53701 - O ENSINO DA COMUNICAÇÃO NA GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA LUCAS IAGO MOURA DA SILVA - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, MARIA LIGIA RANGEL SANTOS - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, MARCELE CARNEIRO PAIM - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, MARIA PAULA PARANHOS CALDAS - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA, ROMÁRIO CORREIA DOS SANTOS - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES - FIOCRUZ PERNAMBUCO
Apresentação/Introdução
O Curso de Graduação em Saúde Coletiva tem como objetivo a formação de profissionais que desenvolvam de forma crítica ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, levando em consideração a determinação da saúde do processo saúde-doença nas dimensões biológica, social, cultural e política. Embora a graduação tenha sido criada em 2008, apenas em 2022 foram homologadas pelo Ministério da Educação suas Diretrizes Curriculares, onde as Instituições de Ensino Superior terão o prazo de três anos para a reformulação dos Projetos Políticos Pedagógicos. Dentre algumas competências destaca-se a capacidade de uma comunicação efetiva pelo bacharel, envolvendo a compreensão de linguagem, a expressão escrita e oral, e uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), nas diferentes frentes de atuação.
O fato da tardia homologação apresenta um desafio na direcionalidade da formação dos bacharéis. As diversas nomenclaturas para o bacharelado já mostram viés formativo, e o desafio de unificação dos perfis dos cursos, bem como o perfil do egresso. Neste cenário, observa-se que os estudos existentes sobre a graduação em saúde coletiva abordam mais os elementos relacionados à sua elaboração, implementação e consolidação, e que há uma ausência na literatura sobre como é trabalhada a temática da comunicação e saúde, que se constitui como um componente vital para a vida e a saúde.
Objetivos
Mapear a oferta de disciplinas ou componentes relacionados à temática da comunicação e saúde nos cursos de Graduação em Saúde Coletiva no Brasil, a partir dos seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs). Descrever as características identificadas nos PPP acerca da interface comunicação e saúde.
Metodologia
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa a partir da análise documental. A coleta se deu de forma eletrônica nos sites das IES que ofertam a graduação em Saúde Coletiva, onde buscou-se os PPPs a fim de observar se há alguma disciplina que engloba o campo da comunicação e saúde, o tipo dessa disciplina (obrigatória ou optativa), e se apresenta alguma interface entre a saúde e a comunicação. Importante ressaltar que não foi possível encontrar sete PPPs. Essas informações foram distribuídas em uma matriz organizada por região, IES, nome da disciplina, tipo da disciplina, e o campo para descrever a interface. Em seguida foi realizada uma análise temática dos dados produzidos, o que permitiu conhecer as características e reunir informações sobre os PPPs e das disciplinas ofertadas. Por se tratar de um estudo com dados secundários não foi necessário a aprovação pelo comitê de ética.
Resultados e Discussão
A partir do levantamento realizado foi possível constatar que há seis cursos na região norte; cinco cursos na região nordeste; três cursos na região centro-oeste; cinco na região sudeste; e cinco na região sul. Deste quantitativo há vinte IES que ofertam disciplinas que englobam o campo da comunicação, sendo ausente essa oferta em quatro IES. Das que oferecem as disciplinas, percebe-se que vinte e três são obrigatórias e oito optativas. Mas, das trinta e uma disciplinas só foi possível observar as ementas nos PPPs de quatorze disciplinas. Dessas, nove disciplinas trabalham a interface da comunicação e saúde, abordando elementos de cada um desses campos, principalmente teorias e metodologias, para a compreensão dos processos sociais e de produção de sentidos, onde buscam trabalhar com os estudantes práticas comunicacionais horizontais, participativas e democráticas. Salienta-se que essas disciplinas tiveram uma proximidade com o campo da educação, Rangel-S (2010) reflete que essa aproximação se dá pelas interações entre os indivíduos, assim como pelos processos que os formam. A autora acrescenta o campo da educação junto ao campo da comunicação e saúde, onde a comunicação se constitui como um componente vital para a vida e a saúde, e a educação se dá pelo processo do qual o indivíduo adquire conhecimento, influenciado por suas interações pessoais. Nas outras seis disciplinas, observou-se um caráter do uso instrumental da comunicação, que resulta em trabalhar práticas campanhistas, sem engajamento comunitário, que reforçam uma lógica da transferência de informações, e o uso de comunicação com ruído, sem levar em consideração diferentes contextos e atores sociais.
Conclusões/Considerações finais
Este cenário aponta um desafio de repensar práticas comunicacionais na saúde para além do uso instrumental, sendo necessário pensar em práticas comunicacionais emancipadoras que levem em consideração a população como parte do processo comunicacional. Com a homologação das diretrizes curriculares, as IES terão o prazo de três anos para a reformulação dos seus projetos, sendo necessário trabalhar a temática da comunicação e saúde nos cursos de graduação em saúde coletiva. Sendo importante que instituições como a ABRASCO, a partir do Fórum de Graduação em Saúde Coletiva acompanhem de perto esse processo. Assim, contribuindo para romper a lógica da utilização instrumental, e propor novas práticas para que o egresso desse bacharelado possa desenvolver pensamento e práticas de forma crítica e transformadora.
Referências
PINTO, I. C. M.; PAIM, J. S. S. A Abrasco e a Experiência da Graduação em Saúde Coletiva. In: LIMA, N. T.; SANTANA, J. P. De; PAIVA, C. H. A. Saúde coletiva: a Abrasco em 35 anos de história. [S.l.]: Editora FIOCRUZ, 2015
SILVA, V. O. Da. GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA NO BRASIL: MÚLTIPLOS
OLHARES SOBRE A DOCÊNCIA. 2019. 146 p. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Intituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2019. Disponível em:https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/32201/1/Tese_Doutorado_VIN%c3%8dCIO_OLIVEIRA_SILVA_2019.pdf.
RANGEL-S, M.L. Texto Didático - Comunicação, Educação e Saúde: exercício para percepção e ação nas interfaces. Mimeo, 2010.
Fonte(s) de financiamento: A pesquisa recebeu financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio de bolsa de mestrado (código de financiamento 001) concedida a Lucas Iago Moura da Silva.
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