Roda de Conversa

05/11/2024 - 08:30 - 10:00
RC8.15 - E como fica a saúde do trabalhador?

52973 - ANÁLISE DAS ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NA VIDA COTIDIANA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE DO NORDESTE BRASILEIRO, NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19
MARIA HELENA MACHADO - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA (ENPS/FIOCRUZ), FRANCISCO ROSEMIRO GUIMARÃES XIMENES NETO - UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA), LAYSE FERNANDES QUEIROZ VASCONCELOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC), EVERSON JUSTINO PEREIRA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA (ENPS/FIOCRUZ)


Apresentação/Introdução
O mundo do trabalho da saúde, por conta dos frágeis vínculos empregatícios, do aumento da terceirização e precarização das relações de emprego e trabalho, dupla ou tripla jornada de trabalho, da violência e discriminação sofrida pelos profissionais tem levando-os a vulnerabilidade e mesmo adoecimento, sobretudo mental.
Os profissionais da saúde, a exemplo os da Enfermagem, segundo de Paz et al. (2023) já vinham adoecidos, mesmo antes da pandemia de Covid-19 e que esta contribuiu ainda mais com o aumento significativo das responsabilidades e do adoecimento relacionado à prática profissional.
Este fenômeno é atribuído ao estresse no ambiente de trabalho, devido à exposição ao vírus SARS-CoV-2, bem como ao aumento das horas de trabalho para atender às crescentes demandas assistenciais e das pressões emocionais na realização de uma variedade de tarefas laborais, que podem causar angústia psicológica, agravada pela proximidade com o sofrimento dos sujeitos e de seus cuidadores.
A pandemia de Covid-19 exacerbou as precárias condições de trabalho desses profissionais, demandando investigações adicionais para uma compreensão mais aprofundada da realidade e para a proposição de medidas visando a melhoria dessas condições (Machado et al., 2020).


Objetivos
Descrever as características sociodemográficas e as alterações da vida cotidiana dos profissionais da saúde, durante a pandemia de Covid-19.

Metodologia
O presente trabalho utiliza dados da pesquisa “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil”, coordenada por Machado (2020/2021), sendo um diagnóstico detalhado da situação dos profissionais da saúde, por meio de estudo transversal, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (CEP/ENSP) com parecer nº 4.081.914.
A pesquisa foi realizada de modo on-line, utilizando o método de amostragem “bola de neve”, um tipo de amostra não probabilística, que apesar de apresentar limitações buscou acessar os profissionais da saúde de diversos cenários de práticas e regiões brasileiras, desde os grandes centros urbanos aos locais mais remotos, o que não garantia a precisão da amostra.
Na pesquisa foram entrevistados, 15.132 profissionais de todas as profissões (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, por exemplo); no entanto, este recorte trabalhará apenas com os dados secundários dos sujeitos da Região Nordeste do Brasil, com uma amostra de 3.371 profissionais da saúde. O recorte dos dados destaca o perfil sociodemográfico e as alterações ocorridas na vida dos profissionais da saúde durante a pandemia de Covid-19.



Resultados e Discussão
O estudo compreende diversas categorias de profissionais da saúde da Região Nordeste do Brasil, predominando os seguintes dados: 65,9% são enfermeiros, seguido pelos médicos (13,6%), Cirurgião-dentista (6,5%) e Fisioterapeuta/Terapeuta Ocupacional (6,1%); 80,9% são do sexo feminino, mostrando a feminilização da força de trabalho em saúde; 41,7% estão na faixa etária de 36 a 50 anos, considerada fase de “maturidade profissional” por Machado et al. (2016), seguida da faixa etária de 26 a 35 anos, 37,%, denominada fase de “formação profissional”; 51,8% se autodeclaram pardos e, 38,6% brancos.
Quanto às alterações que ocorreram em suas vidas durante a pandemia de Covid-19, têm-se o seguinte: Perturbação do sono, como insônia ou hipersonia, 16,5%; Incapacidade de relaxar/Estresse, 11,6%; Irritabilidade/Choro frequente/Distúrbios em geral, 13,0%; Dificuldade de concentração ou pensamento lento, 10,1%; Perda de satisfação na carreira ou na vida/Tristeza/Apatia, 8,7%; Alteração no apetite/Alteração do peso, 8,4%; Sensação negativa do futuro/Pensamento negativo, suicida, 8,0%; Não apresento nenhuma alteração significativa, 6,2%; Perda de confiança em si, na equipe ou no trabalho realizado, 5,8%; Aumento no consumo de medicações, álcool ou bebidas energéticas, cigarro, 5,5%; Dificuldade de experimentar felicidade, 5,1%; Depressão/Ansiedade, 0,4%; Cansaço extremo/Fadiga/Desânimo, 0,2%; Cefaleia/Dores em geral, 0,2%; Medo/Pânico, 0,2%; Outros, 0,2%.
Compreendemos que muitos dos sintomas são decorrentes do estresse e da exaustão física causados pelas exigências profissionais e emocionais, bem como pela repetição das atividades e responsabilidades (Alves et al., 2021).


Conclusões/Considerações finais
A pandemia de Covid-19 influenciou na ressignificação do processo de trabalho, bem como nas condições de trabalho e vida dos profissionais da saúde, afetando-os em seus modos de viver e de labore. Tal mudança, alterou significativamente no processo de saúde-doença-trabalho-cuidado e na qualidade de vida, levando os profissionais a crises e adoecimento, apontando a necessidade de um maior suporte pelas instâncias empregadoras, para a redução da precarização e do sofrimento mental, com apoio e suporte especializado.
Os resultados apontam a necessidade de formulação de políticas públicas no âmbito da gestão do trabalho no SUS, não somente para o período da pandemia, mas para os anos vindouros, com o aumento dos índices de adoecimentos dos profissionais da saúde.


Referências
ALVES, Nágila Silva et al. Riscos Ocupacionais e seus Agravos aos Profissionais de Enfermagem: revisão integrativa da literatura. Revista de casos e consultoria, v. 12, n. 1, p. e25687-e25687, 2021.
MACHADO, Maria Helena, coordenadora. Pesquisa: Condições de trabalho dos profissionais de saúde no contexto da Covid-19 no Brasil. Rio de Janeiro: ENSP/CEE-Fiocruz, 2020/2021.
MACHADO, Maria Helena et al. Enfermagem em tempos da COVID-19 no Brasil: um olhar da gestão do trabalho. Enferm Foco, v. 11, n. spe1, p. 32-39, 2020.
MACHADO, Maria Helena et al. Características gerais da enfermagem: o perfil sociodemográfico. Enfermagem em Foco, v. 7, n. ESP, p. 9-14, 2016.
PAZ, José Bruno Paiva et al.. Avaliação das Condições de Trabalho, Riscos e Violência com Técnicos de Enfermagem no Ambiente Hospitalar. SAÚDE PARA TODOS: Uma abordagem integral para a saúde coletiva. 1° edição. Iguatu – Ce. Quipá Editora. 2023.

Fonte(s) de financiamento: Nenhuma


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