06/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC8.23 - Cuidado, Formação e transformação |
53687 - YOGA E BEM VIVER: PROMOVENDO SAÚDE POR MEIO DE RELAÇÕES ÉTICAS E HUMANIZADAS NA UNIVERSIDADE PAULA GIOVANA FURLAN - UFSCAR, CAROLINE BEIER FARIA - UFSCAR, TANIA CRISTINA FASCINA SEGA ROSSETTO - UFSCAR, KARINE WLASENKO NICOLAU - UFMT, PRISCILA PATRÍCIA DA SILVA - UFMT
Contextualização O yoga é um sistema filosófico indiano milenar para o desenvolvimento da consciência e a construção da ética nas relações sociais. Chegou ao Ocidente, efetivamente, há pouco mais de um século (Siegel e Barros, 2022). Engloba diversas práticas de tranquilização da mente, de respiração e posturas corporais, para a realização do Ser. Desde 2006, foi reconhecido pelo Sistema Único de Saúde brasileiro como uma Prática Integrativa, em congruência com as recomendações da Organização Mundial da Saúde sobre a incorporação de Medicinas Tradicionais para sistemas de saúde mais justos e eficazes. O conceito de Bem Viver, em uma perspectiva decolonial, associado a esta atividade, possibilitou ampliar horizontes do cuidado em saúde para considerar as inter-relações natureza-vida humana, orientando-se por cosmologias indígenas ancestrais, assim como o yoga. De acordo com Cunha e Sousa (2023), o termo que dá origem ao conceito de bem viver é o sumaq kawsay, do povo Kíchwa, da agricultura camponesa andina, que pode ser traduzido como uma forma bela de viver, fundamento das práticas tradicionais de povos nativos das Américas. No ambiente universitário, torna-se uma oportunidade de experienciar relações humanas voltadas para a cultura de paz.
Descrição da Experiência Por meio de projeto de extensão, foram desenvolvidos, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), grupos semanais de prática de yoga, com enfoques diversos, tais como meditação, respiração, relaxamento, ações éticas, qualidade de vida. Os grupos ocorreram em ambiente universitário, sendo abertos à comunidade externa; e seguiram o referencial do Raja, Hatha e Tantra Yoga. Os registros ocorreram em diário de campo e em relatórios técnicos com a função de acompanhar e monitorar as ações desenvolvidas, desde 2017 até o presente, contando com mais de um grupo semanal, dependendo da disponibilidade de sala apropriada. Cada encontro apresentou duração média de uma hora e foi conduzido por terapeutas ocupacionais, docentes e técnicas da universidade.
Objetivo e período de Realização Relatar a experiência de grupos semanais de yoga na UFSCar, destacando aspectos para a promoção da saúde pessoal e integral, orientandos pelo conceito do Bem Viver. A experiência ocorreu de 2017 e permanece até o presente.
Resultados Os relatos produzidos até o momento evidenciaram melhora da qualidade do sono, diminuição ou manejo da ansiedade, confiança na tomada de decisões, aumento da análise reflexiva sobre dificuldades pessoais, diminuição de dores, melhora da disposição geral, interrupção de relações violentas. Em junho de 2024, já haviam sido registrados mais de 460 encontros, atendendo aproximadamente 580 pessoas. O espaço criado pelo yoga com os encontros grupais favoreceu o encontro entre as pessoas, a formação de uma rede de apoio e suporte mútuo para vivência das dificuldades cotidianas, a reflexão sobre as adversidades da vida e de suas (re)ações no mundo. Verificou-se o anseio pela busca do conhecimento de si para enfrentamento de situações como sofrimento existencial, dores físicas crônicas, traumas emocionais, relacionamentos abusivos, ideação suicida, medo paralisante, falta de vontade e coragem.
Aprendizado e Análise Crítica A perenidade dos grupos de yoga na UFSCar contribuiu para a grupalidade (Nicolau, Furlan e Silva, 2023), favoreceu a confiança e o pertencimento social. Houve momentos de dificuldade de apoio institucional e inexistência de espaço físico adequado para realização dos encontros, exigindo reformulações na oferta. O referencial do Bem Viver nesta experiência permitiu a ampliação do escopo da atividade, não se atendo somente ao binômio saúde-doença, como uma prática que visasse um resultado de utilidade ou de consumo de bem-estar, mas ao apoio à realização de relações éticas e de percepção da interdependência entre pessoas, seres e o planeta para o cuidado de si. Observou-se que, particularmente para a formação profissional de estudantes, a inclusão de uma prática integrativa como o yoga oportuniza a construção de uma relação diferenciada com a própria instituição de ensino e com as pessoas que dela fazem parte. Nessa direção, deve-se destacar que um dos desafios para a formação em saúde refere-se à abordagem de elementos subjetivos (não individuais ou isolados), especialmente no âmbito das relações humanas, que a prática do yoga permite vivenciar. A perspectiva decolonial foi reafirmada pelo incentivo à produção coletiva de relações baseadas na realidade universitária brasileira.
Referências CUNHA, E. V.; SOUSA, W. J. O bem viver no Brasil: uma análise da produção acadêmica nacional. Revista Katálysis, 26(2): 321-332, 2023.
NICOLAU, K. W.; FURLAN, P. G.; SILVA, P. P. Promoção de saúde como processo coletiva: os grupos em questão. In: GIACOMOZZI, A. I. et al. (orgs.). Promoção da Saúde Mental no Brasil: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Vetor, 2023.
SIEGEL, P.; BARROS, N. F. Yoga: tradição e prática integrativa de saúde.Campinas, SP: Pontes, 2022.
Fonte(s) de financiamento: Não há.
|
|