Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.24 - Educação Popular: somos todos educadores

50233 - TRILHANDO CAMINHOS DA EDUCAÇÃO POPULAR NA FORMAÇÃO INICIAL EM SAÚDE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
MONICA MARXSEN DE AGUIAR ROCHA COUTINHO - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE/IOC/FIOCRUZ., CAROLINA NASCIMENTO SPIEGEL - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) E PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE IOC/FIOCRUZ., ANA PAULA MASSADAR MOREL - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)


Apresentação/Introdução
A educação popular em saúde é um campo imprescindível para a formação em saúde, pois preza por uma atuação dialógica e emancipatória, considerando as determinações sociais do processo saúde-doença-cuidado. É um desafio a ser trabalhado na formação inicial em saúde, que normalmente baseia-se na biomedicina e se distancia do território. Com a pandemia da Covid-19, o negacionismo científico foi intensificado pela extrema-direita e fortalecido pelo distanciamento entre a população e a ciência. A atuação dos profissionais de saúde distanciada da realidade social também teve contribuições, causando dúvidas e desconfiança na população. Este trabalho apresenta os resultados de uma dissertação de mestrado que desenvolveu uma pesquisa participante, baseada na educação popular, com o referencial de Freire (1987), com graduandos da saúde da Universidade Federal Fluminense (UFF), a fim de criar estratégias para o enfrentamento do negacionismo. As ações foram articuladas com um projeto de extensão popular da UFF, que promove ações em educação popular em saúde no Morro da Providência, favela do Rio de Janeiro. Essa articulação objetivou fortalecer pesquisas sobre o negacionismo científico, a partir da educação popular em saúde, na formação inicial em saúde, além de ressaltar o importante papel da extensão universitária neste processo, reforçando o tripé pesquisa-ensino-extensão.

Objetivos
Promover a discussão sobre o negacionismo científico e de como enfrentar esse fenômeno, na formação inicial de profissionais de saúde, dentro da perspectiva da educação popular em saúde, articulada com um projeto de extensão popular.

Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida no contexto de uma disciplina de educação em saúde da UFF em 2022, com abordagem qualitativa, através de uma pesquisa participante. Os graduandos de biomedicina e nutrição desenvolveram ações educativas em saúde. As ações que abordavam o negacionismo científico foram analisadas considerando as concepções de saúde envolvidas (perspectiva biomédica ou popular), através da análise de conteúdo de Bardin. Os educandos tiveram como ponto de partida para a construção das ações educativas a análise em grupo de estudos de caso que foram desenvolvidos a partir de uma pesquisa participante realizada pela extensão, com os moradores do Morro da Providência. Essa pesquisa envolveu a aplicação de um questionário sobre a pandemia da Covid-19 com os moradores. A relação entre a pesquisa participante do mestrado e da extensão se estabeleceu ao compartilharmos com os estudantes as concepções dos moradores sobre a pandemia e ao construirmos conhecimentos sobre as problemáticas que surgiram durante a pesquisa.

Resultados e Discussão
Nos 5 trabalhos analisados haviam discursos em consonância com a educação popular, e outros que se confundiam com ações biomédicas. Foi ressaltada a importância dos saberes populares, o que dialoga com os escritos de Valla (1996). Refletiram sobre como desenvolver práticas que considerem a realidade local, incentivando o protagonismo dos sujeitos, como preconizado por Freire (1987). Dois grupos sugeriram a criação de perfis em redes sociais para dialogar com a população. Outros se propuseram a trabalhar com a educação popular, mas planejavam ações verticais como palestras, divulgação de informações ou a definiam como uma forma simples de divulgar os conteúdos, caracterizando ações sanitárias. A literatura disserta sobre a dificuldade de apropriação da educação popular, principalmente pelos profissionais de saúde. A formação curricular baseada em modelos não dialógicos de educação e a força do modelo biomédico podem contribuir para a compreensão da dificuldade desses profissionais em dimensionar e operacionalizar os princípios da educação popular (Reis; Silva; Un, 2014). Apenas 1 grupo se baseou desde o início do desenvolvimento do trabalho na educação sanitária, com a produção de cartilhas com orientações de cuidado em saúde. Nespoli (2016) define a educação sanitária como uma forma de controle social, ancorada no pressuposto de que a ignorância é a principal causa das doenças. Por isso, é necessário que haja projetos e programas que reorientem a formação e a pós-formação em saúde visando a transformações significativas nos serviços públicos de saúde (Santorum; Cestari, 2011). A partir dessas experiências, o grupo de extensão promoveu uma oficina sobre o negacionismo científico no Pré-Vestibular da Providência, promovendo o retorno à população das ações desenvolvidas.

Conclusões/Considerações finais
A pesquisa reforçou o papel central da extensão na responsabilidade social da universidade com a população e na formação inicial em saúde, através da aproximação do educando com as realidades sociais. Possibilitou a construção dialógica do conhecimento entre os educandos e as pesquisadoras, porém eles apresentaram dificuldades de se apropriarem da educação popular, o que de fato é muito desafiador. Também foi importante estimular os educandos a desenvolverem propostas educativas voltadas para um contexto específico, e não de forma abstrata, que desconsidere as condições de vida da população. As ações possibilitaram a reflexão dos discentes sobre a sua prática e viabilizaram espaços de construção coletiva do saber, trazendo algumas respostas e deixando diversos questionamentos. A pesquisa evidenciou a importância da inserção dos educandos no território, que pode ser viabilizada pela lei da curricularização da extensão, uma forma de integrar os graduandos nas ações extensionistas.

Referências
Freire, P. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
Nespoli, G. Da educação sanitária à educação popular em saúde. In: Bornstein, V. J. et al. Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde: textos de apoio. Rio de Janeiro: EPSJV, p.47-51, 2016.
Reis, I. N. C.; Silva, I. L. R.; Un, J. A. W. Espaço público na Atenção Básica de Saúde: Educação Popular e promoção da saúde nos Centros de Saúde-Escola do Brasil. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 18, p. 1161-1174, 2014.
Santorum, J. A.; Cestari, M. E. A educação popular na práxis da formação para o SUS. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 9 n. 2 p. 223-240, jul./out. 2011.
Valla, V. V. A crise de interpretação é nossa: procurando compreender a fala das classes populares. Educação e Realidade, 21:77-190, 1996.


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