06/11/2024 - 08:30 - 10:00 RC8.23 - Cuidado, Formação e transformação |
49925 - ENTRE ENCONTROS E DESENCONTROS: BARREIRAS PARA O CUIDADO INTEGRAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE CLAUDIO LUCAS DA SILVA FARIAS - UECE, CARINE DE OLIVEIRA FRANCO MORAIS - UECE, JONAS LOIOLA GONÇALVES - UECE, CRISTINA ALBUQUERQUE DOUBERIN - UECE, JOSÉ MARIA XIMENES GUIMARÃES - UECE, ANTONIA GERCIANA SATURNINO - ESP-CE
Apresentação/Introdução Na contemporaneidade inúmeras são as barreiras existentes na Rede de Atenção à Saúde (RAS), cuja porta de entrada é representada pela Atenção Primária à Saúde (APS), imbricadas no impedimento da implementação prática de um princípio doutrinário que já é assegurado em teoria: a integralidade do cuidado. Entende-se por integralidade o cuidado ofertado e realizado em todos os níveis de complexidade, incluindo a utilização de todos os seus recursos tecnológicos. Um dos desafios da APS é evidenciado pela existência de profissionais da saúde que ainda moldam sua conduta de atendimento ao usuário no modelo biomédico, dificultando a execução dos eixos promotores e preventivos de saúde. Além disso, parcela considerável da população carrega o legado da cultura hospitalocêntrica, o que justifica a necessidade da reestruturação dos modelos formativos de saúde, como também ampliação da cobertura da APS e do capital humano representado pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Nesse ínterim, portanto, a assistência, muitas vezes, acaba sendo direcionada em atos pontuais de tratamento e recuperação de saúde. Diante do exposto, nota-se a necessidade de compreender a percepção dos profissionais e gestores da saúde sobre as barreiras que impactam o desenvolvimento do cuidado integral na APS.
Objetivos Compreender a percepção dos profissionais e gestores da saúde sobre as barreiras que impactam o desenvolvimento do cuidado integral na APS.
Metodologia Tratou-se de um estudo qualitativo, que foi realizado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no período de março a setembro de 2023 nas áreas urbanas dos municípios de Aracati - Ceará e de Iguatu - Ceará, uma vez que eles compartilham em comum o fato de serem municípios ordenadores do cuidado. Participaram 22 profissionais e 4 gestores de saúde com ensino superior das UBS e coordenação da APS. Os critérios de inclusão foram: profissional de nível superior que atua nas UBS do município de Aracati e Iguatu em área urbana e os coordenadores/gestores em saúde da APS com, no mínimo, 3 meses de atuação nesse cenário. Já os critérios de exclusão foram: profissionais em regime trabalhista temporário; afastamento por férias ou licença saúde, ou os que se recusaram a participar. Utilizou-se uma entrevista semiestruturada com perguntas norteadoras de forma individual. Os dados coletados foram analisados e interpretados na perspectiva hermenêutica-dialética. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública do Ceará sob o nº do CAAE: 5.921.294/2023 e 5.921.292/2023.
Resultados e Discussão As categorias que emergiram dos discursos foram: Concepções sobre integralidade do cuidado em saúde; Capacitação de recursos humanos e Fragilidades na manutenção da longitudinalidade do cuidado em rede. Revela-se um bom nível de entendimento sobre o processo de cuidado em saúde, que foi tangenciado exatamente para a vertente da integralidade. Estes percebem ideias sobre o direito ao acolhimento e escuta de qualidade e acesso a todos os serviços e suas tecnologias. Corrobora-se que a compreensão dos profissionais de saúde da APS frente à utilização adequada dessas ferramentas para a potencialização da integralidade é necessária e urgente. Entretanto, profissionais e gestores enfatizaram a necessidade de capacitação dos recursos humanos que trabalham na APS. Eles alegaram falta de treinamento e preparo de membros dos recursos humanos para um bom desempenho de suas atividades laborais nos dispositivos de saúde frente às demandas dos usuários. Esse despreparo é preocupante principalmente porque destoa do raciocínio de que o processo de formação acontece dentro do próprio serviço, ampliando a capacidade de resolução das equipes, fortalecendo a mudança no modelo de atenção à saúde e facilitando a melhoria dos processos de trabalho . Nota-se argumentos desfavoráveis à manutenção da longitudinalidade do cuidado, como erro e morosidade no preenchimento de documentos necessários ao deslocamento do usuário em rede e a falha na comunicação interprofissional. Isso se distancia da integração entre os níveis de complexidade para assegurar a assistência com continuidade à população
Conclusões/Considerações finais Os profissionais de saúde e gestores revelam um entendimento concreto sobre a integralidade do cuidado. No que tange ao processo de trabalho de trabalho de membros das equipes, afirmaram existir a necessidade de capacitação para melhor atuação frente às demandas dos usuários. Parcela menor, mas não menos expressiva no seu discurso, expressou algumas das fragilidades na manutenção da longitudinalidade do cuidado. Depreende-se daí, que, embora existam significativos avanços referentes à integralidade do cuidado na APS, muitas ainda são as barreiras para que ela seja ofertada a todos. Espera-se, portanto, que este trabalho propicie uma reflexão de como as práticas do processo de cuidado vem sendo desenvolvidas em municípios que são tidos como referências em seus estados, a fim de contribuir para formulação de ações que visem sua melhoria.
Referências FLOR, T. B. M. et al. Formação na Residência Multiprofissional em Atenção Básica: revisão sistemática da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 27, n. 3, p. 921-936, mar. 2022.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
SANTOS; M. E. T. BALK, R. S. A Fisioterapia na Atenção Primária à Saúde: Relato de experiência na residência multiprofissional em saúde coletiva. Saúde em Redes, Porto Alegre, v. 7, n. 2, 2021.
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