51200 - VACINAÇÃO CONTRA COVID-19: DESAFIOS E PERCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE FRANCISCA LAURA FERREIRA DE SOUSA ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, ERIKA BÁRBARA ABREU FONSECA THOMAZ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, RUTH HELENA DE SOUZA BRITTO FERREIRA DE CARVALHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, DOUGLAS MORAES CAMPOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, FRANCENILDE SILVA DE SOUSA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, ELLEN ROSE SOUSA SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, JÉSSICA PINHEIRO CARNAÚBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, DANIELLE SOUZA SILVA VARELA - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, SAMY LORAYNN OLIVEIRA MOURA - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ, MARIA TERESA SEABRA SOARES DE BRITTO E ALVES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
Apresentação/Introdução A alta mortalidade e transmissibilidade causada pela pandemia da covid-19 gerou um esforço coletivo, nunca visto para desenvolver, aprovar e distribuir vacinas em tempo recorde, de modo que a segurança e a eficácia das vacinas não fossem comprometidas, e ocorresse a distribuição e aplicação em curto espaço de tempo, gerando desafios para os sistemas de saúde. Diante do cenário caótico e de incertezas da pandemia, o surgimento das vacinas contra a covid-19 passou a ser uma possibilidade real de minimizar o avanço da doença, com a esperança de diminuir o número de casos e consequentemente as mortes. No início da pandemia, a atenção à saúde estava centrada nos serviços hospitalares, com subutilização dos serviços da Atenção Primária á Saúde, porém essa realidade mudou no período de vacinação. A APS foi uma ferramenta crucial na luta contra a disseminação do vírus e na mitigação dos impactos devastadores associados à doença, por meio da aplicação dos imunizantes. Todavia, esse serviço de saúde enfrentou muitos desafios, havia dificuldade para lidar com a escassez de recursos e de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), com a capacidade organizacional da assistência, com a gestão de estoques e distribuição dos imunizantes e as questões de aceitação e confiança na vacina por parte da população.
Objetivos Compreender os desafios e o papel crucial da Atenção Primária a Saúde (APS) nas campanhas de vacinação contra a covid-19 e a percepção dos profissionais sobre a vacina assim como a aceitação dela pelos usuários.
Metodologia Estudo com abordagem qualitativa, análise descritiva e exploratória. Realizado no período de setembro a novembro de 2022, em UBS sediadas em São Luís, no Maranhão. Foi definida a participação de todas as categorias profissionais de nível superior, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e, preferencialmente, profissionais que estavam em atividades durante a pandemia, totalizando uma amostra de 42 profissionais, de modo presencial, em um único momento, em cada uma das seis UBS. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa um questionário de perfil sociodemográfico, e um roteiro com tópicos para a entrevista coletiva e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo é parte integrante do projeto intitulado: A pandemia da COVID-19 e seus efeitos na gestão e assistência a saúde no SUS. Foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, CAAE 35645120.9.0000.5086, sobre parecer de número 4.234.296. A Divisão sexual do trabalho foi selecionada como a perspectiva teórica de análise.
Resultados e Discussão Dos 42 profissionais, 39 eram mulheres. A mediana da idade foi de 48 anos. Vinte eram ACS, 11 enfermeiros, 7 médicos, 2 técnicos de enfermagem, 1 dentista e 1 farmacêutico. Os resultados foram divididos em duas categorias: “Desafios da APS” e “Adesão a vacina”. A primeira evidenciou que houve alta procura por vacina e por conta disso foi necessária uma jornada de trabalho estendida e exaustiva. Os profissionais citaram também como desafio ter uma infraestrutura limitada, falta de treinamento para a equipe e necessidade de administrar as inseguranças dos usuários e somado a isso os profissionais estavam receosos e inseguros por não conhecerem os imunizantes e suas reações. A segunda categoria, em suas narrativas os profissionais demonstraram um desconforto ao afirmarem que alguns pacientes não tinham interesse em completar todas as doses da vacina. Muitos receberam apenas a primeira e a segunda doses e deixaram de procurar a UBS. Os profissionais explicaram essa descontinuidade pelo medo das reações adversas, à redução de casos e óbitos e à desconfiança na credibilidade da vacina. Esse último fator interferiu até no programa vacinal de outras doenças, impedindo que as metas das campanhas fossem alcançadas. Além disso, relataram que a adesão de crianças era ínfima, e até mesmo profissionais confessaram que não levaram seus filhos para vacinar contra a covid-19. Fares (2021) identificou que os indivíduos que ouviram falar de algum conhecido que teve uma reação negativa ao imunizante de covid-19 tinham 2 vezes mais chances de recusar a vacina. Silva (2023) mostrou que aqueles que se consideravam sem religião mostraram menos hesitação do que os cristãos. El-Far (2021) afirmaram que o posicionamento político também teve uma importante influencia na aceitação às vacinas.
Conclusões/Considerações finais Os profissionais vivenciaram as vulnerabilidades do processo de vacinação em situação de emergência sanitária. Enfrentaram desafios, incluindo a infraestrutura limitada, falta de treinamento específico para lidar com a vacinação e os EPIs e a hesitação vacinal por parte dos usuários e profissionais. Além disso, vivenciaram o movimento antivacina por parte dos usuários. Os profissionais emitiram opiniões divergentes acerca da vacinação. Muitos creditam o êxito na diminuição de casos e óbitos à vacinação em massa em tempo oportuno enquanto outros profissionais tinham dúvidas sobre os efeitos da vacina. Como limitações podemos citar que a coleta de dados foi feita em 2021 quando a pandemia já dava sinais de arrefecimento e o fato de ser uma amostra intencional restringe a generalização dos resultados, porém coloca luz sobre a divisão de tarefas e a sobrecarga de trabalho das mulheres em relação os homens durante a pandemia.
Referências FARES, Samar et al. COVID-19 vaccination perception and attitude among healthcare workers in Egypt. Journal of primary care & community health, v. 12, p. 21501327211013303, 2021.
EL-FAR CARDO, Aida; KRAUS, Thomas; KAIFIE, Andrea. Factors that shape people’s attitudes towards the COVID-19 pandemic in Germany—The influence of MEDIA, politics and personal characteristics. International Journal of Environmental Research and Public Health, v. 18, n. 15, p. 7772, 2021.
SILVA, Jeane Barros de et al. Campanha de vacinação contra COVID-19: diálogos com enfermeiros atuantes na Atenção Primária à Saúde. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 55, 2023.
DOMINGUES, Carla Magda Allan Santos. Desafios para a realização da campanha de vacinação contra a COVID-19 no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, 2021.
Fonte(s) de financiamento: NÃO HOUVE FINANCIAMENTO
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