54045 - A SAÚDE DO TRABALHADOR DA ATENÇÃO PRIMÁRIA: OCORRÊNCIA DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM PROFISSIONAIS RAFAELA SCHAEFER - UNISINOS, LAURA DA FONSECA TORRES - UNISINOS, VITTÓRIA CANDIA BERTAGNOLLI - UNISINOS, VITÓRIA PICININI DA SILVA SAUER - UNISINOS, PRISCILA PEREIRA DA SILVA LOPES - UNISINOS, GEISE KLIPEL WEBER - UNISINOS, GESSICA BUHLER KAUER - UNISINOS, RAFAELA FLORES - UNISINOS, DAIANA DOZOL DE ANDRADE GOULART - UNISINOS, RAFAELA TONIETTO MULLER - UNISINOS
Apresentação/Introdução A ampliação da interpretação do processo saúde-doença articulada com o trabalho resultou na criação da Saúde do Trabalhador (ST), um campo interdisciplinar que abrange conhecimentos da saúde pública, medicina preventiva e saúde coletiva. A ST busca compreender e intervir nas condições de trabalho, promovendo práticas e políticas voltadas à proteção e promoção da saúde ocupacional (GOMEZ, VASCONCELOS e MACHADO, 2018). No contexto dos profissionais de saúde, especialmente aqueles atuantes na Atenção Primária à Saúde (APS), há uma preocupação crescente quanto à prevalência de Transtornos Mentais Comuns (TMC). Os TMC são caracterizados por sintomas como depressão, ansiedade e manifestações somatoformes, tais como irritabilidade, apatia, dificuldade de concentração, insônia e fadiga (Ludermir, 2002). Esses transtornos rompem com o funcionamento normal do indivíduo e causam prejuízos psicossociais significativos (WHO, 2019; APA, 2023). Profissionais da APS enfrentam condições de trabalho desafiadoras, incluindo rotinas exaustivas, falta de recursos e desgaste emocional, que contribuem para o adoecimento (SANTOS et al., 2012). Essa exposição prolongada a estressores ocupacionais aumenta a vulnerabilidade desses trabalhadores ao desenvolvimento de TMC. Assim, analisar a relação entre trabalho e saúde mental é importante para promover um ambiente laboral saudável e ético.
Objetivos Este estudo tem por objetivo analisar a prevalência de TMC nos profissionais da APS de um município da região metropolitana de Porto Alegre.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa transversal que analisou a prevalência de TMC em profissionais de saúde da APS de um município da região metropolitana de Porto Alegre, entre abril e junho de 2023. Foram selecionados todos os profissionais de saúde que atuavam na APS da cidade, com um mínimo de 6 meses de experiência no trabalho. Profissionais afastados ou de férias foram excluídos. A prevalência de TMC foi analisada por meio do Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), que avalia queixas somáticas inespecíficas, irritabilidade, insônia, dores de cabeça, fadiga, esquecimento e dificuldade de concentração. A escala é composta por vinte itens com respostas de “sim” ou “não”. Cada pergunta soma um ponto no escore final. Sua interpretação mais comum baseia-se em um ponto de corte que, no Brasil, pode variar entre sete ou oito. As análises estatísticas foram realizadas com o software IBM SPSS Statistics versão 22.0. As variáveis foram apresentadas por frequência absoluta e relativa, média e desvio padrão. O projeto foi aceito pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Resultados e Discussão Foram analisadas respostas de 217 profissionais atuantes na APS, sendo 181 mulheres (83,4%) e 36 homens (16,6%), com média de 41,9 anos (DP=11,9). Quanto à profissão, 34 eram médicos (15,7%), 29 enfermeiros (13,4%), 68 técnicos e auxiliares de enfermagem (31,3%), 33 dentistas e auxiliares (15,2%), 49 agentes comunitários (22,6%) e 4 outros (1,8%). A prevalência de TMC foi de 32,7%, com maiores prevalências em mulheres (n=58; 26,7%) e Agentes Comunitários de Saúde (n=19; 8,7%). A prevalência de TMC foi menor em profissionais satisfeitos com seu trabalho (n=33; 15,2%) e naqueles que se sentiam profissionalmente valorizados (n=27; 12,4%). Corroborando com os achados deste estudo, a literatura estima uma prevalência de TMC entre profissionais da APS variando de 22,9% e 42,6%, afetando particularmente os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) (Carvalho et al., 2016; Braga, 2010; Silva, Menezes, 2008). Um estudo brasileiro que analisou a prevalência de TMC em profissionais da APS no período da pandemia de Covid-19 encontrou uma prevalência geral de 43,2%, sendo o sexo feminino o mais afetado (Oliveira et al., 2023). Os autores justificam que possa haver uma relação entre a variável sexo e os TMC proveniente de características sociais, como a dupla jornada de trabalho exercida pela mulher. Atribui-se a prevalência aumentada de TMC em relação à literatura supracitada ao contexto de pandemia, já que profissionais que atuaram na linha de frente apresentaram maiores taxas de TMC.
Conclusões/Considerações finais A prevalência de TMC nos profissionais de saúde da APS foi elevada. Esse desfecho está associado ao sofrimento mental e físico e causa prejuízo na capacidade funcional laboral, redução da produtividade e desempenho e incremento de custos adicionais às instituições e sistema de saúde. Nesse sentido, destaca-se a importância de planejar intervenções nos ambientes de trabalho e promover o aprimoramento das políticas públicas de saúde, visando fortalecer a saúde do trabalhador, a APS e a rede de saúde pública.
Referências BRAGA, L. C. et al. Condições de trabalho e transtornos mentais comuns em trabalhadores da rede básica de saúde de Botucatu (SP). Ciência & Saúde Coletiva, v. 15, p. 1585–1596, jun. 2010.
CARVALHO, D. B. DE; et al. Transtornos mentais comuns em trabalhadores da Atenção Básica à Saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 41, n. 0, 2016.
LUDERMIR, A. B; et al. Condições de vida e estrutura ocupacional associadas a transtornos mentais comuns. Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 36, ed. 2, 2002.
OLIVEIRA, F. E. S. DE. et al.. Common mental disorders in Primary Health Care professionals during the COVID-19 pandemic period: a cross-sectional study in the Northern health macro-region of Minas Gerais state, Brazil, 2021. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 32, n. 1, p. e2022432, 2023.
SILVA, A. T. C.; MENEZES, P. R. Esgotamento profissional e transtornos mentais comuns em agentes comunitários de saúde. Rev Saúde Pública, v. 42, ed. 5, 2008.
Fonte(s) de financiamento: Estudo financiado pela agência Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), sob número de processo nº 22/2551-0000575-6, Edital 10/2021 – ARD/ARC.
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