Roda de Conversa

06/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.23 - Cuidado, Formação e transformação

49836 - GRUPOS NA SAÚDE: CUIDANDO DE QUEM CUIDA
HOSANA MÔNICA FERNANDES TABOSA - IPC, CAROLINA DE NUNES OLIVEIRA - IPC, MARIA DE LOURDES FERREIRA DE OLIVEIRA - IPC, RAFAELA FERREIRA DE OLIVEIRA - IPC


Contextualização
A atenção secundária é formada pelos serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar e desempenha um papel imprescindível na resolubilidade e integralidade do cuidado. A oncologia também está presente na atenção secundária e nela é possível perceber muitos pacientes diagnosticados com a doença trazendo consigo seus estigmas, vulnerabilidades e medos (CORDÁS et al., 2020; Conselho Federal de Psicologia- CFP, 2019; ERDMANN, 2013).
Os profissionais enfrentam também o “estar de frente para o câncer”, algo difícil, visto que o diagnóstico faz emergir a questão da morte não só para os pacientes, mas para os próprios profissionais de saúde. Em pesquisa de Silva (2010) é possível observar a fundo como essa percepção da morte e do câncer ocorre. Ela cita que muitos profissionais se veem envoltos nesse processo e às vezes eles enfrentam situações que mobilizam seu emocional de forma intensa, o que pode dificultar o trabalho, gerar confusão com aspectos técnicos e gerar elevado sofrimento pessoal. (CFP, 2019).
Compreendendo essa situação, o setor de psicologia em parceria com a gestão do Instituto de Prevenção do Câncer (IPC) desenvolveu o Grupo de Apoio e Desenvolvimento dos Trabalhadores. O grupo teve por finalidade propor um espaço de debate e educação em saúde que traga por meio de atividades dinâmicas a capacitação e o bem estar dos trabalhadores.


Descrição da Experiência
Inicialmente foi investigada as demandas dos setores para identificar temas relevantes a serem trabalhados, em seguida foi delimitada a metodologia de grupo operativo de Pichon Rivière com grupo aberto e com temas que permitissem mesclar aspectos técnicos/ teóricos com aspectos emocionais dos trabalhadores. Participaram em média 9 profissionais por atividade, dentre eles profissionais da enfermagem, serviço social, gestão, atendimento ao público etc.
Foram realizados 14 encontros, sendo os 5 primeiros mais focados na saúde mental e autocuidado dos trabalhadores. Nesse momento foram realizadas rodas de conversa e atividades físicas. Esse foco inicial ocorreu para facilitar o vínculo entre os participantes e deles com o grupo e para trabalhar questões base como respeito, cuidado integral e quebra de estigmas para que fosse possível posteriormente abordar aspectos mais técnicos sem que houvesse resistência ou “culpabilização”.
Posteriormente foram abordados temas diversos, como: Comunicação no trabalho por meio de pintura de painel, Ética com Role Play (dramatização), explicação de termos em oncologia por meio de roda de conversa etc. Esse segundo momento objetivou suprir as necessidades dos setores de forma dinâmica, incentivando a fala e a troca de experiências.


Objetivo e período de Realização
O resumo tem por objetivo relatar a experiência da condução e realização do grupo Institucional e sua relevância para a formação profissional na saúde. O Grupo foi realizado no período de agosto a novembro de 2023 no IPC.


Resultados
Foram identificados dois aspectos considerados mais relevantes: o método e os feedbacks. Foi percebido maior participação nas atividades interativas, com metodologias dinâmicas como roda de conversa e pintura. Nessas atividades os trabalhadores demonstravam participação no sentido de maior frequência e maior participação verbal por meio de relatos de vivências, comentários e devolutivas, mesmo que para isso fosse necessário atividade fora do ambiente de trabalho como leitura prévia do conteúdo. A experiência reforçou a importância de utilizar o modelo de educação em saúde que priorize a interação entre os saberes e não somente o modelo unidirecional.
Era solicitado ao final de cada encontro que os trabalhadores participantes relatassem o que achavam da atividade e se foi benéfica para seu exercício profissional e para seu pessoal. Em sua maioria os feedbacks eram positivos e traziam a relevância do grupo como uma forma de aquisição de novos conhecimentos teóricos e como forma de se conectar com seus sentimentos, pensamentos e história de vida. Deste modo o grupo, por meio dos feedbacks, foi tido como algo terapêutico, que auxiliou tanto o trabalho quanto pessoalmente.


Aprendizado e Análise Crítica
A construção e condução do grupo foram processos gratificantes mas ao mesmo tempo se mostraram um desafio, pois mesmo com o apoio da gestão institucional o pensamento de que “um grupo para debates não é necessário” ainda se mostrava presente trazendo resistência inicial à participação. Durante o processo grupal os participantes foram desmistificando ideais pré concebidos ao passo que compreendiam os objetivos das atividades e percebiam o grupo como um local acolhedor, sigiloso e de aprendizado.
Apesar dos desafios enfrentados o grupo com foco nos trabalhadores ligados à oncologia se mostrou uma potente ferramenta para educação em saúde pois ao mesmo tempo que dá abertura para escutar os profissionais e suas necessidades possibilita o debate com foco em resolução de problemas como: melhoria no trabalho em equipe, discussão de conteúdos teóricos essenciais para o trabalho e replanejamento de comportamentos e pensamentos frente a necessidade de pacientes e outros colegas.
Por fim, pode-se dizer que o grupo trouxe aprendizado para todos os que nele passaram, seja para os trabalhadores, para quem facilitou o momento e para o setor de psicologia que ficou à frente. E a partir desse primeiro grupo pode-se pensar novas estratégias de divulgação, metodológicas e teóricas para melhorar a qualidade de trabalho, convivência e saúde dos trabalhadores.





Referências
Conselho Federal de Psicologia (BRASIL).Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS. Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas. 1ª. ed., Brasília: 2019.

CORDÁS, Tak Athanásios, et al. Prática Psiquiátrica em Oncologia. São Paulo:Artmed Editora, 2020.
ERDMAN, Alacoque Lorenzini, et al. A atenção secundária em saúde: melhores práticas na rede de serviços. Rev. Latino- Am. Enfermagem, vol. 21, no.8. jan/ fev.2013.Disponível em:https://doi.org/10.1590/S0104-11692013000700017Acesso em:13. jun. de 2023.
SILVA, Lucia Cecilia. O sofrimento psicológico dos profissionais de saúde na atenção ao paciente de câncer. Psicol. Am. Lat. N.19. México, 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2010000100012 Acesso em: 11. jul. de 2023.


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