54075 - INOVAÇÃO, FORMAÇÃO E TRABALHO NA SAÚDE: LIÇÕES DE UM PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DA INOVAÇÃO EM SAÚDE NO CENTRO DE SAÚDE ESCOLA GERMANO SINVAL FARIA
MARCELLY DE FREITAS GOMES - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, JOSÉ EDUARDO PEREIRA FILHO - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, ANA PAULA MORGADO CARNEIRO - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, MARCIO AMORIM FEITOZA - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, ALINE MACENA DOS SANTOS - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, LIANA BRAGA PARAGUASSU - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, LUCAS BRAGANÇA LOPES RIBEIRO - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, AVELINO FERNANDES - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ, FERNANDA FERNANDES ROCHA - PÓLEN/ENSP/FIOCRUZ
Contextualização
Com o propósito de fomentar a inovação na administração pública, os laboratórios de inovação no setor público (LISPs) possuem potencial para agregar diferentes temáticas e atores, além de introduzir metodologias experimentais e colaborativas para a solução de problemas públicos (Caliman; Assis, 2019). Os laboratórios de inovação podem ser vistos como tentativas de criar uma resposta organizacional às barreiras para inovar. Essas experiências inovadoras na gestão pública podem contribuir, de algum modo, com novas práticas e saberes, e para uma cultura de inovação no enfrentamento dos desafios de saúde pública do Sistema Único de Saúde (SUS). Em razão da situação histórica de subfinanciamento do SUS e dos desafios administrativos, organizacionais e de fragmentação do modelo de atenção à saúde enfrentado rotineiramente pelos gestores públicos, torna-se cada vez mais imperativo que, se recorra à busca pela inovação, com vistas a melhorar a qualidade do cuidado em saúde para as populações em todo território nacional (Leles et al., 2019). Nesse sentido, de modo a enfrentar os desafios de cuidado em saúde no SUS, o Pólen – Laboratório de Inovação em Gestão Pública da ENSP/Fiocruz – em parceria com o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF) desenvolveram um Programa de Aceleração da Inovação em Saúde para os profissionais de saúde do CSEGSF.
Descrição da Experiência
O Programa visa estimular a criatividade, contribuir para a reflexão da inovação no SUS e ampliar a vivência dos trabalhadores. Assim, buscou-se o desenvolvimento de capacidades inovadoras entre os profissionais de saúde, fomentando uma cultura de inovação para uma gestão pública e um SUS com mais qualidade. O Programa ofereceu formação aos profissionais de saúde do CSEGSF, disseminando conceitos e metodologias inovadoras, com abordagem interdisciplinar e centrada nas pessoas, estimulando uma visão de cocriação, participação e experiementação. Os profissionais de saúde – de todas as categorias que compõem a Estratégia de Saúde da Família - se candidataram por meio de um edital público, inscrevendo um projeto com ideias inovadoras a serem desenvolvidas. Foram selecionados cerca de 60 trabalhadores e 18 projetos. Os profissionais de saúde participaram de 5 oficinas de formação sobre desing thinking com foco na imersão e protototipação de projetos com abordagem participativa; inteligência artificial; técnicas de facilitação e de criatividade; e linguagem simples para comunicação em saúde. As oficinas foram conduzidas com problematização dos desafios do serviço de saúde elencados por cada equipe. Após a trilha de aprendizagem, as equipes desenvolveram seus projetos no período de três meses, com apoio financeiro de cinco mil reais por projeto e acompanhamento de mentores.
Objetivo e período de Realização
Estimular a criatividade, originalidade e desenvolver novas soluções para a gestão em saúde, com propostas que solucionem um problema específico identificado como prioridade para o CSEGSF e o SUS, ou que tenham lições, ferramentas ou produtos que possam ser replicados em outros usos, contextos e setores da saúde coletiva. O Programa de Aceleração da Inovação em Saúde ofereceu formação, acompanhamento e apoio financeiro por projeto selecionado. O Programa aconteceu de janeiro a junho de 2024.
Resultados
O Programa buscou contribuir para incrementar uma cultura de inovação, envolvendo a transformação de práticas e valores, com a participação dos atores sociais, enfatizando ações colaborativas e participativas visando a formação dos profissionais de saúde e a implementação de projetos inovadores em saúde, contribuindo, assim, para a melhoria dos serviços de saúde para a população. Agentes comunitários de saúde, psicólogos, enfermeiros, técnica de saúde bucal, farmacêutico, técnica de farmácia e recepcionistas participaram do Programa, compondo as diferentes equipes. Foram desenvolvidos projetos desde saúde bucal para crianças, de cuidado entre os próprios ACS com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, recepção renovada para melhorar o atendimento dos usuários e o bem-estar dos trabalhadores até o estabelecimento de um ambulatório de assistência, ensino e pesquisa para pacientes usuários do CSEGSF com indicação do uso de cannabis medicinal para garantia do acesso, entre outros projetos. Os resultados evidenciaram que a inovação facilita o engajamento dos indivíduos e possibilita o uso de novas abordagens na resolução dos problemas de formação, trabalho e educação na saúde.
Aprendizado e Análise Crítica
O estabelecimento do Programa nos permitiu compreender que políticas de inovação em saúde são aquelas que, sobretudo, privilegiam a participação e a colaboração entre as pessoas, fortalecendo processos de governança democrática na gestão de uma instituição de saúde. A implementação de processos de inovação requer abordagens centradas nas pessoas em um espaço social acolhedor, empático e favorável a mudanças. Construir um programa de formação e experimentação que valoriza as capacidades inovadoras dos profissionais de saúde, têm impulsionado uma cultura de inovação, contribuindo para um ecossistema de inovação pública em saúde no CSEGSF. O Programa destaca a importância de iniciativas de formação, trabalho e educação na saúde em consonância com a diversidade, pluralidade e interdisciplinaridade de profissionais de saúde que atuam no SUS, abrindo um espaço – social, político e cultural – de estímulo a criatividade e cooperação, no qual seja valorizado os saberes e as práticas em saúde e onde as soluções de saúde e cuidado sejam construídas coletivamente.
Referências
BRESSAN, F. Propuesta de una ecuación para el fomento de la innovación em las organizaciones. Journal of Management and Economics for Iberoamerica. 2013; 29(126): 26-36.
CALIMAN, N. F.; ASSIS, M. C. D. Laboratório de Inovação na Gestão do Governo do Espiríto Santo: Resultados e Aprendizados. Inovação e Políticas Públicas: Superando o Mito da Ideia, Brasília p. 355-373, 2019. 978-85-7811-352-0.
GOMES, J. F. F.; ORFÃO, N. H. Desafios para a efetiva participação popular e controle social na gestão do SUS: revisão integrativa. Saúde em Debate, v. 45, p. 1199-1213, 2021.
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