Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.23 - Cuidado, Formação e transformação

52484 - IDENTIDADE PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO: DESAFIOS PARA ATUAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
RENATA DA SILVA ANTUNES - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA., ÂNGELA FERNANDES ESHER MORITZ - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA, DEPARTAMENTO DE POLÍTICA DE MEDICAMENTOS E ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA, RONDINELI MENDES DA SILVA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA, DEPARTAMENTO DE POLÍTICA DE MEDICAMENTOS E ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA.


Apresentação/Introdução
Este estudo abordou a atuação do farmacêutico no campo da farmácia social, focando no modelo centrado no paciente no Sistema Único de Saúde (SUS)1. Embora em expansão na Atenção Primária à Saúde (APS), essas práticas enfrentam desafios regulatórios e de reconhecimento. O processo de integração das atividades do farmacêutico na APS, proporcionou a construção de uma nova identidade profissional (IP) no campo da saúde pública2 que não é linear já que envolve histórias, expectativas, atitudes e valores e é moldada pela socialização profissional. Esta inclui habilidades, conhecimentos, comportamentos necessários para assumir o seu papel no mundo do trabalho. Elementos como formação acadêmica, experiências profissionais e interações sociais constituem a IP3. Dubar4,5 destaca a importância da interação social e subjetividade na formação da IP, permitindo análise sistêmica da carreira e trajetória profissional.
Destarte, a IP do farmacêutico que atua na APS é um assunto pouco explorado e envolve analisar seu percurso, as práticas e competências profissionais e como a política influencia tal contexto. Sob esta ótica, o enfoque para esta pesquisa encontra-se na discussão da IP do farmacêutico que atua na APS do município do RJ.


Objetivos
Analisar a identidade profissional (IP) dos farmacêuticos na Atenção Primária à Saúde (APS) no contexto da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) destacando elementos constituintes frente à sua prática; além de experiências, expectativas, limites e desafios sobre a atuação na APS e seus reflexos para sua IP.

Metodologia
Realizou-se pesquisa qualitativa com farmacêuticos de unidades de saúde APS, universidades e do Conselho Regional Farmácia Rio de Janeiro (CRF-RJ), selecionados por conveniência, atendendo critérios inclusão de experiência mínima de um ano APS ou docência em farmácia em universidades RJ ou ser pertencente ao corpo institucional do CRF-RJ, excluindo gestores,trabalhadores de centros psicossociais e hospitais.
Entrevistas semiestruturadas abordaram percurso, formação e atuação profissional, atividades desenvolvidas em serviço,dificuldades no trabalho e informações sobre diretrizes, políticas públicas, protocolos e regulamentação que norteiam a formação e a atuação do farmacêutico. Participaram oito farmacêuticos (E01 a E08) entre o 2º semestre 2021 e o 1º de 2022. A análise de conteúdo, com suporte teórico na socialização profissional e nos atributos da APS, identificou três categorias: "percurso e formação profissional", "IP frente aos atributos APS" e "atuação APS diante regulação profissional/sanitária ". A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca e da SMS-RJ, sob os pareceres nº 4.980.567 e 5.064.118, respectivamente.



Resultados e Discussão
Analisou-se 8 farmacêuticos, com média de idade 43 anos e 17 anos de formação. A maioria (7 em 8) fez pós-graduação, com ênfase farmácia clínica e hospitalar. Sob a ótica do percurso profissional e formativo, começaram suas carreiras no setor varejo, com restrições legais que impactavam sua autonomia6 e posteriormente, migraram para área hospitalar. A transição para a APS foi uma oportunidade de reformular as práticas de saúde, alinhando-se a um modelo de assistência focado na integralidade do cuidado.
Em relação a IP frente aos atributos da APS, as atividades do farmacêutico sugerem prioridades para a gestão da AF, focada na logística de medicamentos e gestão clínica7. O trabalho em equipe multidisciplinar promove serviço organizado, autonomia, fortalecimento do vínculo entre profissionais e usuários e a busca de uma abordagem integral e resolutiva. Desafios incluem recursos limitados e regulamentação sanitária restritiva, afetando a prática farmacêutica e resultando em entraves quanto a IP desse profissional. Foram inferidos relatos sobre o desconhecimento da atuação na APS, ausência de apoio às atividades desenvolvidas e de legislação direcionada ao setor, bem como o aprisionamento que a legislação disponível exerce, ao se referir ao conselho profissional.
Entrevistados propõem a criação de uma carteira de serviços farmacêuticos para nortear atividades, visando melhorias nos cuidados de saúde para a população e uma gestão eficaz de recursos.
A IP e essa relação com a APS é um desafio formativo constante, requerendo mudanças para ampliação de habilidades e maior flexibilidade de atuação. Os farmacêuticos buscam reafirmar sua IP, superando barreiras tecnicistas, e buscam reconhecimento e apoio de políticas públicas que garantam a sua atuação efetiva no cuidado à saúde.


Conclusões/Considerações finais
O estudo examinou a IP dos farmacêuticos que trabalham na APS no RJ, destacando sua constante adaptação aos desafios do ambiente de trabalho. Identificou lacunas na formação profissional que afetam a construção da IP, enfatizando a importância da atuação colaborativa dos farmacêuticos na APS e a combinação de diferentes conhecimentos para uma aplicação prática eficaz, voltada a melhoria de acesso e ao uso apropriado de medicamentos no SUS. Apesar dos desafios, estão desenvolvendo habilidades sociais para se integrarem às equipes de saúde. A mudança no modelo de atenção à saúde requer transformações contínuas nos serviços e práticas profissionais, além de políticas públicas para garantir a presença dos farmacêuticos na APS. Como limitações, apontou a falta de perspectivas de outros profissionais de saúde. Concluiu que a construção da IP dos farmacêuticos na APS é influenciada pelas mudanças no processo de trabalho em saúde, reforçando o papel do farmacêutico nesse contexto

Referências
1. Correr CJ et al.Assistência farmacêutica integrada ao processo de cuidado em saúde: gestão clínica do medicamento.Rev. Pan-Amaz de Saúde.2011;2(3):41-49.
2.Silva DAM et al.A prática clínica do farmacêutico no NASF. Trab Educ Saúde.2018;16:659–682.
3.Vozniak L et al.A Identidade Profissional em análise:um estudo de revisão sist. literatura. Educação.2016;41(2):281-96.
4.Dubar C.A socialização Construção das identidades sociais e profissionais.São Paulo:Martins Fontes; 2005.
5.Dubar C A construção de si pela atividade de trabalho:a socialização profissional.Cad Pesq. 2012;42(146):351–67.
6.Brasil.Lei nº 5991,de 17 de dezembro de 1973.Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas,Medicamentos,Insumos Farmacêuticos e Correlatos,e dá outras Providências.
7.Alencar TOS,Nascimento MAA do.Assistência Farmacêutica no Programa Saúde da Família: encontros e desencontros do processo de organização.Ciênc saúde coletiva.2011;16(9):3939–49.

Fonte(s) de financiamento: Declaramos que o trabalho não contou com qualquer tipo de apoio ou financiamento externo, tendo sido realizado com recursos próprios dos autores.


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