Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.15 - E como fica a saúde do trabalhador?

53803 - TRABALHO DOCENTE, DOMINAÇÃO TECNOLÓGICA E RESISTÊNCIA COLETIVA: A VISÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO DE DIREÇÃO SINDICAL
KATIA REIS DE SOUZA - FIOCRUZ, GIDEON BORGES DOS SANTOS - FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Nos últimos vinte e cinco anos observou-se a transformação dos processos de trabalho com a incorporação de tecnologias digitais, o que se exacerbou durante a pandemia de Covid-19. A ausência de normatizações alusivas às novas formas de realização do trabalho assentes em plataformas digitais constitui uma das marcas mais evidentes dos mecanismos de desvalor e dominação da contemporaneidade (Marques et al., 2023). No tocante ao trabalho docente, verifica-se a expansão dos processos de intensificação laboral que são internalizados e transformados em processos de auto-intensificação, o que contribuiu para a emergência de uma nova modalidade de organização temporal da jornada de trabalho, a chamada “Hora Tecnológica”, definição procedente dos movimentos sindicais docentes a respeito da intensificação do trabalho em ambiente digital (Sinpro Mogi, 2023). Esse novo cenário suscita questionamentos acerca dos impactos na saúde, com destaque para sinais e sintomas relacionados à saúde mental. No entanto, professores e suas organizações não estão passivos frente à nocividade dos ambientes tecnológicos de trabalho, criando saídas na perspectiva da saúde e usando a própria tecnologia a favor das lutas e resistências coletivas. Assim, defende-se a necessidade capital de consolidação da política de vigilância à saúde do trabalhador docente com a participação de professores e suas organizações.

Objetivos
- Apresentar mudanças ocorridas no trabalho de professores do ensino básico e suas repercussões à saúde, com foco nas lutas sindicais sobre o trabalho Tecnológico.

- Analisar a chamada “Hora tecnológica”, nova configuração da jornada de trabalho docente de cariz telemático, com vistas a sua correlação com a saúde e a sistematização de política de vigilância de base participativa.


Metodologia
Foi realizada uma pesquisa social de caráter qualitativo e adotados parâmetros da Comunidade Ampliada de Pesquisa, adaptada para o ambiente virtual - CAP on-line (Santos et al., 2022). Para coleta de dados, realizaram-se duas oficinas virtuais, no período de dezembro de 2022 a março de 2023 com 10 professores da educação básica e em exercício de direção sindical pertencentes a dois sindicatos docentes do Rio de Janeiro. Quanto ao perfil dos participantes, foram três do sexo masculino e sete do feminino com idades entre 35 e 55 anos e vínculos de trabalho em escolas da rede pública e privada; a experiência profissional variava de 5 a 30 anos, mesmo período de atuação sindical. Quanto à análise dos materiais foi efetuada por meio da análise de conteúdo temática (Minayo, 2013), sobressaindo quatro categorias: mudanças no trabalho em escolas, tempo tecnológico de trabalho, saúde nos rescaldos da pandemia e o papel pedagógico da vigilância sindical pela saúde. Nesse escopo de investigação, adotou-se a seguinte pergunta de pesquisa: Quais foram as principais mudanças ocorridas no trabalho de professores do ensino básico e suas repercussões à saúde em contexto pandêmico e pós-pandêmico?

Resultados e Discussão
Dos diálogos empreendidos com professores sindicalistas sobressaíram quatro categorias empíricas de análise: Mudanças no trabalho escolar na era digital. No tocante ao processo de trabalho docente, o uso do aparato tecnológico representa uma significativa mudança que se agravou em contexto de pandemia e que diz respeito à autointensificação e novas exigências precarizadas de trabalho que afetam a subjetividade e a sociabilidade dos professores. Harvey (2013) chama atenção para o fato de que as tecnologias produzem novos metabolismos sociais, forçando mudanças e adaptações no trabalho. Tempo tecnológico de trabalho. Ganhou destaque o tema da “hora tecnológica”, compreendida como o tempo laboral dispensado fora do horário contratual de trabalho, devido ao uso de tecnologia da informação e comunicação. Essas alterações sucedidas no tempo de trabalho docente parece atender, segundo Antunes (2020), ao que se convencionou chamar plataformização do trabalho, cujo aspecto central diz respeito à indivisibilidade entre tempo de trabalho e tempo livre. Saúde nos rescaldos da pandemia. Considera-se o período de “rescaldo pandêmico” a fase que sucede o período crítico da pandemia e o abrandamento dos riscos de contaminação, mas com o agravamento do receio de contágio, ansiedade e estresse pós-traumático, manisfestações de sintomas relacionados à saúde mental. O papel pedagógico da vigilância sindical pela saúde. No Brasil, vivenciou-se consequências de políticas erráticas e conflitantes durante a pandemia, o que reforça o papel pedagógico da crítica e contestação sindical com a participação ativa da base de professores nas ações de vigilância nos locais de trabalho, bem como, adoção de informações com bases científicas para se intervir no trabalho (Jackson Filho et al., 2020).

Conclusões/Considerações finais
Concluí-se que o mundo do trabalho passa por mudanças profundas de natureza tecnológica com efeitos nos processos de trabalho e na saúde, contradições próprias do capitalismo que foram aprofundadas no período pandêmico. Por certo, vive-se ainda no pós Covid-19 uma outra pandemia: a de adoecimento mental no trabalho, sem uma vigilância sistemática nas escolas como política pública por parte dos governos. Assim, são recomendadas formas de monitoramento participativo nos locais de trabalho que acompanhem os índices de afastamento por motivo de saúde, mesmo em períodos de “normalidade” sanitária. Os processos de vigilância em saúde do trabalhador e a mitigação das causas da nocividade do trabalho somente obtém sucesso quando acompanhados das condições objetivas para o exercício real da democracia nos ambientes de trabalho. É no sindicalismo que o corpo docente faz o enfrentamento das pressões oriundas do trabalho e cria resistência política com vistas a ação em perspectiva coletiva.

Referências
Antunes R. (2020) ¿Cuál es el futuro del trabajo en la era digital? Observatorio Latinoamericano, 4:12-22.
Harvey D. (2013). Para entender o Capital. São Paulo: Boitempo.
Jackson Filho JM et al. (2020). A saúde do trabalhador e o enfrentamento da COVID-19. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional.45(e14).
Marques, Ana P. et al. (2022) Trabalho e nomadismo digital: práticas, sentidos e regulações. Uma introdução. Revista critica de ciencias sociais, Coimbra, n. 129.
Minayo, M.C.S. (2013). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. (13a ed.). São Paulo, SP: Hucitec.
Santos, G. et al. (2022). Comunidade Ampliada de Pesquisa em ambiente virtual (CAP on-line) sobre trabalho e saúde docente. Saúde em Debate, 46(132).

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