51878 - A POTÊNCIA DA ESPECIALIZAÇÃO DAS TRABALHADORAS DO SUS: TIRAR DA GAVETA PRÁTICAS ENGAVETADAS COM O MÉTODO ATIVA APS
BARBARA DAVID GALVANI - UNIFESP, ROSEMARIE ANDREAZZA - UNIFESP, CRISTIAN FABIANO GUIMARÃES - UNIFESP
Contextualização
Este projeto faz parte de uma investigação maior denominada “Invenções e produções na formação e na gestão do cuidado nos territórios vividos no projeto Cuida APS“ que tinha entre os seus objetivos; Analisar as produções e as invenções na formação, na gestão e na produção do cuidado implementadas a partir do projeto Cuida APS, nos territórios vividos pelas gestoras de campo e pelas trabalhadoras/especializandas; e, mapear experiências que possam aprimorar a capacidade de resposta do SUS no enfrentamento das condições crônicas de saúde.
Para a proposta de educação- intervenção das trabalhadoras, nasceu uma matriz de implementação denominada Ativa APS, sendo essa uma proposta sistematizada de Melhoria Contínua da Qualidade para APS brasileira, que ao entrar em contato com as trabalhadoras, sofreu modificações interessantes para a reflexão de estratégias educacionais na saúde.
O objetivo é analisar se o Ativa APS afetou e foi afetado no encontro com as trabalhadoras da APS no curso de pós-graduação. Busca-se identificar se o método contribuiu nas produções e invenções na formação, na gestão e na produção de cuidado de acordo com as necessidades dos territórios e das trabalhadoras da atenção básica, em relação ao cuidado prestado aos usuários com condições crônicas. Desta forma, é possível investigar práticas que podem proporcionar encontros potentes para o fortalecimento da atenção básica.
Descrição da Experiência
Foram utilizados diversos recursos, garantindo vivências suficientes para um relato de experiência. Tive acesso a documentos do Projeto Cuida APS, para que assim eu conseguisse adentrar num processo que já estava em andamento, possibilitando o conhecimento dos autores inseridos do projeto, dos processos já realizados e dos rompimentos que ocorreram até a minha entrada no projeto e no grupo de pesquisa, este denominado “Invenções e produções na formação e na gestão do cuidado nos territórios vividos no projeto Cuida APS“
O grupo de pesquisa foi uma peça chave para a minha vivência. Haviam pesquisadores, gestoras de campo, estas implicadas no projeto e responsáveis por mediar as estratégias desenvolvidas pela equipe pedagógica, sendo o elo principal entre a equipe pedagógica e as profissionais de saúde/especializandas.
No grupo, as gestoras de campo realizaram entrevistas com as profissionais de saúde. Analisamos as principais mudanças observadas na rotina de trabalho a partir dos ciclos de melhoria que haviam sido desenvolvidos. Fiquei responsável por escutar tais entrevistas e debater com os colegas de forma crítica as respostas apresentadas.
Realizei entrevistas com as gestoras do projeto, caracterizada como semi-estruturada, com questionamentos de como a ferramenta deu origem, como ela propiciou inovações nos processos de cuidado em saúde, e qual é a percepção dessas gestoras.
Objetivo e período de Realização
Analisar o Ativa APS enquanto disposto de produções e nas invenções na formação, na gestão e na produção do cuidado. Ferramenta produzida a partir do método de melhoria de qualidade, nos territórios vividos e compartilhados pelas gestoras de campo e pelas trabalhadoras/especializandas;
Os dados foram coletados no período de abril de 2023 a abril de 2024, através de uma entrevista semi-estruturada com 7 gestoras do projeto; dados coletados no grupo de pesquisa sobre o projeto; e, pelo diário de campo.
Resultados
Os resultados dessa experiência ainda estão sendo analisados. O que é possível de relatar, ainda sem tal análise completa, é que a equipe de saúde se mostrou animada e engajada diante da oportunidade de realizar e obter uma pós graduação, inclusive demonstrando possibilidade de mudanças para que a ferramenta fosse utilizada de forma que se adequasse com as profissionais e de acordo com as necessidades locais. Em contrapartida, foi observado que algumas gestões das APS se mostraram pouco participativas para propiciar melhores condições para que os profissionais realizassem a pós graduação.
Na proposta do Ativa APS as trabalhadoras contaram com equipes de melhoria formadas pelas próprias profissionais, as quais criaram planos de melhoria da qualidade, a fim de implementar em ciclos que se adaptam e mudam de acordo com as realidades locais, sendo diretamente influenciadas por esta. Desta forma, nota-se que a ferramenta dialoga com a MCQ, mas também com as estratégias de educação permanente ao colocar in loco as reflexões dos processos de trabalho a partir das demandas das próprias trabalhadoras.
Aprendizado e Análise Crítica
Em 2021, quando o projeto Cuida APS teve início, havia um processo de reestruturação das ABS, que volta a ser denominada APS, a partir da implementação Programa Previne Brasil, que estabelece o novo modelo de alocação dos recursos financeiros federais à APS (BRASIL, 2019a).
O projeto aconteceu num momento de desmanche do SUS e da APS. O contingenciamento financeiro via PEC-19, a Lei de Responsabilidade Fiscal, e a precarização das relações de trabalho, via reforma trabalhista, foram elementos que incidiram sobre o projeto. Ele acontece num momento pós-pandemia que levou a profundas mudanças na organização do cuidado, em particular na dimensão organizativa, além da sistêmica. Contudo, o Cuida-APS pode ter sido uma ação oportuna para a equipe e para a comunidade se considerarmos os possíveis efeitos que ele possa ter produzido. Foi estratégico no momento no qual a saúde precisava ser recuperada.
Foi observado que a ferramenta Ativa APS, uma proposta inicial de uma MCQ, ao entrar em contato com as gestoras de campo e com as especializandas, foi se modificando e trazendo maleabilidade para a ferramenta, obtendo características analíticas do processo formativo dos profissionais, da gestão, das práticas em saúde e dos atravessamentos sociais destas relações, sendo uma ferramenta que no início dada, foi modificada no contato de várias mãos, de acordo com as necessidades locais.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Melhoria contínua da qualidade na atenção primária à saúde: conceitos, métodos e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
FEUERWERKER, L. C. M. Micropolítica e saúde: produção do cuidado, gestão e formação. [s.l.] Editora da Rede Unida, 2014.
CECCIM, R. B. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface, v. 9, n. 16, p. 161–168, 2005.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Gabinete do Ministro. Portaria nº 3.222, de 10 de dezembro de 2019. Dispõe sobre os indicadores do pagamento por desempenho, no âmbito do Programa Previne Brasil, 2019b. Acesso em 19/02/2020. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/ portaria-n-3.222-de-10-de-dezembro-de-2019-232670481
GUIMARÃES; KIELMANN; ANDREAZZA. Cartografia do Cuida APS-- São Paulo. Ed. dos Autores, 2023.
Fonte(s) de financiamento: Não.
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