53592 - "A GENTE É INVISÍVEL, SIM": SOFRIMENTO PSÍQUICO DE PROFESSORAS E AUXILIARES DE CRECHE DE UM MUNICÍPIO DA BAIXADA FLUMINENSE/RJ LILLIEN SANTANA DA SILVA ALMEIDA - ENSP/FIOCRUZ, JOVIANA QUINTES AVANCI - ENSP/FIOCRUZ, CRISTIANE BATISTA DE ANDRADE - ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Professoras lidam diariamente com questões ligadas às condições de trabalho, tais como: a gestão escolar, a responsabilidade pelos alunos (e crianças pequenas), a baixa remuneração, a carga horária intensa, além das questões burocráticas que fazem parte da rotina escolar. Esta pesquisa parte da Educação Básica, especificamente, a creche, nível de ensino que tem particularidades que não estão presentes em outros segmentos, como a carga horária diferenciada para as profissionais, a presença de auxiliares de creche e o cuidado muito particular às crianças.
O trabalho na creche é permeado por questões como a subjetividade que cada criança traz, a relação com as famílias e demais colegas de trabalho, a baixa remuneração, a falta de funcionários e escassez de materiais essenciais para o trabalho pedagógico. Esses fatores são considerados como elementos chaves para o crescente número de educadoras em sofrimento psíquico, que está em um limiar entre a saúde e a doença, e caracteriza-se fundamentalmente por uma experiência subjetiva de mal-estar inespecífico, com repercussões fisiológicas e psicológicas.
Objetivos Objetivo Geral
• Compreender as condições e a organização do trabalho na creche e suas relações com o sofrimento psíquico de professoras e auxiliares do município da baixada fluminense, Queimados/Rio de Janeiro.
Objetivos Específicos
• Conhecer os principais aspectos do sofrimento psíquico relatados pelas professoras e auxiliares de creche;
• Discutir como a questão das relações de gênero está articulada ao trabalho docente e sofrimento psíquico.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa sobre como as condições e a organização do trabalho docente na creche estão relacionadas ao sofrimento psíquico de professoras e auxiliares. A pesquisa foi realizada no município de Queimados/RJ que possui apenas três creches municipais. Participaram da pesquisa 13 profissionais, sendo 06 professoras e 07 auxiliares de creches, sendo 04 profissionais em cada creche (02 auxiliares e 02 professoras). Em uma das creches, uma profissional que não participaria da entrevista manifestou desejo em participar.
A escolha da técnica recaiu pela entrevista semiestruturada pela forma que pode ser conduzida, oferecendo as participantes a liberdade de se expressar sobre o tema abordado, possibilitando ao pesquisador “amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante” (Triviños, 1987, p. 146). Para a análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo temática, realizada a partir das seguintes categorias: condições de trabalho, trabalho na creche, relações de trabalho e saúde mental.
Resultados e Discussão Os resultados apontam que, na categoria condições de trabalho, a maioria foi unânime em afirmar que se sentem desvalorizadas enquanto profissionais, sendo um dos fatores a falta de plano de carreira, má remuneração, falta de funcionários que acarreta a sobrecarga de funções, e as instalações das unidades em que atuam que não foi planejado inicialmente para ser uma creche. Outro aspecto apontado é que com a defasagem do salário não conseguem buscar outras realidades, pois, mal conseguem pagar as contas necessárias para sobrevivência e sobre a disparidade do salário existente entre as duas funções.
No que tange às relações interpessoais, com os demais membros da equipe, a maioria delas pontuou que tem um bom relacionamento com as demais colegas, crianças e familiares, salvo algumas exceções. Ressaltam o apoio e o trabalho em parceria com as colegas, que é essencial no dia a dia para lidarem com as mais diversas situações.
Os resultados demonstram que as auxiliares de creche tendem a falar mais sobre as condições de trabalho e como isso afeta diretamente a saúde mental. Algumas delas relataram sofrer crises de ansiedade ao se deslocar para o trabalho, ou até mesmo na creche, tendo sido amparadas pelas colegas. É perceptível que a maioria entende que adoecimento e sofrimento mental estão relacionados diretamente a alguma patologia. Contudo o processo de sofrimento psíquico não corresponde a um diagnóstico, compreendendo que para cada uma a realidade traz reações diferentes. Christophe Dejours (2017, p.32), aponta que “[...] boa parte das consequências do sofrimento mental no trabalho não se manifesta sempre no local de trabalho”, e que isso acontece, pois não tem como o sujeito escolher o local que estará em sofrimento e nem como se dará os sintomas e consequências dele.
Conclusões/Considerações finais A pesquisa proporcionou a visibilidade e a importância da discussão sobre o tema, no entanto, a falta de pesquisas no âmbito da creche e dados que relatam a realidade das creches brasileiras e principalmente dessas mulheres que cuidam de crianças pequenas ressalta a falta de ações e políticas públicas. Portanto, este estudo destaca a importância de reconhecer e abordar o sofrimento psíquico enfrentado por professoras e auxiliares de creche. Pois, a saúde mental dessas profissionais não só impacta diretamente o seu bem-estar, mas também influencia a qualidade do ambiente educacional e o desenvolvimento das crianças.
Como toda pesquisa, houve algumas limitações como a dificuldade na entrada em uma das creches e o tempo que as participantes tinham para participar da pesquisa. Portanto, políticas e práticas que ofereçam suporte emocional e que reconheçam a importância do trabalho emocional na profissão, são cruciais para mitigar o sofrimento psíquico e fomentar ambientes de trabalho mais adequados.
Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo. Edições 70, 2016.
DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. 1 ed. Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas, 1999.
DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho: casos clínicos. 1 ed. Porto Alegre: Dublinense, 2017.
MINAYO, M. C. S. Amostragem e saturação em pesquisa qualitativa: consensos e controvérsias. Revista Pesquisa Qualitativa, São Paulo, v. 5, n. 7, p. 01–12, 04 abr. 2017. Disponível em: https://editora.sepq.org.br/rpq/article/view/82. Acesso em: 04 fev. 2023.
NÓVOA, A. O passado e o presente dos professores. In: NÓVOA, A. Profissão professor. 2 ed. Porto: Porto Editora, 1995. p. 15-34
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