentações em plenárias evidenciam que a reflexão sobre novos referenciais conceituais e a aproximação às práticas em PS representam um grande esforço de ressignificação, em que se (re)criam projetos pessoais e profissionais coletivamente sustentados, a partir da articulação teoria e prática, nas dimensões do saber, afeto, poder e ética. Tal percurso se expressa nos TCCs, que propõem práticas inovadoras articuladas aos territórios e à mobilização social para o enfrentamento dos DSS e iniquidades em saúde, com estratégias dialógicas e emancipatórias dentro e fora dos serviços, escuta e expressão da diversidade de pontos de vista sobre os problemas e alternativas de ação, diversificação de tecnologias de comunicação contextualizadas e criação de espaços mais acolhedores, valorizando as confluências de saberes e práticas.
Aprendizado e Análise Crítica
A inovação na educação está relacionada à necessidade de promover uma cultura de experimentação, criatividade e colaboração. Os atributos da formação consideram a indissociabilidade entre os processos educativos e as práticas de saúde, sendo relevante pensar como as formações incorporam os conteúdos, não só em termos da abordagem conceitual, mas também na direção de uma mudança ético-estética no modo de se relacionar com grupos invisibilizados e territórios vulnerabilizados, uma mudança radical no modo de pensar e se colocar na sociedade. Vivenciou-se o desafio do entendimento das novas metodologias e sua incorporação no processo de formação, gerando efeitos de transformação na docência. A dinâmica intensiva e afetiva que caracteriza o processo formativo requer implicação e disponibilidade do aluno para a mudança, bem como o compromisso docente em estar junto, requerendo a presença e formação do tutor em torno dos “incidentes críticos” (situações relevantes que trazem uma lição significativa, independentemente do desdobramento ou resultado). Esse espaço de educação permanente permite o relato, a problematização e a identificação dos recursos necessários para o enfrentamento de cada situação, sobre a qual não se tem um conhecimento de partida. Uma aprendizagem de todos nesse esforço de ressignificar, de modo constante e renovado, os conhecimentos e práticas que se atualizam.
Referências
Referências
852 caracteres com espaços (do máximo de 950) BRASIL. As Cartas da Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.
DE SALAZAR, L. Reflexiones y posiciones alrededor de la evaluación de intervenciones complejas: salud pública y promoción de la salud. Programa Universidad del Valle, 2011.
DEWEY, J. Experiência e Educação. São Paulo: Editora Nacional, 1976.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
TAVARES, M. F. et al. A promoção da saúde no ensino profissional: desafios na Saúde e a necessidade de alcançar outros setores. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, p. 1799-1808, 2016.
TAVARES, M. F.; ROCHA, R. M.; CASTRO, A. M. O cuidado: uma reflexão crítica à luz dos princípios e valores da promoção da saúde. Organização do cuidado e práticas de saúde: abordagens, pesquisa e experiências em ensino. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2018.
Fonte(s) de financiamento: Financiamento institucional
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