Roda de Conversa

05/11/2024 - 13:30 - 15:00
RC8.18 - Interprofissionalidade e interdisciplinaridade na saúde

50160 - O TRABALHO INTERDISCIPLINAR NO CUIDADO DE USUÁRIOS COM INDICAÇÃO DE TRANSPLANTE CARDÍACO: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
MARIANA CAMARGO TUMONIS OLIVEIRA - IMS/UERJ, ROSENI PINHEIRO - IMS/UERJ


Contextualização
Compreende-se por interdisciplinaridade a construção de um nível avançado de trocas e cooperação entre diferentes áreas, por meio da mediação entre saberes e competências profissionais específicas (Silva e Mendes, 2013). A atenção interdisciplinar tende a ser potencializada pela constituição de equipes de referência que, para além da garantia de vínculo com os usuários, torna-se responsável pelo acompanhamento longitudinal e pela formulação das linhas de cuidado em conjunto com os envolvidos No que se refere ao cuidado de usuários com indicação de transplante cardíaco, o êxito do trabalho interdisciplinar está condicionado ao reconhecimento dos condicionantes socioeconômicos, tendo por referência um conceito ampliado de saúde. Protocolos clínicos, apesar de indispensáveis na definição de um receptor de um órgão, não são capazes de traduzir a experiência de adoecimento vivenciada por cada sujeito, bem como as iniquidades em saúde retratadas. Os desafios estão dados quando analisadas as exigências de se assegurar as condições ideais para alcançar o êxito técnico na realização de um transplante. Neste sentido, garantir que os usuários se reconheçam como principais partícipes durante todo o acompanhamento tende a facilitar o processo reflexivo, as tomadas de decisões, a continuidade dos encaminhamentos propostos e o resultado satisfatório na realização do procedimento.

Descrição da Experiência
O presente relato origina-se da experiência teórico-prática da primeira autora, enquanto assistente social que compõe uma equipe interdisciplinar que atende usuários com indicativo de transplante cardíaco em um hospital universitário na cidade do Rio de Janeiro. A equipe, atualmente formada por uma assistente social, uma médica cardiologista, duas enfermeiras e uma nutricionista, iniciou o seu trabalho em Outubro de 2021, após a habilitação do hospital para a realização dos transplantes cardíacos. Desde então, todos os usuários, quando esgotados os tratamentos conservadores e identificada a necessidade do transplante, passam a ser acompanhados com regularidade pela equipe de referência. Exige-se uma conduta singular da intervenção interdisciplinar de cada profissional no sentido de orientá-los acerca do procedimento e sobre a organização para o pós-operatório. A participação do usuário é ativa a todo tempo, sendo suas vontades sempre respeitadas, incluindo a decisão de não transplantar. Pensar em condições ideais para a realização do transplante implica reconhecer que nem todas essas condições serão igualmente alcançadas. Isto reforça o potencial de intervenção da equipe interdisciplinar na identificação de recursos e elaboração de estratégias em conjunto com os usuários, o que inclui a articulação com a rede intersetorial e a orientação sobre políticas e direitos específicos.

Objetivo e período de Realização
Objetiva-se ressaltar a importância da atuação interprofissional durante todo o acompanhamento de usuários com indicação de transplante cardíaco. Justifica-se pela defesa de práticas interdisciplinares no Sistema Único de Saúde (SUS) com o objetivo de problematizar ações de atenção fragmentadas e compartimentalizadas, centradas em sua maioria em condutas biomédicas. Em relação ao período de realização, as análises decorrem da experiência iniciada em Outubro de 2021 e ainda em vigência.

Resultados
Dissertar acerca do trabalho interdisciplinar requer a compreensão das dificuldades para sua efetivação. Destaca-se a importância de romper com o ideário de supremacia médica frente ao trabalho das demais profissões. Ressalta-se o compromisso com o acolhimento aos usuários e o respeito aos vínculos intersubjetivos que envolvem diferentes profissionais na gestão do cuidado. Exige-se uma atuação em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e em consonância com as prerrogativas da Reforma Sanitária brasileira. Demanda-se uma intervenção qualificada em um cenário de escassez de recursos, déficit de profissionais, rotinas exaustivas e sobrecarga de trabalho. A identificação das dificuldades subsidia o reconhecimento da equipe sobre a necessidade de garantir uma educação permanente em saúde. Isto implica considerar que a atuação profissional exige articulações e estratégias de trabalho para além das competências profissionais. Logo, a avaliação das intervenções realizadas, por meio das conversas em equipe, sistematização das ações e, principalmente, a escuta dos usuários envolvidos, é imprescindível para a valorização do trabalho realizado e o enfrentamento das dificuldades vivenciadas.

Aprendizado e Análise Crítica
A partir deste relato de experiência, reconhece-se o potencial da atuação interdisciplinar em um contexto tão adverso, marcado pela restrição dos direitos sociais e pela dificuldade de efetivação de uma política de saúde pública e universal. A defesa da interdisciplinaridade no cuidado tende a reforçá-la como uma possibilidade de atendimento, em caráter integral, às demandas apresentadas pelos usuários do sistema de saúde. Discutir a centralidade dos sujeitos frente às definições sobre sua linha de cuidado é primordial para assegurar a integralidade do cuidado na garantia do direito humano à saúde no SUS. Pinheiro (2013) ressalta que, em um contexto de direitos, a integralidade do cuidado inclui necessariamente a análise das escolhas acerca dos meios e formas dos sujeitos se cuidarem e serem cuidados. Experiências exitosas a respeito do trabalho interdisciplinar no âmbito hospitalar, em especial em hospitais universitários, precisam ser compartilhadas. Em geral, unidades de saúde são espaços de formação, sejam de estagiários ou residentes de diversas áreas profissionais e estes, em sua maioria, participam de equipes interdisciplinares em seus processos de trabalho. Enfatizar a importância da interdisciplinaridade nestes espaços é essencial para o reconhecimento desta prática e a formação de profissionais comprometidos com o cuidado integral e centrado nos sujeitos envolvidos.

Referências
PINHEIRO, Roseni. Integralidade do cuidado: a promessa da política e a confiança no direito. In: Usuários, redes sociais, mediações e integralidade em saúde. Roseni Pinheiro, Paulo Henrique Martins, organizadores – Rio de janeiro: UERJ/IMS/LAPPIS, 2013, pp. 51-66.
SILVA, Letícia Batista; MENDES, Alessandra Gomes. Serviço Social, Saúde e Interdisciplinaridade: algumas questões para o debate. In: SILVA, Letícia Batista; RAMOS, Adriana (org). Serviço Social, saúde e questões contemporâneas: reflexões críticas sobre prática profissional. Campinas, SP: Papel Social, 2013.

Fonte(s) de financiamento: Não.


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