Roda de Conversa

06/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.27 - Desafios para formação profissional na Saúde

48607 - IMPLICAÇÕES DO TRABALHO NA VIDA E SAÚDE DE GESTORES DE HOSPITAIS DE ONCOLOGIA
TATIANA DE MEDEIROS CARVALHO MENDES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN), JANETE LIMA DE CASTRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN), DYEGO LEANDRO BEZERRA DE SOUZA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN), NAYARA PRISCILA DANTAS DE OLIVEIRA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE), HELENA SERAFIM DE VASCONCELOS - FUNDAÇÃO NORTE-RIO-GRANDENSE DE PESQUISA E CULTURA (FUNPEC), SAMARA DA SILVA RIBEIRO - FUNDAÇÃO NORTE-RIO-GRANDENSE DE PESQUISA E CULTURA (FUNPEC)


Apresentação/Introdução
O trabalho é uma das principais formas de expressividade, através do qual promove sua subsistência, cria relações sociais, constrói sua própria identidade, além de modificar a realidade em que vive. No entanto, também pode ser fonte de sofrimento, dor e adoecimento para quem o executa[1]. O trabalho na área da saúde, caracterizado por altas demandas, elevada sobrecarga de trabalho e maior exposição a riscos ocupacionais, pode culminar no surgimento de doenças/agravos que põem em risco o bem-estar biopsicossocial de inúmeros trabalhadores[1,2]. Nos hospitais de oncologia, o trabalho é marcado por distintas exigências profissionais. O contato direto com pacientes e familiares, o enfrentamento da complexidade da doença, o estresse no ambiente laboral, a fadiga emocional, a exposição frequente à morte, luto e respostas emocionais intensas, dentre outros são fatores que afetam negativamente a saúde da equipe multiprofissional de saúde[3,4]. Diante desse contexto, a gestão dos hospitais oncológicos é um verdadeiro desafio, com dupla sobrecarga de trabalho, a assistencial e o gerenciamento do cuidado oncológico dentro da rede de assistência à saúde, o que pode trazer algumas implicações para a saúde dos gestores desses hospitais, sendo importante o conhecimento dessas implicações a fim de buscar evitar o adoecimento dos trabalhadores.


Objetivos
O presente estudo objetivou compreender como os gestores dos hospitais de oncologia lidam com as implicações do trabalho nas diversas dimensões de sua vida e nos possíveis sofrimentos que acometem os trabalhadores

Metodologia
Estudo analítico de cunho exploratório e caráter qualitativo, realizado com gestores de estabelecimentos de assistência oncológica em uma capital do nordeste do Brasil. Foram incluídos no estudo os gestores de estabelecimentos de saúde com habilitação e credenciamento para assistência oncológica adulta e pediátrica, que apresentam cadastrado regular e ativo no CNES, integrando a rede de atenção do SUS. Os participantes deveriam estar atuando há no mínimo dois anos na instituição de atenção oncológica. Para seleção direta dos participantes, foi utilizada a estratégia não-probabilística SnowBall e a amostra foi obtida por saturação. Os dados foram coletados através de entrevistas, no formato remoto, realizadas com os participantes e analisados através da análise de conteúdo por oposição, proposta por Bardin. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética. O presente estudo é um recorte de uma pesquisa desenvolvida pelo Observatório de Recursos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Resultados e Discussão
Participaram do estudo oito gestores. A maioria dos participantes era de profissional médico, na faixa etária de 40 a 60 anos de idade, da raça branca e com tempo médio de atuação na área de oncologia de 24 anos. Os relatos mostraram como os gestores lidam com as implicações do trabalho nas diversas dimensões de sua vida e com os possíveis sofrimentos que acometem os trabalhadores desses hospitais. A análise de oposições identificou algumas polaridades presentes nos depoimentos dos participantes do estudo, o que permitiu a organização dos dados textuais em sete categorias contendo temas antagônicos: 1.“prazer/sofrimento”, que evidencia que a relação ambígua de momentos de prazer e de sofrimento no trabalho; 2. “vida/morte”, que mostra os sentimentos que envolvem essas duas dimensões no trabalho em oncologia; 3.“relações de trabalho/relações pessoais”, que destaca o desequilíbrio no tempo dedicado ao trabalho e a vida pessoal; 4. “hospital oncológico/hospital geral”, que evidencia diferenças do trabalho em um hospital geral e um hospital oncológico; 5. “gestão/assistência”, que mostra que os gestores carregam com si a experiência de trabalho na assistência e diferencia do trabalho na gestão; 6. “adoecer/cuidado”, que evidencia os impactos do trabalho na saúde dos gestores; e 7. “resistência/fragilidade”, ressaltam que cargo de gestor demanda situações de maior resistência às dificuldades em oposição a sensação de fragilidade que precisa ser evitada diante dos trabalhadores. A gestão hospitalar apresenta características e peculiaridades próprias, que quando direcionadas a hospitais oncológicos tornam-se ainda mais complexas haja visto as especificidades do cuidado, da alocação de profissionais capacitados e de tecnologias para assistência oncológica especializada[5].


Conclusões/Considerações finais
Os achados mostram que o trabalho em oncologia resulta em uma relação ambígua com momentos de prazer e de sofrimento. Nesse contexto, a gestão em hospitais que tratam pacientes com câncer significa lidar com a vida e a morte e os sentimentos que envolvem essas duas dimensões. A gestão em hospitais oncológicos mantém uma relação forte com a sensação de sobrecarga laboral e emocional, mas, também é um campo de trabalho que sustenta um encantamento particular, no qual a conexão humana se orienta pela esperança de que todo o esforço que se empenha, no fim, faz e produz, de alguma forma, um sentido de ser vivido. Por fim os resultados apontam a necessidade de se fortalecer as iniciativas de implantação de políticas públicas voltadas à saúde dos trabalhadores do SUS, com foco no sofrimento mental relacionado ao trabalho, a fim de evitar o adoecimento dos trabalhadores, inclusive os que estão em cargo de gestão, e melhorar a qualidade dos serviços prestados aos usuários.




Referências
1. Brito-Marcelino A, Marcelino KB, Cerqueira E. Worker’s Health Quest: disease, prevention, and edutainment. Rev Bras Med Trab. 2023;21(1): e2023810.
2. Soheili M, Jokar F, Eghbali-Babadi M, Sharifi M, Taleghani F. Exploring the occupational health needs of oncology nurses: A qualitative study. J Edu Health Promot. 2021;10:224.
3. Beresford B, Gibson F, Bayliss J, Mukherjee S. Preventing work-related stress among staff working in children’s cancer Principal Treatment Centres in the UK: a brief survey of staff support systems and practices. Eur J Cancer Care. 2018; 27: e12535.
4. Costeira C, Ventura F, Pais N, Santos-Costa P, Dixe MA, Querido A, Laranjeira C. Workplace Stress in Portuguese Oncology Nurses Delivering Palliative Care: A Pilot Study. Nurs. Rep. 2022, 12, 597–609.
5. Abdala EC. et al. A Gestão Orientada por Processos: Um Estudo de Caso em uma Organização Hospitalar Brasileira. Simp. de excel. em gest. e tecn., v. 3, 2006.

Fonte(s) de financiamento: Ministério da Saúde do Brasil (TED 072/2019: Apoio e fortalecimento das ações de pesquisa no campo da gestão do trabalho e da educação na saúde)


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