Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.19 - Ações formativas e o enfrentamento a iniquidades e vulnerabiliade social

49915 - A SAÚDE MENTAL COLETIVA PARA ALÉM DA ÓTICA DA BRANQUITUDE: GRUPOS DE ESTUDOS COMO POSSIBILIDADE DE DESCOLONIZAR O DEBATE.
ANA THAIS DE ALBUQUERQUE NORÕES BOUTALA - UFC, LEVI DE FREITAS COSTA ARAÚJO - UFC, JOÃO PEDRO MORAIS SALES - UFC, LETICIA ALMEIDA QUEIROZ - UFC, KADU LIMA ALENCAR - UFC, FRANCESCA SAYNARA ALVES MARREIRO - UFC, LEONARDO FERREIRA DE MELO FARAH MONTENEGRO - UFC, RAFAEL DAMASCENO PINTO - UFC, TALISON AMARAL DA COSTA - UFC, MARIANA TAVARES CAVALCANTI LIBERATO - UFC


Contextualização
A saúde coletiva, como campo de atuação, pesquisa e reflexão acerca dos processos sociais de adoecimento e cuidado, se constituiu como dispositivo de saber a partir de uma reflexão crítica dos pressupostos individualistas e biomédicos das perspectivas hospitalocêntricas tradicionais, ampliando as compreensões sobre os processos de adoecimento e cuidado e introduzindo novos conceitos e teorias advindos de outros saberes para as discussões em saúde, a exemplo das noções de vulnerabilidade e dos processos sociais envoltos no adoecer. Nessa nova perspectiva, o sofrimento, sobretudo o sofrimento psíquico ganha novos matizes que denunciam a incompletude de referir unicamente a uma causalidade orgânica o fenômeno do padecimento, conforme prevista nas teorias nosológicas e psicopatológicas organicistas (OSMO; SCHRAIBER, 2015). Entretanto, percebe-se no percurso formativo de profissionais de saúde que pouco espaço é dado para uma descolonização e formação interseccional em saúde coletiva, marginalizando, no ambiente acadêmico, as discussões sobre os efeitos do racismo na produção de iniquidades em saúde mental e reiterando uma subjetividade centralizada na concepção universalista da branquitude.

Descrição da Experiência
A formação em Saúde Coletiva pode ser expressa de várias maneiras, sendo o grupo de estudos uma delas. Nesse sentido, a experiência formativa se dá sobretudo por meio do compartilhamento de conhecimentos acerca das leituras tecidas, bem como das vivências dos participantes do grupo. Partindo da lente interseccional, o grupo tece seus diálogos a respeito da Saúde Coletiva, da Reforma Psiquiátrica e da Luta antimanicomial tendo a arte e a esquizoanálise como meios. Assim, são realizadas conversas nas quais o paradigma eurocêntrico e brancocêntrico da Saúde Mental é posto em análise e são apresentados modos outros de produzir saúde e cuidado, sendo o próprio espaço do grupo de estudo um deles. Tendo também a arte como meio, bem como sabendo da importância da ludicidade no processo coletivo de aprendizagem, há a feitura de dinâmicas situacionais envolvendo as discussões e formas de expressões artísticas, a exemplo do trabalho com argila e massinha. É por meio das experimentações, que são construídas possibilidades de horizontalizar e descolonizar o cuidado em saúde e de inscrever lutas que se somam à da Saúde Coletiva, como é o caso da antirracista, feminista, LGBT, anticapacitista e anticapitalista, afinal, historicamente foram esses os corpos tidos como marginalizados, manicomializados e institucionalizados.

Objetivo e período de Realização
Esse trabalho tem como objetivo apresentar a experiência de um grupo de estudos como espaço propício para um processo de descolonização da formação em saúde mental coletiva de estudantes do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, de modo a desconstruir uma concepção de saúde coletiva restrita à lógica da branquitude e sua noção universalista de sujeito. A experiência do grupo se deu no primeiro semestre de 2024.

Resultados
A promoção do cuidado proposta pela Saúde Coletiva deve ser constituída pela intersecção de todos os direitos, considerando principalmente as adversidades advindas da estrutura colonialista na qual por anos vingou o debate da Reforma Psiquiátrica. Foi dentro dessa perspectiva que se deram os encontros do grupo de estudos, buscando analisar quais corpos foram historicamente institucionalizados e a quais corpos os direitos eram garantidos plenamente. Não apenas para Psicologia, mas também para os demais cursos da Saúde é urgente descolonizar as discussões em torno dos processos de adoecimento, e os diálogos coletivos promovidos têm por finalidade incentivar o desenvolvimento de práticas de cuidado mais equitativas e culturalmente sensíveis, desafiando os modelos biomédicos e eurocêntricos predominantes, fazendo com que sejam reivindicadas a partir disso políticas públicas mais efetivas e participativas. Descolonizar a saúde significa reconhecer e combater as dinâmicas históricas e contemporâneas de poder que perpetuam a desigualdade e o sofrimento, especialmente entre as populações racializadas e marginalizadas (Mbembe, 2016).

Aprendizado e Análise Crítica
Segundo Passos (2015), não basta, portanto, uma política de direitos “concedidos” e viabilizados numa ordem capitalista. É insuficiente conceber o sujeito como portador de direitos se o que conduz a vida social mais ampla são várias formas de exploração e opressão. Portanto, é necessário construir reivindicações que busquem transformar estruturalmente a lógica do cuidado em saúde mental, que ainda é centrada em hospitais e manicômios. Nesse contexto, é urgente debater coletivamente quais mudanças precisam ser feitas em esferas macro e micropolíticas. O grupo de estudos é um dispositivo importante para o diálogo, pois questiona e critica as práticas e teorias predominantes que frequentemente ignoram ou subestimam as experiências e os conhecimentos das populações originárias, periféricas e marginalizadas. Nos debates sobre saúde mental, é crucial construir processos formativos como este, pois permitem ir além do academicismo que sustenta a branquitude e criar novas estratégias para ampliar as discussões, destacando a importância de debater a interseccionalidade e a descolonização dos saberes. Que a ruptura seja feita com afetação e afeto, onde o centro é periferia, em um tempo sem tempo, onde reconstruções de mundos com justiça social sejam possíveis (ADRIÃO, MORAES, TONELI & NOGUEIRA, 2023).

Referências
GALVAO ADRIAO, K.; Moraes, Maristela ; TONELI, M. J. ; NOGUEIRA, Conceição . Trabalho com grupos em psicologia: Perspectiva Feminista antirracista e contracolonial. Estudos Contemporâneos da Subjetividade, v. 13, p. 192-208, 2023.

Mbembe, A. (2016). Crítica da Razão Negra. São Paulo: N-1 Edições.

OSMO, A.; SCHRAIBER, L. B. O campo da Saúde Coletiva no Brasil: definições e debates em sua constituição Saúde Soc. São Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015.

PASSOS, Rachel Gouveia. Caminhos da consciência de si no movimento da reforma psiquiátrica brasileira: notas iniciais à luz de Marx e Lukács. Trab. Educ. Saúde, 13 (supl. 1): 11 – 22, Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/FIOCRUZ, 2015.


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