Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.19 - Ações formativas e o enfrentamento a iniquidades e vulnerabiliade social

53214 - CUIDADO ESSENCIAL: SABERES E PRÁTICAS DE UM MOVIMENTO DE PRÉ-VESTIBULAR E EDUCAÇÃO POPULAR PARA A JUVENTUDE PERIFÉRICA
THAYNÁ DE OLIVEIRA MOREIRA RODRIGUES - UFF, SÔNIA MARIA DANTAS BERGER - ISC/UFF


Apresentação/Introdução
Compreender os caminhos do cuidado para a juventude periférica do pré-vestibular
popular (PVP) e poder descortiná-los promove a afirmação de um cuidado que é possível de ser desenvolvido em qualquer lugar e espaço assim como praticado por e a qualquer público. Ayres, (2009) Sá et al (2019, p. 26) quando dialogam sobre o cuidado no campo da saúde, vão além e defendem a ampliação da concepção que temos de intervenção em saúde. Faz-se necessário superar a limitação de nossas práticas pautadas no curar, no tratar e no controlar para que o cuidado não se restrinja às competências e tarefas técnicas. Portanto, é a busca de uma atitude cuidadora” que integre “a totalidade das reflexões e intervenções no campo da saúde”. Não é uma tarefa fácil de ser executada, ainda mais, quando deslocamos este pensamento para um público como a juventude, uma população diversa em seu próprio interior e que é impactada diretamente pelas transformações sociais em sua formação e experiência de vida, constituindo-se em uma fase de construção de identidades e afirmação como sujeito. Nesta visão, propiciar o cuidado para a juventude em espaços diferenciados, para além de uma racionalidade técnica, é incidir sobre a dimensão existencial do sujeito, o que permite ou facilita a formação de um sentido humano proporcionado por uma experiência integrada e de integração.


Objetivos
Esse resumo expandido é um recorte de uma dissertação de mestrado que teve como objetivo: analisar as potencialidades e limites de um movimento de educação popular (EP) em promover o cuidado essencial à juventude periférica (JP) do pré-vestibular popular (PVP).

Metodologia
Estudo exploratório de natureza qualitativa, pelo método dialético, a partir de entrevistas semiestruturadas. Propôs-se a produção de um discurso interpretativo das práticas do Cuidado e da Saúde em um movimento social organizado por meio da educação popular, não visto como “de saúde”, vivenciado por sujeitos marcados por comunicações específicas, em determinado território com configurações próprias de seu contexto social. O cenário desta pesquisa foi o PVP da Rede Emancipa, localizado em um município do estado do Rio de Janeiro, que apresenta proposta diferenciada de outros pré-vestibulares. Há uma preocupação com o preparo da juventude para a realização do exame de seleção para ingressar no ensino superior, para além disso existe no movimento uma organização de suas práticas e atividades para que se crie espaços de discussão e prática social com e pela JP que acessa o PVP (ARAGÃO et al., 2016). A etapa de investigação e coleta dos dados ocorreu por meio da entrevista com os seis CE do movimento e observação participante, visto que a pesquisadora foi voluntária da Rede entre o ano de 2020 e 2022. A organização, tratamento e análise dos dados utilizada foi a Análise de conteúdo.


Resultados e Discussão
Foi possível analisar como as ações do PVP traduzem-se em diversos sentidos de cuidado para a JP que se consolidam pelas bases da EP. Inspirando-se em Freire(p. 41) que afirma que “a prática que dá vida ao discurso”, analisou-se uma ação central do movimento: Os Círculos. Eles são rodas de conversa que ocorrem fixamente na grade semanal e é onde ocorrem os primeiros contatos entre educadores e estudantes. Atuam como sementes, pois se percebe nas falas dos CE que o contato nesse espaço assume diversos significados e busca o alcance de uma transformação junto à juventude que possa reverberar para onde forem a partir dos princípios da EP. Assim os Círculos-sementes são espaços de escuta, denúncia e cuidado a partir dos sentidos que assumem durante os encontros, a saber: O círculo-aproximação reflete o estabelecimento de uma relação de confiança e compromisso com a juventude. Reafirma o sentimento de responsabilidade coletiva e a construção desde o início de um espaço de escuta no qual eles possam se sentir acolhidos. O círculo-reconhecimento traz o significado da troca de experiências e a identificação com as histórias de vida presentes. Por meio do acolhimento, do ouvir a juventude, proporcionar espaços de fala, torna-se também um lugar de segurança para os participantes, oportunizando a quebra do silêncio e que se reconheçam como sujeitos de ação que podem e devem interferir no meio em que vivem. Os círculos-diálogo envolvem a juventude em um pensar crítico de sua realidade, a partir de suas próprias experiências e vivências.. Assim, por meio de debates e do ouvir as posições divergentes e respeitar as pessoas que pensam diferente, vão construindo um diálogo crítico-reflexivo sobre a realidade na qual eles estão inseridos.


Conclusões/Considerações finais
Foi possível desvelar desse cenário, as potencialidades dos sujeitos de promoverem, por meio de saberes e experiências, práticas que refletem uma concepção de saúde integral da coletividade. Os educadores, no movimento social de EP e PVP, fomentam, junto à JP, a saúde prevista em nossa Constituição Federal, na perspectiva da garantia de direitos e da participação social para promoção da autonomia e de relações humanas que possibilitem a construção de um Ser-mais no mundo. Caminham, então, na direção de um Cuidado Essencial sob um olhar transgressor, na busca da descolonização do nosso viver/ser/estar no mundo. Para o campo da Saúde Coletiva, traz um olhar ampliado sobre a temática do cuidado, delineando práticas e atitudes cuidadoras em espaços não institucionais de produção de saúde como em um MS de EP. E, por outro lado, corroboram o lugar do educador-cuidador, redimensionando os limites entre os atos de educar e cuidar.


Referências
AYRES, J. R. O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde. Saúde e Sociedade, [S. l.], v. 13, n. 3, p. 16–29, dez. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902004000300003&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 23 ago. 2020.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.
SÁ, M. de C. et al. (Org.). Desafios do Cuidadoe da formação em saúde. Oficinas clinicas do cuidado: efeitos da narratividade sobre o trabalho em saúde. 23. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2019. p. 25–49.

Fonte(s) de financiamento: Própria


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