Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.15 - E como fica a saúde do trabalhador?

54090 - CLIMA ÉTICO ORGANIZACIONAL E FATORES ASSOCIADOS: UM OLHAR PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
RAFAELA SCHAEFER - UNISINOS, PRISCILA PEREIRA DA SILVA LOPES - UNISINOS, GEISE KLIPEL WEBER - UNISINOS, GESSICA BUHLER KAUER - UNISINOS, RAFAELA FLORES - UNISINOS, DAIANA DOZOL DE ANDRADE GOULART - UNISINOS, RAFAELA TONIETTO MULLER - UNISINOS, LAURA DA FONSECA TORRES - UNISINOS, VITTÓRIA CANDIA BERTAGNOLLI - UNISINOS, VITÓRIA PICININI DA SILVA SAUER - UNISINOS


Apresentação/Introdução
A complexidade e os desafios que caracterizam o trabalho em saúde reiteram a importância das investigações na temática sobre a Saúde do Trabalhador (ST), visto que tais modificações vêm transformando as organizações e os processos de trabalho, impactando no contexto organizacional, nas condições laborais e, assim, na qualidade da assistência. Nessa realidade complexa, crescem os desafios éticos vivenciados por esses profissionais, bem como as consequências negativas decorrentes dessa vivência. A percepção sobre como esses problemas éticos estão sendo tratados no ambiente de trabalho descreve o clima ético organizacional, o qual impacta no comportamento dos profissionais de saúde, refletindo na qualidade de vida laboral e no próprio trabalho (TEHRANINESHAT; TORABIZADEH; BIJANI, 2020). Assim, o sofrimento ocupacional soma-se aos tradicionais riscos laborais, tais como, químicos, físicos, ergonômicos e biológicos, podendo gerar maior vulnerabilidade ao adoecimento mental (DUARTE; MAURO, 2010). Pesquisar a saúde do trabalhador que atua na Atenção Primária à Saúde (APS) é uma forma de aprimorar a gestão, visando orientar condutas nos processos de trabalho, na qual o plano de ação da área dos recursos humanos deve contemplar ações de formação e desenvolvimento dos profissionais, estabelecendo a valorização do trabalho e dos trabalhadores.

Objetivos
Analisar o clima ético organizacional de profissionais de saúde da atenção primária; Descrever características sociodemográficas, de trabalho e de saúde de profissionais de saúde da atenção primária; Verificar associações entre clima ético organizacional e variáveis sociodemográficas, de trabalho e de saúde.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa transversal, com delineamento correlacional. A variável dependente deste estudo foi o Clima Ético Organizacional. As variáveis independentes foram sociodemográficas (idade, sexo/gênero, cor da pele, estado civil e formação), de saúde (problemas de saúde com diagnóstico médico, sono, atividade física), e trabalho (tipo de contratação, qualidade do cuidado, ocorrência de erros, intenção de deixar o emprego, satisfação e reconhecimento profissional). O cenário do estudo foi um município da região metropolitana de Porto Alegre - RS. Os participantes foram profissionais de saúde que atuavam na atenção primária, de ambos os sexos, de todas as idades, com um mínimo de 6 meses de experiência. Foram excluídos profissionais que estavam afastados das suas funções ou de férias no período da coleta de dados. Para avaliação do clima ético organizacional foi utilizada a versão traduzida da escala Hospital Ethical Climate Survey (HECS), desenvolvida por Olson (1998). As análises estatísticas foram realizadas com o software IBM SPSS Statistics versão 22.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Resultados e Discussão
Participaram do estudo 217 profissionais atuantes na APS, com média de 41,9 anos (DP=11,9), sendo 181 mulheres (83,4%) e 36 homens (16,6%). A maioria se auto declarava branca (n=160; 74,1%) e tinha companheiro(a) (n=115; 53,5%). Quanto à profissão, 34 eram médicos (15,7%), 29 enfermeiros (13,4%), 68 técnicos e auxiliares de enfermagem (31,3%), 33 dentistas e auxiliares (15,2%), 49 agentes comunitários (22,6%) e 4 outros (1,8%). A prevalência de hipertensão foi de 26,2% (n=54), asma/bronquite 14,9% (n=30), colesterol 20,2% (n=40) e diabete 5,1% (n=10). O sono foi ‘ruim’ para 38% (n=82) e 48,8% (n=105) eram sedentários. A maioria possuía vínculo de trabalho celetista (n=140; 65,7%), percebia a qualidade do cuidado prestado como ‘boa’ (n=179; 83,3%) e declarou raramente vivenciar erros assistenciais (n=156; 72,2%). Cerca de 21,4% (n=45) disse ter vontade de deixar a posição de trabalho atual, 15,2% (n=33) diz estar insatisfeito com o trabalho e 44,7% (n=96) não se sente reconhecido profissionalmente. O CEO foi percebido como negativo por 25% (n=42) e esteve mais prevalente, de forma significativa, nos ACSs. Os profissionais da saúde desempenham um papel essencial na sociedade, ao mesmo tempo que constituem um grupo vulnerável (SOUZA; VIRGENS, 2013). Por isso, a saúde do trabalhador é uma questão de saúde pública, principalmente considerando o contexto da APS, que é a porta de entrada do SUS. O CEO tem um impacto significativo na satisfação e bem-estar no trabalho, na ocorrência de erros e na qualidade do cuidado, na vivência de Burnout e sofrimento, entre outros, tornando-se um fator significativo, principalmente no contexto do trabalho em saúde (KOSKENVUORI, NUMMINEN e SUHONEN, 2017).

Conclusões/Considerações finais
Pesquisar a saúde do trabalhador que atua na APS é uma forma de aprimorar a gestão e melhorar a assistência, pois leva a pensar nos desafios da relação entre trabalho e adoecimento, tendo em vista o profissional de saúde não somente como aquele que propicia o cuidado, mas também como aquele que precisa ser cuidado. Uma avaliação do contexto organizacional e das condições laborais é fundamental para planejar, implementar e acompanhar o desenvolvimento das ações, assim como para subsidiar a tomada de decisões e inovar no campo da saúde, pois, compreende-se que melhorar as condições de vida e de trabalho dos trabalhadores da saúde da atenção primária poderá proporcionar impacto positivo em toda a rede de atenção, impactando nas políticas públicas.

Referências
DUARTE, N. S.; MAURO, M. Y. C. Análise dos fatores de riscos ocupacionais do trabalho de enfermagem sob a ótica dos enfermeiros. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 35, n. 121, p. 157–167, jun. 2010.
KOSKENVUORI, J; NUMMINEN, O; SUHONEN, R. Ethical climate in nursing environment: A scoping review. Nursing Ethics, Epub ahead of print Jan2017.
OLSON, L L. Hospital Nurses’ Perceptions of the Ethical Climate of Their WorkSetting. Journal of Nursing Scholarship, v. 30, n. 4, p. 345-349. 1998.
TEHRANINESHAT, B; TORABIZADEH, C; BIJANI, M. A studyof the relationship between professional values and ethical climate and nurses’professional quality of life in Iran. International Journal of Nursing Sciences, v. 7,n. 3, p. 313–319, 10 jul. 2020.
SOUZA, T S. de; VIRGENS, L S. das. Saúde do trabalhador na AtençãoBásica: interfaces e desafios. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 38, n.128, p. 292–301, dez. 2013.

Fonte(s) de financiamento: Estudo financiado pela agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), sob número de processo nº 22/2551-0000575-6, Edital 10/2021 – ARD/ARC.


Realização:



Patrocínio:



Apoio: