50187 - REUNIÕES DE EQUIPE COMO DISPOSITIVO POTENCIAL DE COGESTÃO E DE COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SERVIÇOS DE SAÚDE DE BASE TERRITORIAL E COMUNITÁRIA FERNANDA DE JESUS LIGEIRO BRAGA - UNICAMP, GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS - UNICAMP, MÔNICA MARTINS DE OLIVEIRA VIANA - INSTITUTO DE SAÚDE
Apresentação/Introdução O trabalho em equipe ganhou destaque no contexto da implantação do Sistema Único de Saúde, sendo amplamente debatido, sobretudo nos campos da Saúde Coletiva, Atenção Primária à Saúde (APS) e Saúde Mental, como diretriz para a atuação na área da saúde. Para isso, a noção de equipe necessita ultrapassar a mera coexistência de profissionais no mesmo espaço físico e clientela atendida, e buscar integração, comunicação, colaboração e responsabilidade coletiva entre os membros. As reuniões de equipe são um dos dispositivos utilizados para lograr tais termos de integração interprofissional e pode ainda contribuir para a organização do trabalho, com importante papel para o desenvolvimento de práticas pautadas na colaboração, na democratização das instituições, na integralidade do cuidado, com vistas à construção de uma clínica ampliada e compartilhada. Tanto as Unidades Básicas de Saúde (UBS) quanto os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), na condição de serviços de base territorial e comunitária, compostos por equipes interprofissionais, tendem a se beneficiar com o fortalecimento das reuniões de equipe enquanto Espaços Coletivos. Assim, compreender como esse arranjo acontece no cotidiano das equipes e suas possibilidades de conformação, mostra-se útil para a redefinição das relações institucionais nos equipamentos de saúde e para as políticas de gestão de pessoas no âmbito do SUS.
Objetivos Partindo-se das noções de cogestão e de Espaços Coletivos, esta pesquisa pretendeu analisar experiências e percepções de gestoras e trabalhadoras sobre reuniões de equipe em dois serviços da Atenção Primária à Saúde e em dois Centros de Atenção Psicossocial, no município de São Paulo. Objetivou-se compreender como se dá a elaboração da pauta, o processo de tomada de decisão, a distribuição de tarefas e as relações de poder no espaço de reunião.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa apoiada na abordagem hermenêutica crítica e narrativa, que utilizou como dispositivo de “colheita de dados” a observação participante com registro em diário de campo, sendo eleitos os espaços de reunião de equipe. Ao todo, foram realizadas 14 idas a campo, entre os meses de outubro e dezembro de 2022. Nos meses de fevereiro e março de 2023, foram realizadas 15 entrevistas semiestruturadas com atores-chave, sendo eles trabalhadores e gestores locais, identificados durante as visitas. As entrevistas foram gravadas e transcritas integralmente. Todas as entrevistadas foram contatadas e receberam o convite para acessar a transcrição de sua respectiva entrevista, com a possibilidade de realizarem comentários e mudanças no texto. O processo de análise amparou-se na perspectiva hermenêutica e se iniciou com a leitura e categorização dos diários de campo. Este material foi complementado e aprofundado pelas entrevistas. Em seguida, foram construídas grades interpretativas com núcleos argumentais. O estudo seguiu todas as diretrizes éticas e obteve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 59454422.0.0000.5404, Parecer nº 5.515.378).
Resultados e Discussão Pode-se compreender que as reuniões de equipe assumem diferentes formatos, funções e configurações nas unidades de saúde, mas convergem em serem reconhecidas pelas trabalhadoras e gestoras como importantes dispositivos para o trabalho em saúde. Apesar de serem previstas no cronograma institucional nas UBS e nos CAPS, observam-se mais dificuldades para sua operacionalização na APS, em termos de regularidade dos encontros, promoção de reflexão crítica sobre o trabalho, construção de projeto institucional comum, tomadas de decisão e responsabilidade compartilhadas, bem como em sua capacidade de lidar com dissensos e conflitos. Identificamos que as UBS estão mais permeadas por pressões para o cumprimento de metas de produtividade, mesmo em detrimento das necessidades da população. As pautas, no geral, abrangiam discussão de casos, de processos e fluxos de trabalho, e informes/orientações de instâncias superiores de gestão. Na APS, a figura da enfermeira ocupa centralidade para a coordenação das reuniões, tomada de decisão, distribuição de tarefas e na liderança das equipes de Saúde da Família (eSF). Já nos CAPS, as referências técnicas assumem papel preponderante para a tomada de decisão e coordenação das ações referentes aos usuários. As demandas urgentes (atenção à crise e acolhimento tipo porta-aberta) acabam por tomar a maior parte do tempo das equipes dos CAPS, dificultando o desenvolvimento de ações territoriais e de reabilitação psicossocial. As Reuniões de Matriciamento entre eSFs e Equipe Multiprofissional da Atenção Básica (EMAB/eMulti), bem como entre UBS e CAPS centraram-se na discussão e “passagem” de casos, porém outras atividades também derivam desse espaço, como atendimentos e visitas domiciliares compartilhadas entre os serviços.
Conclusões/Considerações finais As reuniões de equipe parecem poder apresentar maiores oportunidades de se constituírem como Espaços Coletivos a partir de alguns ajustes, como a reorganização do número de pessoas, estratégias que favoreçam maior interação, participação e compartilhamento de tarefas e a descentralização/revezamento do papel de coordenação do grupo. As reuniões mais curtas e em maior quantidade (contemplando mais dias na semana), bem como o uso de comunicação menos formal/engessada mostraram-se mais produtivas, dinâmicas e favoreceram a tomada de decisão mais compartilhada nas equipes. Não obstante a garantia de Espaços Coletivos formais de equipe sejam essenciais para a criação, desenvolvimento e avaliação de fluxos de trabalho e projetos comuns, notamos que a flexibilização de locais/momentos para trocas e a dinamicidade na comunicação emergiram como fatores para o aperfeiçoamento do trabalho em equipe e para a colaboração interprofissional.
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Fonte(s) de financiamento: Financiamento próprio.
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