Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.20 - Promoção da Saúde, Alimentação e Nutrição

52540 - O PLANTÃO PSICOLÓGICO COMO ESTRATÉGIA DE MANEJO DA LACUNA EM SAÚDE MENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EM FORTALEZA-CE.
MANUELLA YASMYM ALENCAR DE LIMA - UNICHRISTUS, ALESSANDRA SERRA NASCIMENTO - UNICHRISTUS, RENAN BRASIL CAVALCANTE CITÓ - UNICHRISTUS


Contextualização
O plantão psicológico é uma modalidade de atendimento emergencial que oferece suporte emocional imediato e acessível a indivíduos em crise. Este serviço se destaca por facilitar o acesso a cuidados psicológicos, especialmente em comunidades vulneráveis, no entanto, ainda é pouco explorado nos sistemas de saúde pública . Salientam-se estratégias como o plantão psicológico, dado a problemática levantada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) descrita como “mental health GAP” (mhGAP) (OMS, 2019) , em resumo, diz respeito à lacuna entre a crescente demanda em saúde mental e a escassez de profissionais especializados e estratégias para lidar com essa demanda na saúde pública. A Atenção Básica (AB) e a lógica de rede inerente a ela é fundamental para lidar com essa problemática de forma eficiente. Nesse sentido, o plantão psicológico se apresenta como estratégia para lidar com o mhGAP, desempenhando um papel crucial na estabilização de crises e emergências psicológicas, aumentando a acessibilidade dos serviços de saúde mental, prevenindo agravamentos das condições de saúde das pessoas atendidas e podendo ser utilizado como estratégia de acolhimento e direcionamento da pessoa no serviço de saúde. O trabalho descreve a experiência de Plantão Psicológico oferecida no Centro Universitário Christus, a partir do estágio curricular ofertado pelo Curso de Psicologia.

Descrição da Experiência
A experiência aqui relatada ocorreu entre janeiro e junho de 2024. Foi atendida uma clientela que, em sua maioria, eram pessoas com dificuldade de acesso à assistência particular em saúde mental. As pessoas atendidas buscaram o serviço pessoalmente, via telefone ou contato virtual, e, caso se configurasse uma demanda emergencial, eram agendadas para algum dos dois turnos semanais do serviço de plantão. O projeto atuou com um plano de até três sessões semanais de aproximadamente cinquenta minutos, podendo ser estendidas o tempo de sessão ou a quantidade de sessões conforme a demanda do usuário. Os métodos de intervenção seguiram um plano orientado pela Abordagem Centrada na Pessoa, com técnicas como a escuta ativa e a focalização (ROGERS; KINGET, 1975; GENDLIN, 2023), além de uma abordagem psicossocial (ALVES; FRANCISCO, 2009). Ao final de cada turno de plantão, houveram supervisões como o psicólogo orientador do projeto, onde se discutiam os casos, a práticas de estagiárias e implementação do plantão. Cada estagiária realizou cem horas de prática supervisionada e para cada sessão de atendimento foram feitos relatos de sessão por escrito, além da produção de um relatório final por cada estagiária, ambos para avaliar o processo de cada pessoa atendida e do serviço como um todo.

Objetivo e período de Realização
Esta experiência teve como objetivo oferecer suporte emocional imediato para a população de Fortaleza, que carece de apoio psicológico, tendo em vista a confluência do fenômeno da “lacuna em saúde mental” e as condições de vulnerabilidade da população de uma grande cidade brasileira como Fortaleza–CE. Nesse contexto, este trabalho visa compartilhar essa experiência refletindo sobre suas possibilidades de expansão ao nível da saúde pública.

Resultados
Compilando os resultados dos casos atendidos, percebeu-se a potencialidade do plantão psicológico como mobilização de recursos de adaptação e realização da pessoa e sua rede de apoio. Os usuários relataram melhorias no bem-estar emocional, sensação de apoio no encaminhamento para outros campos, seja da saúde ou de outras políticas. Para os estagiários, a experiência proporcionou um aprendizado prático valioso, desenvolvendo habilidades essenciais para a atenção básica e saúde coletiva, como escuta ativa, manejo de crises emocionais e intervenção breve. A prática no plantão também ajudou a entender melhor as necessidades da comunidade e as lacunas no acesso e atendimento em saúde mental. A análise dos atendimentos mostrou que muitos usuários precisavam de encaminhamentos para serviços especializados, destacando a importância da integração através do trabalho em redes de saúde e com estratégias de outros setores. Desse modo, percebeu-se o plantão psicológico como estratégia de clínica ampliada para enfrentar a lacuna em saúde mental.

Aprendizado e Análise Crítica
Percebeu-se que o plantão psicológico ofereceu uma resposta rápida e eficaz a crises emocionais, prevenindo o agravamento de problemas de saúde mental. Facilita o acesso a cuidados psicológicos, especialmente das populações mais vulnerabilizadas, e pode promover a integração do cuidado entre saúde mental e outros campos da saúde. Durante o estágio, ressaltou a importância dos referenciais metodológicos tomados, que facilitaram uma postura empática, criando um ambiente seguro para a expressão das emoções dos usuários. Neste sentido, percebemos que essa experiência com o plantão psicológico reforça diretrizes como o Acolhimento e a Clínica Ampliada dadas pela Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2010), em especial na AB. No entanto, embora o plantão psicológico tenha uma longa trajetória no Brasil, ainda é pouco explorado como política pública. Evidentemente o plantão psicológico não substitui a necessidade de investimentos em saúde mental pública em seus diversos níveis, mas poderia ser válido como acolhimento da demanda e para evidenciar uma demanda emergencial que só aparece no sistema já em condições mais graves ou cornificadas. Por fim, a partir da experiência desse estágio, percebe-se o grande potencial do plantão psicológico (nestas bases metodológicas) como formadora de psicólogas articuladas com as demandas da população e do Sistema Único de Saúde.

Referências
ALVES, Edvânia dos Santos; FRANCISCO, Ana Lúcia. Ação psicológica em Saúde Mental: uma abordagem psicossocial. Psicologia Ciência e Profissão, 29(4), pp. 768-779, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/YpCPnpqwGqmxVqNzTKZj36c/.
BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 4a ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010.
GENDLIN, Eugene T. Focalização: uma via de acesso à sabedoria corporal. São Paulo: Editora Gaia, 2023.
ROGERS, Carl R.; KINGET, Godelieve Marian. Psicoterapia e Relações Humanas. vol 2. Belo Horizonte: Interlivros, 1975.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. mhGAP Community Toolkit: Mental Health Gap Action Programme (mhGAP). WHO, 2019.


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