Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.20 - Promoção da Saúde, Alimentação e Nutrição

49973 - OS DESAFIOS DO FAZER: A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA FORMAÇÃO E NA PRÁTICA DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
IAGO ALMEIDA DA PONTE - UECE, JOÃO HENRIQUE CORDEIRO - UECE, HELDER MATHEUS ALVES FERNANDES - UECE, ISRAEL COUTINHO SAMPAIO LIMA - UECE, ALLAN CRUZ DA SILVA - UECE, GREYCEANNE CECÍLIA DUTRA BRITO - UECE, ELISSA MARIA DO NASCIMENTO CARDOZO - UECE, DANILO SILVA ALVEZ - UECE, CARLOS ANDRÉ MOURA ARRUDA - UECE, LORENA OLIVEIRA PEIXOTO - UECE


Contextualização
A Educação Alimentar e Nutricional-EAN é tida como uma estratégia de promoção e garantia da Segurança Alimentar e Nutricional-SAN e do Direito Humano à Alimentação Adequada-DHAA e se insere no Sistema Único de Saúde-SUS a partir da diretriz da Promoção da Alimentação Adequada e Saudável-PAAS da Política Nacional de Alimentação e Nutrição-PNAN. Além disso, estão em direto diálogo com a Política Nacional de Promoção de Saúde-PNPS, promovendo o autocuidado e a autonomia a partir dos hábitos alimentares saudáveis, se utilizando de recursos educativos que fomentam o pensamento crítico e o diálogo entre indivíduos e grupos, articulando este ensino com as diferentes fases da vida, os sistemas alimentares e as complexidades do comportamento alimentar (Brasil, 2012; 2018).
Entretanto, ainda hoje há desafios para a implementação da EAN na Atenção Primária à Saúde-APS devido a baixa valorização da dimensão educacional na atuação dos profissionais nutricionistas, em detrimento ao enaltecimento dos processos utilitários de fiscalização e caracterização de determinantes de saúde, que subsidiam medidas de austeridade econômica governamentais (Cruz, 2020; Pereira, 2008). Desvalorização esta que se complementa pelo despreparo técnico e teórico dos nutricionistas acerca da educação alimentar em seu processo formativo e na atuação profissional.


Descrição da Experiência
Trata-se de um relato de experiência, sistematizado de acordo com a proposta metodológica de Holiday (2006), que parte de uma organização processual em cinco passos norteadores - ponto de partida; perguntas iniciais; recuperação do processo vivido; reflexão de contexto; pontos de chegada. Sendo a pergunta norteadora: a EAN tem sido aplicada pelos nutricionistas de forma satisfatória e garantindo a promoção de saúde dos usuários?
As vivências ocorreram no município de Fortaleza-Ceará em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde-UAPS da regional de saúde IV, que contava com outras 12 UAPS, porém à época só havia duas nutricionistas atuantes, e por isso somente três dessas UAPS contavam com a presença de um profissional nutricionista no serviço.
Na UAPS onde foram realizadas intervenções educacionais por parte dos discentes do curso de Nutrição, cursando a disciplina de Educação Alimentar e Nutricional, também foram realizadas atividades de diagnóstico, onde os discentes, previamente, visitaram a unidade para uma atividade de territorialização a fim de se apropriar acerca das temáticas que deveriam ser abordadas nas intervenções, a partir das demandas do serviço.
As intervenções ocorreram sob supervisão do monitor bolsista da disciplina, com duração totalizada em 3 horas de intervenção, com os diferentes grupos de usuários nas salas de espera.


Objetivo e período de Realização
Neste relato teve-se como objetivo compartilhar as experiências vividas durante a supervisão de práticas de Educação Alimentar e Nutricional e discutir sobre a inserção da EAN no processo formativo do nutricionista e a sua aplicação no Sistema Único de Saúde.
Esta experiência ocorreu no período de Março a Abril do ano de 2022.


Resultados
As intervenções consistiram em realizar ações educativas sobre conceitos relevantes acerca da alimentação saudável e equilibrada, com a maior parte das informações provenientes do Guia Alimentar para a População Brasileira. Foram utilizados jogos, premiações e cartilhas educativas para a execução das ações.
As ações foram realizadas em locais de espera do posto de saúde, o que inviabilizou um melhor processo dialógico e interpessoal entre alunos e usuários, o que subsidiou uma dinâmica de maior transmissividade e verticalização. Nenhuma das equipes realizou intervenções com uma fundamentação pedagógica estabelecida, porém todas realizaram um breve processo avaliativo, ora se utilizando de uma roleta com perguntas e respostas para avaliar os “conhecimentos adquiridos” com a intervenção, ora de uma escala hedônica de satisfação acerca das ações.
Devido a brevidade dos encontros, muitas questões referentes ao aprendizado dos usuários não puderam ser acessadas e somente às percepções dos discentes foram analisadas, quanto ao “sucesso ou insucesso”, que embora ricas de informações, não são contemplativas de toda a experiência de ensino-aprendizagem.


Aprendizado e Análise Crítica
Os nutricionistas deveriam ter uma formação em educação mais enfatizada, pela necessidade de realizar, nos serviços — quaisquer que sejam estes — uma atuação educativa que tenha fundamentação teórico-pedagógica e metodológica, afastando-se de uma postura de orientações meramente transmissíveis e verticalizadas que não se constrói mediante uma participação reflexiva e problematizadora de todos os atores envolvidos (Cruz, 2020; Pinafo et al., 2011).
A partir de uma educação compromissada com as realidades sociais, produzida no desenvolvimento relacional dos sujeitos, profissionais e usuários, se buscará a consecução do desenvolvimento de hábitos saudáveis a partir da concepção que hábitos “não-saudáveis” não estão postos pela ausência do saber, mas por questões mais complexas que requerem maiores subjetivações, visando o desenvolvimento de uma consciência crítica acerca da alimentação, coletiva e individual (Pereira, 2008; Prado et al., 2016). E que este conhecimento esteja ligado àquilo preconizado nas políticas públicas de alimentação e saúde.

Referências
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília, DF: MDS; SNSAN, 2012. 68 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS: Anexo I da Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017, 2018.
CRUZ, P.J.S.C. O agir crítico em nutrição na atenção primária à saúde e suas potencialidades à luz da concepção da educação popular. Ciência & Educação, v. 26, 2020.
HOLLIDAY, O.J. Para sistematizar experiências. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006.
PEREIRA, M.V.N. O Desafio da Formação do Nutricionista como Educador. 2008.
PINAFO, E. et al. Relações entre concepções e práticas de educação em saúde na visão de uma equipe de saúde da família. Trabalho, Educação e Saúde, v. 9, p. 201-221, 2011.
PRADO, S.D. et al. Estudos socioculturais em alimentação e saúde: saberes em rede, vol. 5. EDUERJ, 2016.


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