53281 - A IMPORTÂNCIA DA LUTA ANTIMANICOMIAL: A EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO E VIVÊNCIA DA LUTA NA CIDADE DE ASSIS RENATA DE OLIVEIRA SANTOS - FCL ASSIS - UNESP, ANNA LAURA COSTARD DE SCATIMBURGO - FCL ASSIS - UNESP, ANA CAROLINA LOBO JARDIM - FCL ASSIS - UNESP, GABRIEL RIBEIRO DE JESUS - FCL ASSIS - UNESP
Contextualização O Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18 de maio) foi instituído por profissionais da saúde mental em 1987. A Luta Antimanicomial surge a partir da Reforma Psiquiátrica no país, e caracteriza-se pelo combate ao estigma e às formas de exclusão de pessoas em sofrimento psíquico que muitas vezes são concebidos a partir de um discurso que defende um pretenso tratamento, o qual nega os direitos fundamentais destas pessoas à liberdade e ao pleno exercício da cidadania.
No município de Assis, SP, a Luta Antimanicomial reverbera em eventos destinados à trabalhadoras da Saúde, estudantes da área, movimentos sociais, usuários da Saúde Mental, familiares e tem o intuito de envolver qualquer cidadão que se interesse pelo debate acerca do cuidado em liberdade.
A Semana da Luta Antimanicomial de 2024 em Assis foi realizada por graduandos dos cursos de psicologia da cidade, em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde e Cultura, Pirassis, o Galpão Cultural, o Centro Acadêmico de Psicologia da Unesp, a Liga Interdisciplinar de Saúde, o Coletivo 18 de Maio, entre outros.
A organização e participação nos eventos da Semana foram momentos em que os usuários da Saúde Mental encontraram espaços de escuta acolhedora, de possibilidade de participação ativa e de poder de tomada de decisões, o que muitas vezes ao longo do ano, infelizmente, não é a realidade enfrentada por estes sujeitos.
Descrição da Experiência A construção da Semana da Luta Antimanicomial demandou reuniões semanais, em que estavam presentes alunas de duas universidades de Assis, trabalhadoras da rede de saúde da cidade, o CRP - Subsede de Assis e representantes do Galpão Cultural, Coletivo 18, da Pirassis, da Banda Loko na Boa e da Secretaria de Saúde de Assis, e os usuários de saúde mental do município.
Dessa forma, ao longo dos encontros, foram discutidas as atividades a serem realizadas e houveram propostas de todos que compunham tal espaço, e a partir disso foi construído um cronograma da semana a ser seguido, do qual destacam-se duas experiências vividas durante da semana de luta: a marcha, que teve concentração na Catedral Sagrado Coração de Jesus e São Francisco de Assis e seguiu até o Galpão Cultural, com cantos, e jograis, e distribuição de panfletos à respeito do tema, para obter a atenção e apoio dos cidadãos de Assis; e as atividades organizadas pela Liga Interdisciplinar de Saúde, no qual todos segmentos que compuseram o evento contribuíram para um lanche comunitário, em que foi feita, simultaneamente, uma roda de conversa, para que os usuários da saúde mental pudessem contar como e o que significou a experiência para eles. Após isso, ocorreu a gincana, que consistiu em separar todos os participantes em pequenos grupos e construir um desenho conjunto em papel kraft, com tintas e pinceis.
Objetivo e período de Realização Os eventos da Semana da Luta Antimanicomial foram realizados entre os dias 13 e 17 de maio de 2024 em diferentes períodos em cada um dos dias, para que o maior número de pessoas possível pudesse participar dos encontros. Eles objetivaram fomentar discussões acerca da importância do tema do cuidado em liberdade, a participação ativa de usuários da Saúde Mental e a recordação desta data temática que ainda se faz tão necessária, colocando em prática as ideias propostas pela Reforma Psiquiátrica.
Resultados A Semana da Luta Antimanicomial contou com uma programação repleta de eventos, entre os quais destacam-se neste trabalho a marcha pelas ruas da cidade e o piquenique e gincana com os usuários realizados em um parque do município. Os resultados foram positivos e todos os eventos propostos foram efetivados, a vivência na construção de toda a Semana, e na participação desta, foi de importância imprescindível para a formação das futuras psicólogas e outras profissionais da área e, além disso, a tentativa sensibilização da população assisense foi igualmente importante.
Porém, apesar das conquistas e resultados positivos, alguns revezes foram enfrentados ao longo dos eventos citados como, por exemplo, a postagem de uma matéria acerca da marcha em um jornal virtual local, que foi duramente criticada através de comentários carregados de preconceitos e estigmatização acerca da loucura e até mesmo do trabalho das equipes de saúde. Além disso, também vale o destaque acerca da baixa adesão de estudantes dos dois cursos de Psicologia ofertados na cidade durante a gincana com os usuários, o que salienta certo desinteresse dos mesmos acerca do tema e das práticas que o envolvem.
Aprendizado e Análise Crítica A Semana da Luta Antimanicomial visou trazer o debate sobre a exclusão social dos ditos ‘loucos’, a partir da própria vivência dos usuários dos serviços de saúde mental em Assis. Dito isso, a marcha visou levar a discussão para o centro da cidade e, dessa forma, poder contestar o estigma vivido por essas pessoas. Ademais, visou trazer as interseccionalidades presentes nessas vivências, pautada na visão da saúde coletiva, e, portanto, no pensar de melhores condições de vida para os usuários dos serviços de saúde mental na cidade de Assis.
Além disso, a gincana e o piquenique realizados tiveram importância à medida que todos os participantes, estudantes, integrantes de movimentos sociais, trabalhadoras da saúde e usuários dos serviços da rede de saúde mental que lá estavam, puderam compartilhar o que gostaram, desgostaram ou discordaram do realizado durante a semana, além de expressar, através da pintura, o que sentiram neste período.
Entretanto, o evento e atividades encontraram diversos obstáculos para sua construção e realização, como a baixa adesão dos coletivos participantes nas reuniões, estando estas diversas vezes, esvaziadas. Além da repercussão negativa da marcha perante a população assisense, a qual teceu palavras de baixo calão nas redes sociais. E, por fim, a baixa adesão de estudantes das universidades integrantes no dia da gincana e piquenique.
Referências Amarante, Paulo. Manicômio e loucura no final do século e do milênio. In: Fernandes, Maria Inês Assumpção; Scarcelli Ianne Régia & COSTA, Eliane Silvia (org.). Fim de Século: ainda manicômios?. São Paulo: IPUSP, 1999, p. 47-52.
Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, v. 4, n. 8, p. 45-50, 2012.
Lago, Amanda Regina Fontes do. “É tudo pra ontem”: saúde mental e juventudes em uma perspectiva interseccional. Rio de Janeiro: UFRJ, 2021.
|