Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.18 - Interprofissionalidade e interdisciplinaridade na saúde

52770 - FORMAÇÃO POLÍTICA: EXPERIÊNCIAS INTERDISCIPLINARES NOS SERTÕES DE CRATEÚS, NO CEARÁ
DAYSE LORRANE GONÇALVES ALVES - FAEC/UECE, ANA SUELEN PEDROZA CAVALCANTE - FAEC/UECE, ANTONIA LORRANE FARIAS MENDES - FAEC/UECE, JÚLIA RAQUEL MACEDO BATISTA - FAEC/UECE, MURILLO RANGEL AMORIM TEIXEIRA - FAEC/UECE, ALEXSANDRO MACÊDO SARAIVA - FAEC/UECE, ANTONIO BATISTA FERNANDES - FAEC/UECE, AGOSTINHO SOARES DE ALCÂNTARA NETO - FAEC/UECE, DANIELA MÁRCIA MEDINA PEREIRA AGAPTO - FAEC/UECE, DIEGO MENDONÇA VIANA - FAEC/UECE


Contextualização
Apesar dos avanços nas políticas de formação profissional para as políticas públicas, ainda predomina um modelo tradicional e descontextualizado da realidade social brasileira (Almeida et al., 2020; Araújo et al., 2020). Essa formação de caráter instrumental foca meramente em aspectos teóricos e técnicos, negligenciando uma compreensão mais profunda das complexas realidades socioeconômicas e culturais que influenciam as condições de vida e trabalho da população. Isso reflete no distanciamento dos graduandos da historicidade dos fenômenos sociais e no pouco interesse em participar das decisões coletivas (Silva et al., 2021). É fundamental repensar a formação, ofertando um modelo de educação que transcenda as barreiras disciplinares tradicionais e incorpore elementos das ciências sociais e da política. A partir de Freire (2015), compreende-se a política como inerente à ação educativa, impossibilitando a neutralidade em seu fazer. Sendo assim, a formação política acadêmica deve promover criticidade, compromisso ético e político com a transformação social, que pode capacitar os futuros profissionais a entender e intervir em políticas públicas intersetoriais. Para alcançar esse modelo, as/os discentes e docentes da Faculdade de Educação e Ciências Integradas de Crateús (FAEC/UECE) vêm implementando ações interdisciplinares de formação política dentro e fora do espaço universitário.


Descrição da Experiência
Trata-se de uma sistematização de experiências com base no modelo de Holliday (2006). O ponto de partida para a realização das ações interdisciplinares de formação política foi o planejamento das atividades formativas do período de greve da FAEC/UECE. Para isso, foi formado um comando de greve unificado de docentes e discentes dos cursos de Pedagogia, Medicina, História, Química e Ciências Biológicas. Essas atividades se dividiram em: planejamento/deliberação e execução. As primeiras consistiam em reuniões e assembleias gerais realizadas para tomada de decisão coletiva quanto às estratégias a serem executadas. Quanto às atividades formativas, foram implementadas: rodas de conversa e mesas de debate (historicidade e judicialização da greve, mulheres na ciência, debate sobre os direitos e saúde mental da população LGBTI+ e educação inclusiva), oficinas (saúde mental, teatro e plantas medicinais), entrevistas para mídias sociais, panfletagens, sessões de cine debate, organização do ato de 1º de maio histórico e da aula pública “Crateús, terra de lutas”, em parceria com outras instituições de educação superior e movimentos sociais, ações de apoio e de educação em saúde em assentamentos do MST e ocupações urbanas e rurais, ações de ocupação do prédio novo da FAEC/UECE e atividades de lazer e integração da comunidade acadêmica, contando com a participação ativa dos docentes.

Objetivo e período de Realização
Descrever as experiências interdisciplinares de formação política durante a greve das Universidades Estaduais cearenses desenvolvidas por integrantes dos cursos de graduação de Pedagogia, História, Química, Ciências Biológicas e Medicina da FAEC/UECE de Crateús, no Ceará, no período de abril e maio de 2024.


Resultados
Como potencialidades das experiências vivenciadas, destacam-se: a atuação interdisciplinar entre os cursos; o engajamento e convergência de pautas políticas com as comunidades locais e os movimentos sociais; a construção de um sentimento compartilhado de pertencimento e identificação da sociedade civil com a universidade; e a criação de espaços de convívio e aprendizagem em diferentes contextos culturais, que potencializam o sujeito político na perspectiva da inclusão social e democrática. Além disso, as/os participantes das atividades desfrutaram de uma convivência enriquecedora com o diferente, compreendendo modos de vida das comunidades locais, o propósito de luta dos movimentos sociais, e sendo instigados ao senso crítico, político e social. Contudo, várias foram as dificuldades enfrentadas para a adesão de docentes e discentes, como barreiras físicas, financeiras e acesso restrito a determinados territórios. A principal barreira foi a baixa participação de docentes e discentes, atribuída à apatia social, falta de motivação para se integrarem ao movimento e/ou falta de compreensão da importância da greve como instrumento político.


Aprendizado e Análise Crítica
As atividades realizadas foram fundamentais nesse processo de incertezas durante o período de greve, dada a sua importância formativa como instrumento pedagógico e político. Entretanto, nota-se ainda uma desmobilização por parte da comunidade acadêmica dentro do movimento organizado, em que a busca por reparação de direitos negados não é vista como uma responsabilidade orgânica e coletiva. O engajamento nas atividades possibilitou a construção de novos sentidos ao movimento grevista, a partir de um viés interdisciplinar, cuja formação política foi atravessada por vínculos construídos e fortalecidos pelos sujeitos participantes. A greve se torna, então, marco da resistência que movimenta um campus interiorano marginalizado em relação aos campi de grandes centros urbanos, e os sentimentos compartilhados nesta experiência se sobrepõem às barreiras acadêmicas, ressignificando o sentido de universidade. A partir do movimento real, as dinâmicas interiores que existem nas relações entre comunidade-ensino-serviço são aprofundadas como práxis reflexiva desse compromisso ético-político pela transformação da vida, exigindo maior participação social. Isso reforça a necessidade da formação política como instrumentalizadora de práticas que dialoguem com a libertação de consciências a partir de um conceito ampliado de saúde e da indissociável relação entre sociedade e Universidade.


Referências
ALMEIDA, A. H.; CORDEIRO, L.; SOARES, C. B. Formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde: ensino de educação em saúde emancipatória. Saúde & Transformação Social, v. 9, n. 1/2/3, p. 81–95, 2020.

ARAÚJO, D. S.; BRZEZINSKI, I.; SÁ, H. G. M. de. Políticas públicas para formação de professores: entre conquistas, retrocessos e resistências. Revista de Educação Pública, v. 29, n. 1, jan/dez, 2020.

HOLLIDAY, O. J. Para sistematizar experiências. 2ª ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006.

SILVA, F. O. da; LOPES, M. da C. O.; SANTANA, J. F. de M. A formação política no bojo da pedagogia universitária: implicações na formação de futuros professores. Rev. Tempos Espaços Educ., v. 14, n. 33, p. e15372, 2021.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2015.

SANTOS, A. B. dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora, 2023.

Fonte(s) de financiamento: Nada a declarar


Realização:



Patrocínio:



Apoio: